Capítulo 5

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As semanas seguintes foram exaustivas. O movimento na clínica, que já era intenso, ficou ainda maior e eu tinha a impressão de que isso em parte se devia à propaganda que Kiara fazia com suas amigas. Muitas delas mencionavam seu nome quando nos procuravam pela primeira vez. Os horários estavam cada vez mais apertados e com isso eu ficava exausta. Não era raro cochilar nas aulas da faculdade, o que me levou a conversar com Victoria.

Não queria ser desleixada em meu trabalho, mas ao mesmo tempo também não queria negligenciar meus estudos. Dessa forma, minha agenda foi um pouco reduzida, e nessa última semana eu já conseguia permanecer mais ativa nos estudos.

No entanto, em meio a tanta correria, havia os momentos descontraídos e deliciosos que Lorenzo me proporcionava. Nas últimas três semanas almoçamos juntos quase todos os dias, não sendo possível apenas quando ele tinha algum almoço de negócios. Nos dois últimos finais de semana saímos para jantar e em seguida ele me levou para casa. E confesso... aquilo estava me deixando frustrada.

Parecia meio contraditório para quem fugiu de Lorenzo nos primeiros dias, com medo de ser feita de idiota mais uma vez. E principalmente, com medo da intensidade, do magnetismo daquele homem. Ele vinha se comportando como se fosse meu irmão mais velho, ou um primo que queria proteger a prima de algum mal caráter. Ele nem de longe parecia aquele homem que insistiu tanto para sair comigo.

—Você está tão calada. Está acontecendo alguma coisa?

A voz suave de Lorenzo chegou aos meus ouvidos e eu girei a cabeça, olhando seu perfil, já que ele estava com o olhar fixo no trânsito. Ele era realmente um homem deslumbrante e quando girou a cabeça para me encarar brevemente, eu quase suspirei.

—Por que está perguntando isso?

—Geralmente você é mais comunicativa. Ainda trabalhando em excesso?

—Não. Eu estava pensando em você... em nós.

Ele franziu a testa e seu olhar adquiriu um brilho de preocupação.

—Eu fiz ou falei algo que a magoou? Se eu tiver feito, por favor, me diga para que eu possa tentar corrigir isso.

—Você não se sente atraído por mim?

A pergunta saiu antes que eu pudesse pensar e assim impedir as palavras, fazendo Lorenzo arregalar os olhos completamente surpreso e eu arregalar os meus por causa da minha estupidez.

—Mas... que maluquice é essa que você está dizendo?

—Eu não estou dizendo. —Falei, já que não havia como puxar minhas palavras de volta. —Estou perguntando.

—E qual o motivo de uma pergunta tão... tão absurda?

—Não é absurda. Mas, sei lá. Você nunca nem tentou... me beijar.

Senti meu rosto queimar vergonhosamente e desviei o olhar, permanecendo como eu estava antes, olhando as ruas através da janela. Lorenzo não respondeu nada, mas eu pude sentir seu corpo tenso ao meu lado, mesmo não estando tão próximo a mim. Olhei-o de soslaio e percebi suas mãos pressionando o volante com força. Pegando-me de surpresa, ele girou rapidamente o volante, fazendo um retorno proibido e refazendo o mesmo caminho na pista contrária.

—O que está fazendo?

—Voltando.

—Mas... e nosso jantar?

—Precisamos conversar e eu preciso de privacidade. Pedirei nosso jantar, se não se importa.

—Não, mas...

Enganos - Degustação -Estreia 01/04/2018Onde histórias criam vida. Descubra agora