Capítulo Cinco: Três Palavras

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        -Estás bem?

        -Acho que sim... - confirmou Mary, recuperando os sentidos, lentamente.

    À medida que as ideias se tornavam mais claras na sua mente, ela ia recordando os momentos antes de se deixar engolir pela água. Observar Cole na cadeira dos nadadores salvadores tinha sido um choque para ela... E ainda era. Cole... Tinha sido ele a perguntar se ela estava bem! E era ele que estava ali a falar com ela! A sua raiva voltou...

        -O que é que queres?

        -Calma aí! Acabei de te salvar a vida, podias ao menos agradecer! Possas, só tu, mesmo!

        -Foste tu?

        -Claro que fui. Porque outra razão estaria aqui?

        -Para me aborreceres, é o que sabes fazer melhor!

        -Isso é mentira.

        -Claro que é...

        -Bem, adeus... Não tenho paciência para te aturar.

        -Espera! - Mary segurou-lhe na mão - Obrigada...

        -De nada.

        Cole preparava-se para se ir embora quando Mary lhe pegou no braço outra vez.

        -Espera! Não sabia que eras nadador salvador.

        -Nem precisavas de saber.

        -Porque é que não me contaste?

        -Oh...

        -Diz lá!

        -Por nada... - ele viu nos olhos dela que ela não ia desistir tão cedo - Era para não pensares mal de mim, pronto, já disse!

        -Porque é que haveria de pensar mal de ti?

        -Porque não tenho dinheiro para vir para aqui de férias, como tu. Só venho para trabalhar. Os meus pais também trabalham aqui. O meu pai é rececionista e a minha mãe é cozinheira.

        -Eu também não vim para aqui porque tenho dinheiro. Ganhei a viagem num concurso!

        -A sério? Porque é que não me contaste?

        -Achei que todas as minhas piadas anti-ricos o tinham explicado...

        -Pois, nisso tens razão... Olha, amanhã quando eu acabar o meu turno da tarde, queres ir até à praia? Isto é, se os teus pais deixarem, claro! - sugeriu ele.

        -Está bem.

        **

        Às seis da tarde do dia seguinte, Cole passou pelo quarto de Mary para lhe dizer que tinha acabado o turno. Mary tinha conseguido a autorização para ir com ele, visto que ele era nadador salvador e a podia ajudar se houvesse algum acidente como o da manhã do dia anterior.

        -Então, terceiro dia aqui, hem? - comentou Cole, enquanto atravessavam a ponte de madeira.

        -É... E está a ser tão horrível como o primeiro e o segundo...

        -Nunca mais te convido...

        -Nunca te pedi para me convidares.

        -Mas vieste - disse ele, com um sorriso de esguelha.

        -Insististe tanto... - apesar de tentar mostrar descrença, Mary não conseguiu evitar sorrir também.

        -Se quiseres assim tanto, podes ir embora agora mesmo.

        -Ná, não me apetece.

        -Então não fales.

        -Já me calei.

        -Acabaste de falar!

        -Oh pá...

     Foi no momento em que proferia estas palavras que Mary abrandou o passo, até chegar mesmo a parar. A longa ponte de madeira abanou um pouco, no sentido do vento. 

        Ligeiramente surpreendido, Cole voltou-se para Mary e perguntou-lhe diretamente:

        -Queres voltar para trás? Passa-se alguma coisa?

        -Não... Só que... - começou ela, hesitante.

        -Só que o quê?

        -Todas estas discussões, sempre a apareceres por trás de mim... ontem salvaste-me a vida e agora convidaste-me a vir até aqui... Porquê?

         Foi a vez de ele hesitar, esperar um pouco e fitar o horizonte... Metendo as mãos nos bolsos, acabou por dizer:

        -Se eu te der duas, dás-me três palavras?

        -Depende de quais sejam as duas...

        -Mary, eu... Eu amo-te...

        Mary sorriu, hesitando outra vez... Sabia bem quais as três palavras a dizer:

        -Também te amo...

Summer (Short Story 2014)Onde histórias criam vida. Descubra agora