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Não revisado, desculpe o sumiço

Comecei a me picar.

Tudo foi depois da volta às aulas.
Eu ia de mal a pior. Mal conseguia me manter acordado.
Ia todos os dias ao Sound ficar com Taehyung e me drogar.
Achava bebidas nojentas, deixavam os viciados agressivos, então optava por entre uma dose e outra tomar sucos.

Havia conhecido Jeon e Jimin, dois amigos que chegaram em mim pedindo drogas. Eles não tinham mais de 11 anos. Neguei e disse que eles não deveriam se meter em coisas pesadas ou ficariam como eu. O orgulho tolo de me denominar barra pesada enchia meus pensamentos e eu nem havia entrado em cold turkey* sequer uma única vez.

Eles não me ouviram e logo estavam na heroína, sem paciência eu diria.

Acabamos por nos tornar amigos excepcionais, e junto a Jackson fizemos nossa própria turma.

Eu mal parava em casa.

O número de mortos por vício crescia diante de meus olhos e eu os fechava.
Afinal, eu poderia parar quando quisesse.

Era só uma cheiradinha, eu tentava me acalmar, quando eu quiser eu paro.

Taehyung dizia isso.

Ele não parou.

Acabou que em uma noite Tae chegou mal. Ele chegou pedindo H e me deu o dinheiro para que comprasse.
Ele se drogou e então contou.

Estava demitido.

Ele bancava minha heroína e a dele sozinho.

Senti medo do corte brusco e choramos abraçados com temor do futuro.

No fundo eu estava sendo apenas um viciado que perdeu a moleza, mesmo que o amasse.

Amor entre viciados não existe.

Apareceu nos jornais que Lee havia morrido de overdose. Ninguém se comoveu.

Era quase normal.

Os viciados eram na verdade grandes egoístas.

Eu gostava de Lee e então quando soube chorei, Taehyung disse que era besteira, mas ficou com raiva.

Lee devia a muita gente.

Acabou que depois do desemprego de Tae eu decidi por me picar.

Tremia como uma vara verde e precisei de ajuda de outro viciado que me imprestou a seringa e a colher.

Taehyung não ajudaria.

Não foi como o LSD.

Eu não me senti mágico.

As coisas não foram legais.

Foi só nojento.

E eu não consegui mais parar.

Passado o medo inicial passei a me picar todas as noites.

Quarenta marcos era tão fácil de conseguir da minha mãe que ela nem sentia falta.

Taehyung dizia que eu era um pequeno viciado procurando por problemas.

Ele não era muito diferente na verdade.

Com o passar das semanas eu emagreci.

Me sentia horrível, cheio de espinhas e olheiras profundas.

Heroína era um fator destrutivo.

Passei três semanas sem ir.

Fiquei tão melhor que cogitei não voltar.

Mas eu precisava.

Quando eu voltei Taehyung não estava lá.

Ninguém sabia dele, mas alguns o viram no metrô do zoo.

Só prostitutas e garotos de programa iam ao zoo.

Senti meu coração apertar.

Quando cheguei ele estava lá.

Teve um tremendo susto e disse que eu não deveria estar ali.

Nos abraçamos e por um segundo eu queria que o mundo acabasse ali.

Acabaria a heroína. Os vícios. Os programas e as bichas que desejavam meu homem.

Mas não acabou.

Ele teve que ir.

Eu não pude o impedir.

Acabei por fazer compainha a Jackson.

Ele era legal e protetor comigo.
Os meninos de programa arrumavam tudo que eu queria porque me achavam fofo.

Desde iogurte a maquiagem. Eram legais e não deixavam os gringos darem encima de mim.

Afinal havia uma irmandade entre os viciados.

Mas Taehyung ia a cada vez mais programas e me deixava de lado.

Eu estava desesperado.

Ainda acabamos por brigar e só por birra na outra semana fui à putaria infantil, ficava numa avenida movimentada onde viciados crianças ofereciam os corpos por até vinte marcos.

Eu não queria de verdade me prostituir, era só uma ameaça à autoridade de Taehyung.

Fui e de primeira lucrei 60 marcos de um cara que parecia daqueles pedófilos fissurados que pagam até 100 marcos só para ver os garotinhos.

Cheguei e mostrei a Taehyung.

Ele zombou e disse que agora além de um viciado sem rumo era também uma putinha. Eu chorei mas ainda fiquei com ele.

Estava tudo bem, nós nos amávamos.

Acabei por começar a fazer programas não por birra mas por sobrevivência no vício.

Eu não queria mais o dinheiro do Taehyung, que me dava cada vez menos.

De início ele se mostrou bem indignado e passou até a escolher os clientes para mim.

Estava tudo bem. Eu, Jimin e Jungkook, que passaram a me acompanhar fazendo programas, nos vendíamos no metrô do zoo e depois íamos ao Sound.

Era uma maré calma.

Calma demais.

1974 Onde histórias criam vida. Descubra agora