Titto tenta inclinar-se um pouco para o lado e ver além do gordo rude na sua frente. As esferas que ele vira no quarto moviam-se lentamente e à luz do televisor, começavam a notar-se umas longas garras pretas por cima do ombro do pai.
- Monstro! - O pequeno grita aterrorizado, apontando o indicador para a enorme figura em pé na sua frente, mas estava na verdade a apontar para trás dele.
- O que é que me chamaste fedelho?! -o pai responde com um rugido, baixando-se ao nível da criança, que tosse ao inalar o odiondo bafo do gordo sujo, com a boca roxa perto da sua face rosada e pequenina.
- Não, eu... - O homem bofeteia Titto, que recua e cai de rabo no chão; leva a mão à face dorida e marcada pela mão firme do pai e roda os olhos quase em lágrimas aos olhos negros do homem, obeservando-o descer o braço e agarra-lo pela frente do pijama de corpo inteiro que a mãe lhe comprara quando ele fizera cinco anos na semana anterior.
Titto sente o seu corpo ser levantado do chão e levado pendurado até ao fundo do corredor; mais concretamente, ao quarto onde ele odiava estar.
- Eu não te disse para desligares a televisão?! - Mais um rugido com bafo de dragão do pai, fazendo-lhe os vómitos vir ao de cima e a tosse que se juntava à festa. Titto olha o pai e abre a boca para responder, mas acaba por gaguejar com o pavor, frio e das lágrimas que lhe rolavam pelo rosto.
- N... não. - Era verdade. O pai não lhe tinha dito nada. Simplesmente deixara-se dormir com o televisor ligado e levantara-se a meio da noite para bater na mulher. Titto não tinha culpa.
Outra bofetada. Desta vez, no outro lado da face; agarra-o pela cabeça e atira-o contra a cama, encostada na parede.
- Amanhã trato de ti! - Ruge. A voz dele era prometedoramente aterrorizante e dava-lhe uma certa vontade de pegar na máquina de costura da mãe e, de alguma forma, passá-lo por baixo da agulha e coser-lhe a boca, para que não saíssem mais baboseiras nem entrasse nenhuma das substâncias tóxicas - que Titto às vezes desejava que o levassem logo desta para melhor - mas por seu azar, não estava autorizado a mexer na máquina da costura.
A porta do seu quarto é puxada com um gemido e fechada; o trinco dá um estalo, indicando que foi trancado.
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O Monstro debaixo da minha cama
FantasyTitto é um menino que vive com os pais alcoólicos e abusadores. Para os evitar, ele encerra-se no seu quarto e é lá que encontra um monstro que lhe vai salvar a vida.