A vida da morte

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Sinto o fim vindo em direção ao meu corpo.

Sinto a flecha disparando em busca da caça.

Sinto o ar se desmanchando.

Sinto as peças incompletas como a de um carro em manutenção.

Essa é a minha última respiração e o ar fica frio em uma tarde de calor.

É o fim do tempo e vejo o seu olhar de prazer sobre aquele ato.

Minha última sensação foi algo atravessando o meu corpo seguido de um disparo.

Eu vivenciei um jato de sangue se desfazendo no ar, meu corpo caiu sem sua sustentabilidade e os ossos também caíram e se quebraram.

A carne humana jogada em meio a poça de sangue e o meu olhar aberto e congelado,voltado para o céu.

Era o último som de uma vida.
Coisas se quebrando em dois,o sangue tocando o chão,meu corpo em queda.
Uma música de encerramento.

E é como se houvesse uma vida inteira passando em segundos.

Então ,pela primeira vez, não havia céu ou pássaros.

Não havia força ou como se reerguer.

Ouvi seus sapatos, perto de meus ouvidos, se afastando cada vez mais e correndo sobre a avenida .

Eu ouvi o seu carro se desviando da sujeira que você fez.

Senti meu corpo se decompondo lentamente,senti a ventania e as folhas velhas e escuras das árvores caindo sobre minha face.

O barulho da descoberta e caos estavam espalhados ao meu redor.

Pessoas comentando e com inúmeras emoções.

Meu corpo sendo retirado do local e transportado.

Ouvi o barulho de algumas lâmpadas se ascendendo e desligando ,canetas assinando documentos,choros e espantos de meus conhecidos desconhecidos.

Ouço carros se movimentando,buzinas tocando em meio a um repouso e um movimento de meu corpo para prosseguir.

Sinto algo tocando sobre minha pele e meu rosto com suavidez.

Meu corpo está em uma espécie de caixa e pessoas equilibram o seu movimento.

A campina é vasta e sinto a vegetação tocando as minhas 4 laterais .

As coisas param,um discurso de faixada se anuncia ,o fim de um mundo e de uma dinastia.

Falsas palavras e ações para uma norma social .

São regras para serem seguidas e quando a cerimônia acabar, é hora do triunfo final.

Diversas pessoas se juntaram para assistir a morte de um insignificante servo.

Dentro de segundos a caixa se fechou.

A caixa não estava mais suspensa,ela descia lentamente assim como uma pedra é atirada sobre um oceano.

Ela desce e desce,mas parece que nunca acha seu ponto de apoio.

Senti algo tocando aquele caixa de madeira que me envolvia por completo.

Podiam ser pedras ou rosas atiradas sobre meu escudo, que me separava da vida e da morte.

Eu senti a terra me cobrindo cada vez mais,até que eu fiz parte da terra.

Uma lápide falsa sobre minha cabeça sendo colocada ,assim como os status sociais.

Uma alma morta também precisa de um discurso para encorajar o fim.

Precisa de atenção,do se festival de celebração e de seu discurso marcante.

E quando os passos sobre mim se afastaram ,poderia se ouvir as piadas,os outros assuntos e as pessoas voltando sua vida normal como se nada tivesse ocorrido.

Demônios e pragas ajudaram na decomposição a longo prazo.

E as minhas caixas não podem se desintegrar,pois uma poluiria o solo com minha carne podre e fria  e a minha mente,essa acabaria com a história.

Para sempre acabado -  Poemas parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora