Capitulo 15

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Vida sem cor, vazia, sem sentido. Perdida dentro de mim sem encontrar um porto seguro onde eu pudesse me abrigar. Esse, certamente era o cenário que muita gente imaginou para mim. E confesso, até eu mesma me imaginei assim: na sarjeta, no fundo do poço. Para ser bem honesta, eu jamais imaginei que conseguiria seguir em frente depois de tudo... depois do furacão Lorenzo em minha vida. Aliás, minto. Eu sabia que sim, um dia eu conseguiria seguir em frente. Eu só não imaginava que ia conseguir seguir de cabeça erguida, sem me jogar na cama e chorar por dias, me entupindo de chocolates para curar a ausência. Não vou dizer que não sofri, afinal eu amava Lorenzo. Doeu...doeu muito e ainda dói.
Entretanto, o que me irrita mais é me lembrar das minhas atitudes. É me lembrar do quanto ignorei meu amor próprio, ferindo minha dignidade. Hoje, dois meses após o casamento de Lorenzo e Giovanna, eu entendo o quanto fui tola. Em minha defesa, digo que não fui totalmente tola. Era apenas uma mulher que amava demais. Amava demais um homem que fez sua escolha por outra mulher. Uma mulher que amava demais um homem... e se amava de menos.
Eu estive lá, na igreja, vendo o único homem que amei na vida se unir a outra mulher. As lembranças daquele dia me trazem emoções estranhas, coisas que não gostaria de lembrar, mas que estavam ali bem vívidas.
***
Minhas mãos trêmulas mal conseguiam segurar a pequena bolsa em frente ao meu corpo. Meu corpo também trêmulo mal se segurava de pé enquanto eu aguardava o derradeiro momento. Bem lá no fundo eu ainda tinha esperança de ouvir o "não" na voz de Lorenzo. Ao meu lado, ao mesmo tempo em que me apoiava, Viccki e Matheus me recriminavam. Eu não tinha que estar ali... eu não devia estar ali.
Meus olhos marejavam enquanto eu observava Lorenzo no altar., aparentemente calmo, mas frio... distante. Era como se apenas o seu corpo estivesse ali... a sua alma estava em algum lugar obscuro, totalmente inalcançável. A dor em meu peito ao ver Giovanna caminhando com toda sua graça até ele foi lancinante. Ao mesmo tempo em que eu queria correr dali eu queria avançar sobre aquela mulher e gritar que aquele homem era meu. Sempre foi desde a primeira vez em que nos vimos.
Mas eu apenas assisti, impotente, ao casamento do meu homem com outra mulher. Quando o padre proferiu a fatídica pergunta dirigida a Lorenzo, eu baixei meus olhos, apertando minha bolsa com mais força ainda, rezando silenciosamente para que ele pensasse em nós e dissesse não. A resposta demorou mais tempo do que eu imaginava e por isso ergui meus olhos. E foi exatamente nesse momento que o vi o casal se olhar nos olhos e ele responder... sim.
Ali, meu mundo desmoronou. Senti braços à minha volta e para ser sincera, não sei como sai da igreja. Eu apenas me lembro de chorar feito criança, encolhida no colo de Viccki enquanto Matheus acariciava meus cabelos dizendo que tudo ficaria bem.
Chorei a noite inteira e no dia seguinte o que eu tinha era apenas uma imensa dor de cabeça. Mas havia também uma resignação, uma força que eu não sabia possuir. Apenas dois dias depois seria minha formatura. E eu que batalhei tanto para chegar àquele ponto, merecia curtir aquele momento. Não nego que durante a cerimônia meu olhar percorreu a plateia na esperança de encontrar o olhar de Lorenzo. Obviamente não encontrei. E foi assim que fechei as portas do meu coração para minha história com Lorenzo.
***
Fechei meus olhos, um leve sorriso brincando em meu rosto enquanto sentia o sol em minha pele. Suspirei, sentindo a calmaria percorrer meu corpo, provocando um leve torpor.
—Nada de dormir, Sherrie. Temos muita coisa para fazer hoje.
Eu apenas abri um dos olhos, olhando na direção de Matheus. Se eu fosse olhar o pique dele, ficaria vinte e quatro horas percorrendo praias e bares. Mas eu não estava reclamando disso, muito pelo contrário. Estava adorando a viagem e a companhia.
Após minha formatura, aproveitando que minhas férias estavam por vir, comecei a procura por um lugar onde pudesse desfrutar de boas praias. Logo Viccky e Matheus se juntaram para me ajudar na procura. Entusiasmado, Matheus me convenceu a aceitá-lo como companhia.
A Polinésia Francesa foi o destino escolhido e aqui estamos nós, desfrutando desse paraíso que é Bora Bora.
—Sei disso, Matt. Mas eu preciso de alguns minutos sob esse sol. Vitamina D, meu querido. É tudo o que eu preciso.
—Deus me livre. —Respondeu Matheus sob o grande e colorido guarda-sol. –Não que eu não goste de sol, mas diretamente assim sobre a pele é algo totalmente desnecessário.
Eu apenas ri e voltei a fechar meu olho. Não conseguia entender como alguém que não é muito amigo do sol decidi vir para uma praia como essa. Aliás, eu sei sim, embora na maioria das vezes eu me faça de boba. Percebia muito bem como Matheus vinha arrastando asa para mim, mas como ele nunca se declarou abertamente, eu fingia não ver.
Gosto dele, é bonito e interessante, mas não estou à procura de um relacionamento agora. Embora raramente eu pensasse naquele que destruiu meu coração, eu não me sentia preparada para investir em um romance agora. Então seguíamos apenas como amigos. E no fundo eu agradecia por Matheus parecer entender e não forçar muito a barra. Ele sequer tocava no assunto, ao contrário de Viccky, que insistia em dizer que eu precisava conhecer novas pessoas. E por "pessoas", entenda-se "homens".
—Já decidiu para onde iremos hoje à noite?
Perguntei sentindo minha voz um pouco enrolada, meu corpo quase se entregando ao sono
—Sim. Andei pesquisando e descobri um lugar que parece ser muito agitado. Tudo o que precisamos.
—Precisamos?
—Sim, Sherrie. Precisamos. E não reclame.
Eu ri, pensando se eu realmente precisava de um agito à noite, depois de passar a tarde toda na praia. Mas como eu sabia que ele não aceitaria um não como resposta, apenas comecei a treinar minha mente para o agito de mais tarde.
***
Havia uma coisa da qual eu não podia reclamar: Matheus sabia exatamente como se divertir, e consequentemente fazer com que sua companhia se divertisse também.
Girando em volta do meu próprio corpo, segurando na mão de Matheus, eu dançava e cantava alegremente, erguendo a outra mão que segurava um copo com uma bebida que não lembrava o nome, mas que era simplesmente fantástica.
No entanto, por mais que eu estivesse me divertindo, vez ou outra eu sentia um incômodo, uma sensação estanha, como se alguém me observasse. Mas logo em seguida eu ignorava a sensação, tentando me convencer de que eu estava apenas levemente alterada pelo álcool.
—Matheus... — Falei ficando na ponta dos pés para falar em seu ouvido. – Preciso ir ao banheiro. Segure para mim e não saia daqui. Não quero perde-lo.
Percebi nitidamente seus olhos brilharem, apaixonados, provavelmente por causas das minhas palavras. Ele, com certeza, deu um outro sentido ao que eu disse. Por isso me afastei rapidamente e fui em direção ao banheiro feminino.
So la dentro percebi que eu estava levemente tonta. Lavei minhas mãos e passei um pouco de água na minha nuca, olhando meu rosto no espelho. Minhas bochechas estavam rosadas e meus olhos levemente avermelhados. Era hora de parar e chamar Matheus para voltarmos ao hotel.
Abri a porta do banheiro e parei subitamente, segurando o grito que veio do fundo da minha alma. O que ele estava fazendo aqui?
—Sherrie...
A voz me arrepiou da cabeça aos pés, e os olhos me encaravam profundamente.
—O que você está fazendo aqui?
As palavras escapuliram antes que eu pudesse evitar. Eu não queria saber... não queria ver... não queria estar perto desse homem. Meu coração batia descompassado e eu precisei inspirar profundamente.
—Não importa. – Falei tentando passar por ele que estava com os braços abertos impedindo minha passagem. – Deixe- me passar.
—Não. Eu... eu sinto sua falta.
—Eu... como você ousa? Você...
Não tive chance de proferir todos os insultos que queria lançar a ele pois uma voz nos interrompeu.
—Oh meu amor... você está aqui. Estava louca à sua procura.
Eu encarei fixamente o olhar enraivecido de Lorenzo antes de voltar meus olhos para a mulher ao seu lado e encontrar o sorriso triunfante de Giovanna.

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⏰ Última atualização: Sep 21 ⏰

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Enganos - Degustação -Estreia 01/04/2018Onde histórias criam vida. Descubra agora