Enganos - Degustação -Estreia 01/04/2018

Capítulo 11

Eu ouvia o som incessante, mas minha mente não registrava corretamente de onde vinha o barulho irritante. Depois de ler a notícia bombástica, eu fui até a cozinha, tentando em vão segurar uma garrafinha com água. Minha garganta queimava, não sei se realmente pela sede ou se pelo bolo que se formava ali, e que a qualquer instante explodiria em forma de lágrimas. No entanto, eu sequer cheguei a beber a água, jogando a garrafa na pia ao ver que aquela era a marca preferida de Lorenzo. Minha geladeira estava lotada delas, compradas por ele. E eu teria que arrancá-las de lá e jogar no lixo.

Mas eu me limitei a voltar para a sala e deixei meu corpo cair pesadamente no sofá, meu olhar fixo em um ponto qualquer, mas sem realmente enxergar qualquer coisa.
Por quê? Por que ele me apunhalou pelas costas daquele jeito? Será que eu valia tão pouco assim que seria facilmente descartada sem qualquer explicação? Eu merecia um pouco mais de consideração! O que diabos ele estava pensando?

E eu dei chance a ele de me contar... várias vezes. Meu Deus... que tipo de homem era Lorenzo Campanaro? Como ele conseguia mentir, fingir tão bem? Como ele conseguia agir como um perfeito canalha ao mesmo tempo em que se mostrava um homem apaixonado? Desgraçado! Justamente aquela mulher! Agora estava explicado porque ela não tirava os olhos dele. Estava explicado o olhar estranho que recebi do pai dele. Canalha! Canalha!

—Ah!

Eu gritei, fechando minhas mãos e curvando meu corpo para frente. Minha respiração estava ofegante e eu sentia o ódio percorrendo minhas veias. Geralmente eu não era tão passional, mas eu não ia permitir que homem nenhum me fizesse sofrer novamente. Não ia! Eu comecei a rir ao mesmo tempo em que finalmente liberava meu choro. A quem eu queria enganar? Eu já estava sofrendo, merda! E tudo isso por causa de um filho da puta mentiroso.

Eu agarrei meu celular com raiva, percebendo que ele continuava tocando com insistência. Claro, era Vicki. Depois eu ia conferir para ver se ele teve a cara de pau de me ligar.

—Você sabia, não é Vicki?

Perguntei assim que atendi a ligação, ouvindo o suspiro dela do outro lado.

—Você sabe que eu sempre leio o jornal pela manhã. Estava na primeira página. Desculpe, Sherrie.

—Por que está se desculpando? Você só tentou me alertar, mas eu procurei na internet e li a notícia do ano.

—Como você está? Quer que eu vá aí para lhe fazer companhia?

—Eu ainda estou...atordoada... com ódio. Não sei o que pensar ou fazer.

—Ele nunca deu nenhum sinal, Sherrie? Meu Deus... ele parecia tão apaixonado.

—Ele andava estranho sim, mas conversamos. Eu perguntei se havia outra mulher, se ele não me queria mais... e ele negou, Vicki! —Eu gritei as últimas palavras. —Ele malditamente negou que o problema fosse esse. E agora está noivo daquela mulher. Da mesma mulher que ele garantiu que era apenas uma amiga da família. Meu Deus... eu poderia mata-lo agora.

—Olha... precisamos conversar pessoalmente. Eu não estou entendendo nada. Mas só aviso uma coisa, ele com certeza vai te procurar para dar alguma desculpa. Esteja preparada... e se não quiser falar com ele agora... nem abra a porta.

Imediatamente meus olhos desviaram para a porta. Lorenzo ainda estava com a chave, mas ele não conseguiria entrar se eu passasse a corrente. Eu pulei do sofá e fui até a porta fazendo exatamente isso.

—Podemos almoçar juntas?

—Ok. Eu preciso mesmo conversar ou vou explodir.

—Tente se acalmar, Sherrie. E por favor... se por acaso conversar com ele, tente se controlar. Não faça nada que possa se arrepender mais tarde.