ressaca, por reymond

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por um momento, a mente de jiyong ficou branca e preocupada. precisava falar em inglês, língua cujo domínio era por parte de seunghyun, e ele não estava lá.

— estou só... olhando. — assegurou, descendo a máscara preta para poder falar melhor. — estou só olhando.

felizmente, aquela era uma frase fácil. mas ele não estava tão confiante de que conseguiria manter um diálogo fluente com aquela mulher, que assentiu com a cabeça ao apoiar a bochecha na mão direita. ele sorriu de volta por educação, notando com mais atenção os seus fios de um loiro brilhante e a pele branca. era uma mulher de aparência muito diferente em relação ao padrão sul-coreano, mas não era um diferente que lhe causava desconforto. não era como londres.

jiyong mal teve tempo de voltar a concentrar sua atenção no quadro que estava a ver, que representava a bela e viciante paisagem de um mar em ressaca — era esse, inclusive, o título da obra: ressaca, por reymond. —, antes de ser interrompido por um fonema de surpresa seguido de uma voz dotada de um forte sotaque britânico:

— oh, peaceminusone?

ele se virou imediatamente ao ouvir o título que o trouxera até o reino unido. constatando que havia sido reconhecido, assentiu com a cabeça.

— é uma... honra. — a loira deixou o balcão com um sorriso, vindo na direção do kwon para um aperto de mãos. a visão daquela moça vindo ao seu encontro com tanta educação fez com que ele se sentisse agradecido, porque ela claramente estava se controlando e estava fazendo isso para deixá-lo confortável. ao apertá-las, jiyong notou o quão pequenas eras as mãos dela, e o quão gordinhos eram os seus pequenos dedos. — meu nome é diana. diana reymond.

na mosca.

— espero que esteja gostando. — seus olhos verdes se desviaram dos de jiyong para analisar o ressaca. um sorriso orgulhoso invadiu seus lábios, um sorriso que ele entendia bastante. — eu sou a autora desses quadros.

o rapaz piscou, sem entender uma parcela importante da última frase. chutou que ela estava falando sobre os quadros apenas porque suas pequenas mãos os indicavam conforme falava. quando se está dentro de um diálogo feito por meio de uma língua que não se conhece, é essencial prestar atenção até no menor dos gestos. era o famigerado contexto.

— você faz? — perguntou erroneamente em inglês, por não saber o verbo conjugado. mas diana assentiu, parecendo perceber a dificuldade do rapaz em entender o que ela falava. de fato, ela precisava falar em uma linguagem mais simples para que ele fosse capaz de entendê-la sem maiores problemas. — eu realmente gostei.

e era algo que era verdade, tanto porque diana era talentosa quanto porque ele conseguia entender as emoções momentâneas dela claramente conforme analisava os quadros que ela pintava, independentemente do que a moça estivesse sentindo. jiyong percebia as suas mudanças de humor até mesmo pelo modo como ela pincelava com a tinta.

ele foi contemplado com um largo sorriso por parte da loira.

— obrigada. fique à vontade.

jiyong deixou o ateliê com um cartão e o ressaca gravado em sua mente. ele tinha sentido uma estranha afeição por aquele quadro, que retratava com cores frias a calma paisagem de uma praia cujas ondas batiam umas contra as outras com uma violência assustadora. o mesmo quadro transmitia emoções opostas: era algo visualmente calmo e conceitualmente latente, o que fazia com que, diferentemente das outras obras, jiyong não soubesse dizer o que diana estava sentindo quando o pintou.

aquele sentimento de incompreensão fazia sua mente pipocar, pensando no quão complexas poderiam ser as emoções daquela moça. aquela moça que, com suas pequenas mãos e grande talento, haviam realmente chamado sua atenção.

colors; kwon jiyongOnde histórias criam vida. Descubra agora