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Não revisado

Ao passar das semanas acabei por perder o medo de fumar haxixe.
Todos os dias no centro jovem eu fumava um pouco com a turma de Namjoon. Eles acabaram me aceitando, mesmo com uma certa diferença de idade entre eu e eles.
Acabou que fui apelidado de O pequeno, mas eu estava em uma turma.

A parte mais legal era que todos ali eram tranquilos uns com os outros.
Minha turma era diferente da dos bêbados, que se agrediam. Na nossa turma ninguém gritava. Ninguém reclamava da vida ou discutia arduamente como outras turmas.
Nossa turma era a mais legal.

Nós nos encontrávamos todas as noites. Fumávamos haxixe ou maconha e bebíamos conversando sobre a política e a sociedade. Nos sentíamos grandes filósofos depois de altos. E então quando dava onze horas uma parte da turma que era aprendiz de alguma profissão ia para casa nos dias de semana e restávamos eu, Namjoon, Wang e Lee.
Nós andávamos por Berlim sem muito rumo ainda bêbados e drogados e ríamos alto da cara dos burgueses no metrô quando nos avistavam, eram detestáveis.

Eu e Namjoon íamos de metrô juntos a todo lugar, geralmente fumando, fumávamos na escola, bebíamos à tarde e nos drogávamos à noite. Passei a admirar os viciados, eles sempre pareciam misteriosos e absurdamente sábios sobre a vida. Eram pessoas intimidadoras. Eu gostava de ser intimidador quando era menor então logo os tomei como referência.
Queria me vestir como eles, falar como eles, andar como eles... Queria ser como os garotos que já estavam nas drogas a anos.

Quando não havia mais nada a se fazer no centro jovem (que logo foi apelidado de centro de drogados) nós perambulávamos por Berlim, olhávamos nós quatro (eu, Namjoon, Wang e Lee) e pensávamos o quão sortudos nós éramos por não ser como os burgueses que passavam por nós com o nariz empinado na rua.
Pensávamos sobre como nós éramos agraceados com nossas próprias companhias. Como éramos sortudos de poder ter uma turma maneira e fumar e beber sem os problemas dos burgueses. Eu não sabia como iria inveja-los alguns anos depois.

De qualquer forma, fora da turma minha vida ia de mal a pior. Minha vida escolar era um desastre mas conseguia passar, então isso não se tornava uma dor de cabeça. Mas as brigas dos meus pais cada vez mais recentes sem dúvida eram algo que me tirava do sério. Algumas vezes tinha vontade de contestar meu pai quanto a suas ações, mas o meu medo de apanhar era maior então sempre ficava calado. Trancava eu e minha irmã no quarto e pedia pra ela respirar baixo para não incomoda-los.
Isso na verdade era indiretamente um jeito de faze-la acalmar a respiração e dormir, e eu viagiava. Era diferente de quando Namjoon vinha e nós a azucrinávamos. Talvez a falta de convivência com pessoas verdadeiramente civilizadas como em Seul realmente tivesse me arrancado parte da empatia.

Em relação a namoros eu apenas fugia das garotas. Me sentia enjoado com os perfumes e entediado com elas. Me pareciam monótonas. Talvez a fase as fizesse assim mas de qualquer maneira eu as detestava. Preferia tanto os garotos bonitos e legais, que falavam de maneira menos falsa comigo, veja bem, não que não as achasse divertidas, mas em várias quesitos preferia os garotos.

Preferia tanto que comecei a beija-los. O primeito foi Wang, eu tremia como uma vara verde por nunca ter tido alguém tão perto assim do meu rosto e nosso beijo foi molhado e estranho. Depois de um tempo contei a Namjoon o acontecido e ele chorou litros, descobri só depois que ele tinha uma queda por Wang e vivia aos chorumingos por que ele apenas o considerava amigo.
Depois vieram os irmãos Park, Taemin, Jaebum, Hansol e mais outros. Me tornei o que chamavam de biscate. Eu não ligava muito, só estava criando experiências, ninguém tinha nada com isso, até porque eu só tinha 11 para 12 anos.

Com o tempo o centro jovem começou a abrigar uma cena própria, onde tinha mais variedades de produto que as cenas de esquina de Berlim. Na verdade era um lugar bem do mais ou menos, mas conseguíamos quase tudo lá, então não tínhamos a cara de pau de reclamar.
Com a cena vieram com mais força os barbitúricos como Valium e Epinefrina. Era uma resposta aos preços altos das drogas, que chegavam cada vez mais imundas aos drogados, causando doenças e overdoses. Acabou que barbitúricos virou a nova onda e todos misturavam. Outros preferia LSD. Eu fui prova-lo depois da ascensão. Misturava barbitúricos mas nunca tinha provado a nova droga até que Wang perguntou se eu já tinha viajado. Eu sem saber o que responder acabei por dizer "Mas é claro, meu chapa" e por nunca ter viajado comecei a recortar partes de depoimentos de outros drogados sobre sua viagem e inventar a minha.
Ele não caiu e me disse que se eu quisesse tentar, no fim de semana ele teria LSD, e das boas.
Eu mal dormi os três dias que faltavam para o sábado.

Quando finalmente chegou, ele me entregou meio comprimido, dizendo que isso bastava para a primeira viagem. Eu pus no bolso e fui correndo ao banheiro. Queria dar um ar solene ao momento e também tinha medo de ser pêgo no flagra então me sentei na tampa da privada e pus para dentro. Nada aconteceu.
Eu esperei alguns minutos e nada.
Saí do banheiro e Wang jurava como eu havia jogado na privada. Eu dizia que não e acabamos por nem terminar a discussão. Namjoon estava numa viagem absurda e tínhamos que leva-lo até em casa.

Andamos até o metrô e então aconteceu. Eu comecei a rir baixo dos rostos assustados que os burgueses me encaravam. Não sabia se era por nunca terem visto um asiático ou por nunca terem visto um asiático drogado. Eu sentia as coisas se distorcerem e as cabeças feias dos burgueses que voltavam de seus trabalhos inflavam diante de meus olhos como balões. Já Wang e Namjoon tinham as cabeças pequenininhas, quase sumindo entre os ombros. Eu ria como um tolo.

Depois de trazer Namjoon até sua casa, depois de ele aterrizar, Wang me levou para o bloco b, onde tinha uma garota que ele estava se engraçando. Segundo ela os pais não estavam e para Wang, eu era seu companheiro de aventura então certamente seria mais divertido fugir comigo, se fosse preciso.

Nós fomos até o estacionamento do bloco b, averiguar se o carro dos pais da garota estavam. Ele não parava de reclamar do cheiro e eu apenas acentia. Via luzes e cores que nem existiam.

Ele virou para mim me perguntando onde havia jogado o comprimido, logo se assustando.
"Droga garoto, eu não falei nada! Suas pupilas estão grandes como pires, vá para casa!"

Eu nem me dei o trabalho de responder, apenas fui.

Quando cheguei em casa, outro homem estava sentado no sofá no lugar de meu pai. Não sabia quando isso tinha acontecido mas dei graças a Deus por estar drogado como um louco.

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O quê estão achando? Sejam sinceros.

Só para explicar

Cena é um ponto de venda de drogas.

Espaço para perguntas diversas.

1974 Onde histórias criam vida. Descubra agora