Capítulo Um: Sete Horas

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        Taylor Anderson acordou com o toque do despertador. Eram sete horas da manhã, do primeiro dia de férias de Taylor. Levantou-se com um salto, lavou os dentes, pôs protetor solar e vestiu uma camisa branca sem mangas e uns calções de ganga. Viu-se ao espelho, e enccontrou o que esperava ver: uma rapariga alta, de cabelo loiro aos caracóis e olhos azuis, queimada pelo sol, mas não excesssivamente, com uma expressão feliz e nada cansada.

        No verão, Taylor costumava deitar-se mais cedo do que em tempo de aulas, para poder levantar-se cedo e desfrutar do dia ao mais possível. Era por isso que tinha o despertador marcado para aquela hora da madrugada.

        Comeu uma torrada com manteiga e bebeu um copo de leite, saindo em seguida, sem acordar os pais. Eles não podiam dar-se ao luxo de deitar-se cedo, dado à hora tardia a que chegavam a casa e ainda ao trabalho que tinham para fazer antes de dormir. Taylor ajudava, claro, mas eles deixavam-na ir dormir quando chegavam as 21h30.

        Antes de sair, verificou a caixa de areia e deixou alguma comida e água em duas tigelas pequenas, destinadas ao gato. Era sempre Taylor quem cuidava do pequeno animal de estimação, pois os pais não tinham tempo para lhe dedicar, e ela tinha insistido muito para ter o gatinho.

        **

        Taylor sabia bem onde se dirigia: perto da sua casa, havia um grande prado que, no verão, se cobria de margaridas. Desde os onze anos que passava os longos dias de verão no prado com a sua vizinha e melhor amiga, Mary Andrews. Ia precisamente encontrar-se com Mary naquele momento.

        Pelo caminho, ia imaginando a cara da amiga: um sorriso gigante por baixo das sardas, os olhos verdes sorrindo por si só, mostrando a alegria de estar de férias. O cabelo, castanho, muito comprido e liso, esvoaçando sempre que saltava - o que acontecia muitas vezes. Mary deitava alegria e energia cada vez que respirava. Era o que Taylor mais gostava na amiga. No entanto, quando outras pessoas estavam por perto, Mary era até bastante calada. A personalidade extrovertida da amiga era um segredo das duas.

        Taylor e Mary viviam numa pequena aldeia, com meia dúzia de casas e um restaurante, para além de um parque infantil e uma igreja. De resto, haviam pequenos terrenos vazios e o grande prado. Para ir à escola, precisavam de ir até à cidade mais próxima, que ficava a 6km. Tinham de se levantar cedo para percorrer todo o caminho no autocarro e chegar a tempo, às 9h30 da manhã.

        Não vivia muita gente na aldeia: para além das famílias de Mary e Taylor, estava uma família com dois irmãos gémeos de catorze anos, dois anos mais novos que elas. Havia também um casal sem filhos e dois casais idosos. Taylor e Mary tinham acabado por se juntar por falta de companhia, mas, agora, não trocariam a companhia uma da outra por nada no mundo. 

        Ao chegar ao prado, Taylor encontrou tudo menos aquilo que esperava. Não uma Mary enérgica e feliz, aos saltos a celebrar a chegada do verão: uma Mary abatida, deitada no chão, sem olhar para nada nem ninguém à sua volta. Uma Mary completamente desligada do mundo.

        -Então, o que se passa contigo? - perguntou Taylor, preocupada.

        Mary não respondeu.

        -Mary... - chamou Taylor, pacientemente.

        -O que é que queres? - Mary não estava assim tão paciente.

        -O que é que se passa? - perguntou Taylor, sem perder a calma.

        -Nada - Mary voltou-se para o outro lado.

        -Mary, eu sei que alguma coisa não está bem.

        -Queres mesmo saber? - atirou Mary, voltando-se finalemente para Taylor, e encarando-a com olhos nos olhos - Os meus pais vão levar-me embora daqui!

Summer (Short Story 2014)Onde histórias criam vida. Descubra agora