Capítulo 9

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Férias. Finalmente meus merecidos vinte dias de descanso. Não que meu trabalho fosse tão exaustivo assim, mas juntando a correria da faculdade e minhas noites com Lorenzo... eu realmente precisava de uma parada para respirar. E principalmente, eu precisava de um tempo para pensar.

E era isso o que eu fazia agora, enquanto passava algumas roupas, ocupando meu tempo livre nessa manhã de sábado. Lorenzo estava na empresa e essa era uma das coisas que estava me deixando um tanto agoniada. Há três semanas Stella se mudou e desde então Lorenzo permanecia mais em meu apartamento que no dele. E isso não me incomodava, de forma alguma. Muito pelo contrário. Eu estava adorando ter sua companhia, cuidar dele, ouvir sua risada ou sua voz melodiosa cantando no banheiro.

Ele insistiu muito para que eu fosse morar com ele, e apesar de muito apaixonada e cada vez mais dependente de sua presença, eu me obriguei a pensar racionalmente e recusei. Mas não me opus quando aos poucos ele foi se infiltrando em meu apartamento. Hoje convivíamos como um casal já casado. Tanto que nesse exato momento eu passava uma de suas dezenas de camisa que fiz questão de lavar a mão.

Posso parecer doméstica e submissa demais, mas a verdade é que sempre preferi lavar minhas roupas à mão, deixando a maquina cuidar apenas das peças mais pesadas. Funcionava como uma terapia para mim. Porém, eu teria que terminar essa tarefa antes que Lorenzo chegasse. Ele ficava realmente chateado quando me via cuidando de suas coisas, dizendo que eu não era empregada dele. Aliás, se dependesse dele, juntaria todas as nossas roupas e mandaria para uma lavanderia.

Ele se esquece, às vezes, de quem pode esbanjar dinheiro é ele e não eu. E eu jamais ia permitir que um homem ficasse pagando minhas contas. Pelo menos ele entendia e respeitava meu posicionamento. A verdade é que Lorenzo era bom demais para mim e me tratava como uma rainha.

Entretanto, nos últimos dias eu o tenho notado um tanto irritado, meio aéreo... distante. Eu cheguei a perguntar se estava acontecendo alguma coisa e ele apenas respondeu que nada grave, e que eu não deveria me preocupar. Mas como não me preocupar se eu o sentia se mexer na cama a noite inteira? Se eu percebia sua tensão quando atendia o celular? Meu primeiro pensamento, obviamente, foi que ele estivesse se cansando de mim... talvez tivesse até outra mulher.

Mas eu não o estava prendendo aqui. Da mesma forma que ele veio, poderia partir a hora que quisesse. Não quero dizer com isso que eu não ia sofrer. Claro que ia, afinal eu já o amava. Mas do que ia adiantar tentar prender uma pessoa que já não estava mais interessada?

Eu não fazia ideia do que poderia ser, mas alguma coisa estava acontecendo... e ele estava me escondendo. Eu realmente não sabia o que fazer. E para piorar, hoje seria o casamento de Kiara. Mesmo de férias, ela insistiu para que eu cuidasse dela, então no dia anterior eu fui até o Centro de estética para atende-la. Ela estava exultante, explodindo de felicidade, mas reclamou da rabugice do irmão que seria padrinho dela. Eu esperei ansiosamente que ela dissesse o motivo de ele estar tão razinza, mas infelizmente ela não disse nada de relevante, apenas implorou para que eu o deixasse mais relaxado.

Suspirando, um tanto insatisfeita, eu desliguei o ferro e o coloquei de pé. Peguei as camisas que tinha acabado de passar e as pendurei nos cabides, levando até o armário do closet. Eu estava voltando para a área de serviço quando a porta foi aberta e Lorenzo surgiu à minha frente com um ar cansado e ao mesmo tempo irritado.

—Oi.

Falei quase num sussurro, com os olhos cravados em seu rosto. Ele deu um sorriso fraco, fechando a porta e colocando a pasta de couro sobre o sofá.

—Ei...

Ele parou à minha frente e deixou um beijo em meus lábios.

—Está tudo bem? Você me parece abatido.

Enganos - Degustação -Estreia 01/04/2018Onde histórias criam vida. Descubra agora