O acidente

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        Nova Iorque, 1992. Éramos em três: Eu (Jane Smith), John e Mel. Com 32 anos eu já era considerada a oitava mulher mais poderosa e influente do mundo, e não me faltava nada. A cada semana os negócios da empresa só melhoravam, eu tinha minha estabilidade financeira totalmente alcançada e puramente invejada pelos amigos que haviam se formado comigo; mas isso não era o bastante - eu sabia que não era.
        Eu trabalhava com tecnologia, e depois de toda a crise mundial gerada pela aflição gélida de uma guerra regida pelo mesmo princípio há menos de um ano, eu me via na necessidade de aumentar a representatividade e a importância de se ter um computador pessoal com acesso à internet. Através da sua utilização, as pessoas poderiam buscar refúgio, e fazer daquilo algo rotineiro, como algo de uso para o seu próprio lazer.
        Mel era a nossa única filha, tinha 7 anos de idade, era um doce de menina e nunca havia nos dado trabalho. Seus olhos eram azuis como o oceano, e seus cabelos eram enrolados de maneira tal que o comparávamos à proporção áurea. Era apaixonada por esportes, e o seu favorito era o skate - ela realmente era muito boa naquilo. Nós levávamos ela para inúmeras competições do esporte, e tínhamos o orgulho de poder gritar o nome dela ao ver as notas altas que ela tirava.
        John e eu trabalhávamos juntos, ele era o diretor da empresa. Conquistou o seu primeiro milhão com 27 anos de idade, e aos 37 fez desse número 947 vezes maior - era um dos homens mais ricos do mundo. Ele era extremamente focado, e dizia que a procrastinação e a falta de educação financeira eram os motivos da falta e dificuldade de enriquecimento do povo. Todos os dias nós passávamos um bom tempo juntos, ele era compreensível e extremamente sensato.
        Lembro-me daquele dia como se fosse ontem: era tarde da noite, eu me prostrava no sofá da sala do nosso apartamento no Upper East Side, onde pela janela eu conseguia enxergar a bela cena da gigantesca floresta de concreto, iluminada com todos os seus arranha-céus que percorrem o perímetro do Central Park, suas festanças e pessoas gastando tudo o que tinham em busca dos prazeres do mundo. John ainda não havia voltado, e como era de costume, eu o esperava chegar pontualmente às 3 horas da manhã, visto que ele saía das incontáveis e vagarosas reuniões de fechamento da empresa - A The Trendy Networking. Recebi uma ligação do hospital das clínicas, e a partir daí tudo mudou.
        Tudo de repente escureceu, foi um choque. Eu não conseguia respirar, era como se meus pulmões gritassem de desespero por mais oxigênio, meus olhos reviraram de maneira tal que a única coisa a qual eu consegui enxergar foi Mel, que se mostrou de pé na escada com o seu cobertor arrastado e seu ursinho no peito, absolutamente assustada. Meu desmaio não durou muito, e o clamor de Mel por ajuda rapidamente alertou os responsáveis pelo condomínio, que se dispuseram a nos ajudar com água e algumas palavras de conforto, mas que de nada adiantaram, já que eu me sentia completamente desolada.
        O médico nos explicou o que aconteceu: John havia saído do trabalho, e como de costume pesou o pé no acelerador, pegando mais de 3 multas durante o percurso. Ele bateu de frente com uma motocicleta que andava transversalmente à sua posição, foi fatal. Acabou por ser diagnosticado com traumatismo craniano, mas eu não encontrava forças para ver seu cadáver. Mel e eu não conseguíamos parar de chorar, tudo parecia ser mentira.

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