capítulo 1

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Antártida, Agosto de 2017.

Elizabeth

Me levanto da cama automaticamente como todos os dias, sem um pingo de cansaço físico, mas do cansaço mental não posso falar o mesmo. Ele me acompanha desde que eu era bem pequena, desde que eu perdi tudo o que eu tinha.

Fazem 15 anos que eu estou nesse inferno de lugar, já passei por todos os tipos de experiências. Comecei a ser cobaia de laboratório aos sete anos e desde então minha vida tem sido horrível. Não tem um dia que eu não pense em como seria se eu não tivesse sido capturada, não tem um dia que eu não tenha pensado em como eu pude deixar a minha mãe morrer sem fazer absolutamente nada. Eu tinha poder para impedi-los, mas eu não fiz absolutamente nada.

Hoje em dia eu sei do que sou capaz. Eu sou uma máquina de matar, e foi por isso que eles me capturaram. Para ser a arma deles. Fiz muitas coisas que me arrependo e não sei como tive coragem de fazer mas... eu não tinha escolha. Ou eu fazia o meu "trabalho" ou eu não conseguiria o que eu desejei durante anos da minha vida.

Com 12 anos eu decidi sair desse lugar, mas não era tão fácil quanto eu pensava, demorou cerca de dois anos pro meu plano ficar perfeito, já estava tudo certo pra minha fuga, mas eu não contava ver no mesmo dia da minha liberdade o homem que assassinou a minha mãe, o homem que espancou a minha mãe na minha frente até alguém me tirar do laboratório dela e nunca mais a ver. Eu sabia que era ele no mesmo momento que eu o vi, não tive dúvidas quando vi a sua tatuagem na pescoço. Naquele momento eu não pensava mais em fugir, não pensava mais na minha liberdade, não pensava mais em viver como uma garota normal eu.... só pensava me vingar da pessoas que destruiu a minha vida.

A partir daquele dia eu me esforcei pra ter a confiança dos meus carcereiros, fazia de tudo pra agradar, me voluntáriava pra participar dos treinamentos, não fazia objeções aos testes que eles faziam diariamente em mim. Eu virei o que eles querias, o soldado perfeito. Um exemplo a ser seguido. Mas não um exemplo bom, não pra mim. Eu fazia tudo o que eles mandavam, inclusive matar. Eu era a arma secreta deles, quando o trabalho era pesado era eu quem resolvia a situação. Não me orgulho disso, mas foi necessário.

Hoje em dia com ,20 anos de idade, eu tenho total controle dos meus poderes, sei atirar como ninguém, sou ágil, a prova de balas, treinada em todos os tipos de lutas e sei falar mais línguas do que eu posso contar. Eu sou, como eles dizem, o soldado perfeito. Tudo que eles queriam, eles conseguiram. As minhas custas. Mas o que eles não sabem é que a própria criação deles se voltará contra os mesmos, e isso está prestes a acontecer.

Hoje será o dia. Depois de 6 longos anos o assassino da minha mãe voltará e essa será a minha oportunidade de vingança.

Eu vou acabar com ele lento e dolorosamente igual ao que ele fez com a minha mãe. Ele vai pagar por cada lágrima que saiu do rosto dela, ele vai pagar por cada roxo em sua pele e ele vai pagar por cada pingo de sangue que caiu do seu corpo. E eu o cobrarei com juros.

-Shadow? - Fui despertada dos meus devaneios pelo meu parceiro de equipe, Edward.

-Fala. - disse assim que abri a porta do meu quarto.

-Sala de treinamento daqui a 10 minutos - falou e foi embora. Fico olhando pro corredor até perder Edward de vista. Me perdendo em pensamentos de novo.

Faz tanto tempo que eu não escuto meu verdadeiro nome que nem me lembro a última vez que o ouvi. Assim que cheguei nesse lugar começaram a me chamar de experimento Shadow, e assim ficou até hoje. Shadow quer dizer sombra, e eu fui treinada pra ser exatamente uma. Com o tempo fui me acostumando com o nome e hoje em dia ninguém me chama mais de Elizabeth, Eliza ou Lizzie tanto faz, na verdade acho que nunca fui chama pelo meu nome aqui, eu sempre fui Shadow, eles só conhecem a Shadow.

Paro de pensar e entro no meu quarto, se é que se pode chamar isso de quarto. O pequeno cubículo só tem uma cama e um pequeno armário aonde guardo minhas poucas roupas que só utilizo para treinamento e os meus uniformes de campo.

Saio do quarto pronta para ir a sala de treinamento ver o que o querem comigo. Não me lembro de ter feito nenhuma merda pra me chamarem lá tão cedo, afinal meu treino era pra daqui a 2 horas.

Abro a porta da sala de treinamento de uma vez só, impondo a minha chegada. Aprendi aqui que se você não é o caçador vc vai ser a caça, então não tive muita escolha ao optar ser o caçador, aqui é como em uma selva, cada um por si, tentando sobreviver do jeito que der. Não foi muito difícil chegar ao "topo" aqui. Afinal... com os meus poderes eu poderia chegar a qualquer lugar.

-Que o senhor - disse com desdenho - quer comigo.

Meu superior, Marcos, olhou pra mim com raiva e disse:

-Acho melhor você pensar bem como irá falar com o seu superior Pirralha - falou e em seguida foi para o lado de uma mulher que até então eu não tinha visto.

-Sim senhor - Vi que ele notou meu sarcasmo mas o mesmo ignorou e pediu para que eu me aproximasse.

-Essa é a Verônica, nova integrante da sua equipe e a mais nova Hacker da nossa instalação. Trate ela bem, não é sempre que temos uma beldade dessa na nossa instalação - falou mandando olhares nada discretos pra nova agente que pelo visto recebeu de bom grado.

Ao meu ver Marcos tava querendo traçar a novata. Ele não elogiaria alguém de graça.

-Ok. Era só isso? - disse sem paciência

-Não. Você vai ser a guia/instrutora dela por uns dias até ela se acostumar com as instalações. ...

-Pera - disse o interrompendo - eu vou ter que ser babá da novata? É isso mesmo?

-Pelo visto gostou da notícia - olha o sarcasmo dando o ar da graça aí - já podem ir.

-Mas... - tentei argumentar. Mas o idiota do Marcos mandou eu calar a boca e mostrar logo de uma vez a instalação pra novata.

Segui pra fora da sala com sangue nos olhos. Só me faltava essa, ser babá de uma mulher da minha idade. Acho que na verdade ela deve ser um pouco mais velha que eu. Esse Verônica não era tão mais alta que eu, pra falar a verdade nós somos quase do mesmo tamanho, ela tem cabelos pretos curtos, na altura do ombro, pele clara, olhos castanhos e um corpo definido... sinal de muito treinamento. Ela parece ser uma boa agente mas não estava nos meus planos ficar sendo seguida por ela pra tudo quanto é lado. Afinal ... eu tenho que botar o meu plano em prática.

-Presta atenção novata - disse parando de andar e parando na frente dela - Eu não tô aqui pra ser babá de ninguém, eu tenho coisas muito mais importantes pra fazer do que ser sua guia. Eu vou te mostrar o seu dormitório e o resto você se vira. - Não tava com muita paciência e não notei o quanto arrogante eu fui. Mas não iria me desculpar, quanto mais raiva ela sentisse de mim mais logo ela ficaria.

-Você é idiota assim com todo mundo ou só com os novatos? - disse me olhando nos olhos, nada intimidada por mim. Por essa eu não esperava, a morena é afrontosa.

-Vou fingir que não escutei isso, não quero que você comece seu primeiro dia de olho roxo - se ela acha que é a "pica das galáxias" é pq ela ainda não me conhece.

-Duvido muito que você conseguisse tal proeza - A mulher tava querendo treta mesmo em. Única explicação.

-O que vc quis dizer com isso?

- Quis dizer que você não tem capacidade de conseguir me ferir.

Soltei uma risada escandalosa que eu aposto que ecoou pela base toda. Essa mulher tem demência só pode. Ela com certeza não sabe quem eu seu, pq se soubesse não cantaria de galo na minha área.

-Então vamos tirar esse história a limpo - disse enquanto ria, só que agora menos - me encontre na sala de treinamento daqui a 10 minutos, vamos ver se você é tão boa quanto diz.

-ok. Estarei lá. - falou com um sorriso presunçoso.

Virei de costas pra ela e segui pelo corredor pensando o que eu poderia esperar da novata. Ela parecia bem confiante mas isso não me intimida, vamos ver quem vai se dar bem. Mas eu garanto que não será ela.


















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