Eu não sou uma pessoa feliz.
Digo, não sou alguém de sorriso frouxo e risada fácil. Nunca fui.
Talvez por isso as drogas eram uma coisa tão confortável. De repente eu era alguém feliz e solto.
É, talvez fosse isso que me tivesse feito continuar aquela loucura inconsequente. O fato era que eu já não me importava tanto assim com viver como um adolescente normal de minha idade.
De fato, me sentia demasiado superior por ser alguém "real" e eles todos umas farsas. Talvez realmente maconha afetasse os neurônios e eu me tornasse a cada dia mais um idiota egocêntrico e inconsequente.Perdão pelo desabafo meu caro leitor, mas é esse o tom que esse capítulo terá. Tom de desabafo e medo.
É que o tempo de maré calma duraram tão pouco que eu mal tive tempo de me acostumar. As mortes por overdose cresciam como inflação e os viciados e parentes se tornaram de repente os maiores consumidores de jornal em busca dos nomes. Era um caos que não abalou a mim, Jungkook, Jimin e os outros até o primeiro Kim Taehyung ser tido como morto.
Houve uma comoção geral entre os viciados. Nós nos juntamos todos em uma quase proscrição de consumidores de tóxicos e fomos até a casa do pai dele.
Quando chegamos lá descobrimos que não só ele estava vivo como havia sido expulso de casa brutalmente a meses. Ele não pisava lá mas ligava todas as manhãs para a mãe que tinha depressão severa.
Uma senhora de seus cinquenta com cabelos ondulados presos e olhos caídos e amendoados, que vestia um longo e remendado vestido roxo, chamei ela de sogra e ela disse que eu era promiscuo de me deitar com um homem sendo um e que o filho dela era um pobre corrompido. Decidi que de fato ela era alguém amarga.
Mas mesmo vivo, Taehyung passou semanas sumido.
Foi um tempo de caos para mim, que afundava como se meus pés estivessem na lama.
Não ia mais à escola, não achava essencial. Passava os dias com Jimin e Jungkook, hora nos drogando com dinheiro que conseguíamos ou esmolávamos, hora nos prostituindo.
Jimin era um tremendo sortudo, igualmente Jungkook. Conseguiam programas brincando, já eu e meu constante estado decadente e esquelético no máximo me conseguíamos um boquete por vintes marcos, metade de uma dose, eu lembrava.
H que agora vendia como água se tornou uma rotina aceitável para mim.
Uma picada por dia após os programas e então voltava para casa, tendo sempre os questionamentos de meu padrasto nas costas. Achava de inicio que em realidade ele queria transar comigo e por isso me perturbava, mas depois cheguei à conclusão que ele apenas queria a casa só para ele e minha mãe transarem como cães no cio.
Não os culpo, talvez estivessem desesperados para terem um bebê e poderem ter justificativas para me mandarem à casa de meu pai. Aquele velho idiota havia fisgado de fato minha irmã.
Quando cheguei em casa no entanto tudo que tive foi um abraço forte de minha mãe e uma folha de jornal nas mãos.
Era isso.
Kim Taehyung, imigrante de Daegu, primeiro e único, no ultimo lugar da lista de mortos por overdose.
Eu quis rir como o inferno, quis empurra-la e dizer que era mentira, mas eu sabia que minha mãe saberia se não fosse ele, e como já havia os apresentado ela era alguém informada em tragédias.
Kim Taehyung foi um tremendo cretino afinal, nem me disse um adeus.
Foram duas semanas sem sair. Duas semanas sem programas ou drogas, apenas o luto e uma dor forte no peito como se eu fosse morrer de tristeza só de lembrar o sobrenome Kim.
Cretino, eu pensava, ele não tinha esse direito de ser tão inconsequente e fazer esse tipo de merda, e agora quem cuidaria de mim na rua ?
Eu não tinha mais certeza.
Quando as coisas voltaram ao normal e eu saí novamente as coisas estavam de fato diferentes, Vi as pessoas que saiam no murro para serem os primeiros a se picarem implorarem para serem as segundas. Não havia a confiança juvenil e inconsequente dos jovens. Apenas um medo lancinante de ser o próximo na lista.
Agora tudo era medo, e eu que sempre fui corajoso também tremia de ver minha vez chegar distante.
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1974
Hayran KurguQuando Seokjin teve que se mudar com a familia de Seul para Berlim apenas aos 12 anos, não esperava ter tanto contato com as mazelas do vício que vira nos metrôs na ida à escola. ¤Ambientada na Alemanha de 1974. ¤Baseado nos relatos de Christiane F...