O Monstro debaixo da minha cama

Capítulo 1

Ouviam-se pequenos passos descalços no corredor - o chão estava frio e o vento de inverno fazia-se ouvir lá fora, assobiando assombrosamente - os passos eram cada vez mais apressados e dirigiam-se apenas a uma divisão da casa. Todas as divisões naquela casa eram igualmente aterradoras para o pequeno Titto, mas ele fazia questão -porque tinha que ser - de passar por elas, se isso fosse garantir a sua segurança.
Felizmente a casa só tinha rés-do-chão, então só previsava de atravessar um corredor, que aos olhos dele, tinha milhas de distância.
Os passos param.
Ele ergue o peito, respira fundo, aperta o velho e amarelo urso de peluche nos seus braços e olha por cima do ombro, para o seu quarto escuro e agora abandonado - mais ou menos.
Desvia uma mecha de cabelo negro e ondulado da frente dos seus olhos castanhos cor de avelã, e fitava o quarto escuro ao fundo do corredor.
Duas esferas verdes e brilhantes debaixo da cama fazem os seus olhos arregalarem-se e as pupilas dilatarem, os cabelos da sua nuca ficarem eriçados e a pele do seu rosto tornar-se pálida. As esferas moviam-se na imensa escuridão debaixo da cama de madeira.
Volta-se de novo para a frente, dá mais alguns passos apressados, passando rapidamente pela entrada da sala, onde um velho televisor se encontrava ligado em cima de um móvel pequeno, também ele de madeira. Titto começava a irritar-se com a estática do aparelho sem sinal, e ainda mais o irritava olhar para o sofá onde o pai dormia e bebia álcool durante o dia.
Mais uns passos em direção à outra ponta do corredor, que parecia demorar uma eternidade a percorrer.
Os gritos desesperados da mãe já se faziam ouvir.
O menino crescera a ouvir esses gritos durante a noite, mas com apenas cinco anos, não se preocupava em saber o que os provocava.
O seu destino - uma enorme porta de madeira de carvalho - estava cada vez mais perto.
Dois ultimos passos. Ele estica o braço direito na esperança de ser grande o suficiente para chegar à dourada maçaneta, segurando Cornie, o ursinho de peluche, com a outra mão.