Capítulo Três: Cinco Estrelas

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        -Já reparaste que eles têm cinco estrelas gravadas na lapela da farda? - disse uma voz atrás de Mary, referindo-se aos empregados.

        Mary deu um pequeno salto, tendo sido apanhada de surpresa pela voz.

        -Cole! Não tens mais ninguém para chatear? - replicou ela, aborrecida.

        -Já me tinha esquecido do teu mau humor! -  argumentou ele levantando as mãos ao ar - pronto, não te chateio mais, mas tens razão, não há mais ninguém aqui para chatear.

        Mary olhou em volta. Ele tinha razão, Mary era a vítima mais fácil.  Para além dela, não havia ninguém menor, e não lhe parecia que Cole se fosse meter com adultos.

        Apesar de tudo, Mary decidiu não ficar muito zangada com ele. Ele parecia ser um poço de informações, sempre a surgir de onde menos se esperava, e mesmo sem querer admitir, Mary queria saber mais sobre o hotel.

        -Então, como é que sabes tantas coisas sobre isto aqui? Os teus pais são donos disto, ou assim?

        -Não, não. Não sou assim tão rico - ele desviou o olhar, encarando o chão, e levou uma mão ao bolso - Só que venho para cá ano sim ano não, desde pequeno, já sei os cantos à casa.

        -E dizes tu que não és rico...

        -Pronto, já começou outra vez.

        -Não, não, espera...! Quando é que reparaste naquilo da lapela?

        -Quando tinha dez.

        -Impressionante... E há mais alguma coisa com as cinco estrelas?

        -Já reparaste na entrada do restaurante? E no elevador?

        -Impressionante...

        -Se me permites a pergunta, o que é que é impressionante?

       -O facto de não lhes bastar ter as cinco estrelas, mas também precisam de andar a fazer lhes propaganda!

        -Lá está ela! - exclamou ele, irritado - Possas!

        -Os ricos também dizem possas?

        -Já te disse que não sou rico. Agora vais tomar o pequeno almoço ou não vais?

        -Vou. Acho que tenho uma conversa mais interessante com cereais do que contigo. Há cereais aqui, ou o pequeno almoço é à base de trufas e caviar?

        -Servidos com puré de tâmara e açafrão - ele riu-se, com descrença - Os cereais e o leite estão na mesa do centro. E devias saber que não se come caviar ao pequeno almoço.

        Mary virou-lhe as costas, ligeiramente ofendida. Afinal, tinha sido ele a procurá-la e a começar a conversa. Ela era apenas uma vítima apanhada desprevenida.

        **

        -Onde foste, Mary? - perguntou o seu pai, quando ela se sentou à mesa do pequeno almoço.

        -Fui apanhada por um idiota - respondeu ela - Sabias que não se come caviar ao pequeno almoço?

Summer (Short Story 2014)Onde histórias criam vida. Descubra agora