Capítulo 10

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Aquela sensação amarga ainda permanecia em minha boca assim que acordei. Olhei para o lado, constatando que Lorenzo ainda dormia, de bruços, com o lençol cobrindo para baixo de sua cintura. Ele estava completamente nu como sempre dormia e a vontade de acordá-lo era grande demais, porém eu não conseguia ignorar aquela sensação de que algo não estava bem.

Silenciosamente eu sai da cama, andando descalça até o banheiro, onde fechei a porta com cuidado. Observei meu rosto no espelho sobre a pia, vendo meus cabelos revoltos e meus lábios inchados pelos beijos da noite e madrugada. Fechei meus olhos com força, tentando segurar minhas lágrimas. A sensação era forte demais. Algo estava acontecendo e Lorenzo estava escondendo de mim. Talvez fosse o caso de eu tomar a iniciativa e pedir para que ele não ficasse mais aqui. A dor seria menor? Com certeza não.

Sem saber ao certo o que fazer, eu me aliviei, escovei os dentes, mas enquanto eu executava essa tarefa, eu senti as lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto. Decidi então que um banho seria melhor para tentar aliviar a tensão. Prendi meus cabelos bem no alto da cabeça e entrei sob a ducha morna.

Eu me abracei, abaixando a cabeça e deixando que a água morna escorresse pelas minhas costas. Eu nem tive tempo de começar a pensar nos motivos que levavam Lorenzo a agir daquele jeito quando a porta do box foi aberta. Eu ergui a cabeça, obviamente já sabendo que era ele à minha frente. Seu rosto amarrotado denunciava que ainda sentia sono, mas eu voltei a baixar meus olhos, não querendo que ele percebesse minhas lágrimas.

Mas nem isso eu consegui. Logo eu estava colada ao peito másculo, com seus braços fortes à minha volta.

—O que aconteceu? Por que saiu da cama tão cedo?

—Perdi o sono. Mas pensei que você estivesse dormindo ainda.

Minha voz saiu tão fraca e desanimada que tenho a certeza de que ele percebeu que algo estava errado comigo.

—Eu sinto quando você não está perto. Mesmo que eu esteja dormindo.

Ele se afastou para olhar em meu rosto, mas eu permaneci com a cabeça baixa, até que ele suspirou e segurou meu queixo, me forçando a erguer a cabeça. Seu olhar varreu meu rosto, parando em meus olhos e assim ficou por um tempo, perscrutando... tentando descobrir o motivo de minhas lágrimas. É... eu ainda não tinha conseguido segurá-las.

—O que houve, Sherrie? Por que está chorando?

Eu afastei a mão dele com raiva. Não era possível que ele estivesse mesmo me fazendo aquela pergunta.

—Não seria o contrário, Lorenzo? Eu quem devo perguntar o que está acontecendo? Eu não sou boba... sei que tem alguma coisa acontecendo e você está escondendo de mim.

—Sherrie...

Ele tentou me tocar novamente, mas eu ergui minha mão. Agora que comecei eu iria até o fim. Nunca suportei ficar sufocando minhas frustrações, meus medos e inseguranças. Eu tinha que falar, colocar para fora, ainda que dissesse alguma besteira e depois tivesse que me desculpar.

—Seja sincero comigo como sempre foi... ou pelo menos você dizia que era sincero.

—Eu sou sincero com você, Sherrie. Que droga... eu disse que está tudo bem.

—Você disse, mas eu sei que não está. Ontem você esteve tenso o tempo todo na festa. Seu pai me olhava de um jeito estranho e aquela sua amiga não tirava os olhos de você.

—Ela não é minha amiga... é amiga da família.

—Que se dane. — Eu gritei e ele deu um passo para trás. Eu nunca agi assim antes. — Lorenzo... se você não me quer mais, se está interessado em outra mulher, por favor me diga agora. Não me deixe fazer papel de palhaça.

Enganos - Degustação -Estreia 01/04/2018Onde histórias criam vida. Descubra agora