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O sol de Berlim queimava minhas bochechas pelo vidro do carro.
Há cerca de quinze dias havíamos chegado à casa nova, com dois cômodos que naturalmente ficaram apertados para mim, minha irmã e meus pais.

Eu não queria vir para Berlim, gostava de minha casa e vizinhos de Seul, onde podia passar o dia na casa de minha vó paterna e mal presenciava as brigas de meus pais.
Berlim para mim parecia um inferno.
As pessoas sempre apressadas e os meninos e meninas sempre aparentando mais idade do que realmente tinham.

Assim que cheguei na casa nova meu ódio foi imediato. Não estavam instalados luz e água e o quarto que dividia com minha irmã fedia a mofo e provavelmente não tinha muito mais que dez metros quadrados.
Estavamos num cercado dentro de casa e quando saímos o que havia de diversão para crianças era uma area coberta de cimento com uma piscina de areia que fedia a xixi.

Mas a pior parte do conjunto habitacional eram os outros vizinhos.

As crianças de outros prédios não se misturavam então nunca pude ter certeza de como agiam, mas as do bloco c eram particularmente malvadas.

Na minha primeira semana me apresentaram de maneira nada doce uma brincadeira que viria a ser minha maior distração nas manhãs tediosas.

Se constituia de atrair uma das crianças bobinhas para dentro do elevador e com ela lá dentro, apertávamos todos os botões de andares, a deixando presa. Então subíamos rápido as escadas fedorentas do bloco c para garantir que ela chegasse ao seu destino,a cada andar a assustando.
Era definitivamente torturante mas se perdia um pouco da empatia com a falta de convivência realmente civilizada.

Outra coisa que distraiam as crianças era brincar de luta. As crianças do conjunto eram absolutamente destrutivas e qualquer coisa que abalasse umas as outras era uma brincadeira genial.
A "brincadeira" era apenas uma pancadaria gratuita, uma maneira de descarregarem as energias ruins de casa.

Todos ali tinham entre dez e treze e eram absolutamente sozinhos em suas peculiaridades, então ninguém se incomodava de verdade em brigar, só me sentia chateado de abusarem da fraqueza de minha irmã nas lutas e como não se podia defender ninguém eu assistia calado as meninas puxarem seus cabelos e arranharem sua barriga com as unhas.

Assim foram minhas primeiras semanas em Berlim. Absolutamente sozinho com toda aquela bagunça acontecendo e sem muito o que fazer em relação à minha vida.

Após cerca de dois meses morando no conjunto habitacional, chegou a grande novidade que atiçava os ouvidos da juventude local.

Um centro jovem com uma discoteca, cinema e um pequeno bar onde se vendiam bebidas alcoólicas livremente e de maneira sortida.

As garotinhas adoravam, se sentiam adultas com suas maquiagens exageradas, calças coladas como uma segunda pele e botas de salto. Era algo que me divertia vendo mas não me preocupava em acompanhar muito.
Os meninos em geral usavam calças super apertadas e jeans. Nenhuma garota dava bola aos meninos com calças boca de sino, ou que parecessem infantis. (Embora a média de idade no centro jovem era de 12 a 16 anos).

Foi questão de tempo até a droga entrar no cotidiano do centro jovem.
Algumas semanas e já era perceptível alguns cigarros suspeitos sendo passados em círculos de amigos.
De repente todos estavam fumando haxixe. Me sentia um pouco excluído mas percebia que em alguns casos era preferível não se enturmar. Eu só tinha doze anos.

Na escola, paralelamente eu não me importava muito em prestar atenção. Nosso bairro de emigrantes tinha funcionamento próprio com uma escola de duplo idioma, mas não me era interessante aperfeiçoar meu alemão ou relembrar meu coreano.
Eu só queria saber das músicas em inglês dos discos que eu ouvia na loja de discos do caminha da minha escola.

Sentia que conquistaria o mundo inteiro se soubesse falar em inglês e eu bem que tentei mas acabei largando.

Na escola havia um menino.
Kim Namjoon parecia muito mais velho e maduro que todos os meninos da sala mesmo só tendo dois anos de diferença. Ele era alto e com traços adultos e pegava garotos e garotas no intervalo. Todos respeitavam ele por que o viam como uma grande autoridade.
Eu queria ser amigo de Kim Namjoon a todo custo.
Comecei a usar calças acertadas e jeans. Não me dava o trabalho de usar uniforme.  Fumava como um condenado na hora do intervalo, depois tendo que sofrer com os pulmões ardendo para subir as escadas do meu prédio.
Eu bebia de manhã até antes da aula e então eu fumava e voltava a beber até as cinco da tarde, quando o centro jovem abria.

No centro jovem havia Kim Namjoon, então era tido como ritual assim que voltava da aula começar a me arrumar como mandava a moda e às cinco estar na porta do centro jovem.
Talvez minha obsessão levou Namjoon a demorar semanas para falar comigo.

Não demorou tanto desde a primeira conversa rasa e consegui sua amizade.
O levava em minha casa todo dia e então fumávamos, assaltavamos o estoque de soju do meu pai e brincávamos de maltratar minha irmã com apelidos até faze-la chorar.
Eu não gostava mas Namjoon achava o máximo. Ele tinha um gênio terrível.

No centro jovem porém, Kim Namjoon não me notava muito. Ele ficava com uma turma que fumava haxixe e falava sobre discos que eu não conhecia. Me sentia meio perdido, nunca sabia se era a bebida ou o deslocamento.

Estava tudo bem até ser oferecido a mim o maldito haxixe.  Era uma sexta-feira e todos os colegiais vinham direto de suas escolas para descontar as frustrações. Então fumavam maconha e haxixe, tomavam lsd e misturavam pílulas que eu desconhecia. Eu me sentia totalmente assustado.

A turma de Namjoon estava em um círculo em uma das mesas do centro jovem, passando um cigarro de haxixe de mão em mão. Eu estava terminando um texto que me dera inspiração pelas luzes baratas da discoteca. Wang, amigo de Namjoon me passou o cigarro sem ao menos olhar quem era.
Senti tudo dentro de mim gelar. Lembrei de todas as matérias de jornal sobre os efeitos das drogas.
Por Deus, o que eu faria? Eu queria ser aceito na turma de Namjoon, seria isso o preço?

Peguei o cigarro de haxixe e fumei.
Eu só tinha 12 anos.

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Fanfic teste, pode ser apagada a qualquer momento.

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