O Monstro debaixo da minha cama

pt.4

Titto fita a sombra do pai afastar-se da porta e virar a meio do corredor. A única fonte de luz com que ele contava estava agora extinta, obrigando-o a esperar pela manhã para ter segurança. Os seus ouvidos captam a porta do quarto ao fundo fechar, e os gritos da mãe darem inicio ao cuco da sala que anunciava serem três da manhã.
   Ele passa a mão por baixo da fria almofada. "Onde está?". O seu coração acelerava e a densa escuridão não ajudava . A faca que tinha tirado do faqueiro da cozinha e que tinha guardado de baixo da almofada, não se encontrava lá.
   Mas onde estava?
   Debaixo da cama?
   Ele não tinha coragem para espreitar. Apalpou a cama à procura de Cornie, saltando de susto ao sentir algo nos dedos e quase o derrubar da cama, ao perceber que era o pelo do  seu velho amigo.
   Acolhendo-o nos braços, ouve a porta do armário ranger à frente da cama. Puxou imediatamente os lençóis e cubriu-se por completo - não que isso o fosse proteger de alguma coisa, mas às vezes ajudava.
   Um peso sobre a cama ao fundo dos seus pés faz as molas do colchão chiarem e fá-lo encolher as pernas ao nível da barriga, mantendo-se em posição de defesa. Vem uma lembrança rápida de uma caixa de música que a mãe punha a tocar quando ele era bebé e tenta lembrar-se de onde a guardara.
   A gaveta!
   Ele tinha-a guardado na gaveta da mesinha de cabeceira perto da cama.
   "Coragem". Ele prepara-se mentalmente para colocar um braço fora dos cobertores e pega-la.
    No momento em que ele se sente confiante, um grande suspiro animalesco - parecido ao de um búfalo - soa pelo quarto, deixando os cabelos da nuca dele em pé.
   Com o braço já fora da coberta, Titto fica pedrificado, sem conseguir sequer puxá-lo de volta.
   O pequeno geme de medo e respira fundo. "Recompõe-te" - pensa.
   Ainda conseguia sentir o peso ao fundo da cama. Fecha os olhos e rapidamente abre a gaveta e puxa a caixinha de música para baixo dos cobertores.