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Mas Kleist estava tão distante da morte quanto era possível um ser

humano estar.

― Você acha ― disse uma Daisy nua e montada em Kleist,

apoiada nos joelhos dele ― que sexo comigo é melhor do que o paraíso?

Kleist considerou os seios dela com atenção. Por que eram tão

maravilhosos?, perguntou-se. Mesmo a curta estadia em Memphis e a antiga

falta de experiência com prazer deixaram claro que era possível se cansar de

alguma coisa, caso se acostumasse a tê-la sempre: creme de lima, xadrez,

atormentar Koolhaus, não ter o que fazer, sol ou vinho demais. Mas mulheres

nuas? Isso é algo com que ele jamais se acostumaria. O deslumbre com os

corpos de mulheres com certeza tinha mudado: Kleist estava mais

familiarizado com eles, mas era como se alimentar e ficar satisfeito ― algumas

horas depois, a pessoa sente fome como da primeira vez que sentiu fome na

vida. Mas por que não dava para se acostumar com isso?

Deitado de costas, Kleist fingiu fechar os olhos para que Daisy não

percebesse que ele olhava para ela tão atentamente. Não que Daisy se

importasse com o intenso exame, mas ele sentia um pouco de vergonha

quanto à intensidade de seu fascínio. Como ela estava recostada e montada em

cima de Kleist, as coxas estavam algo retesadas sobre os ossos, revelando

músculos possantes. Não eram como as pernas longas e esguias das moças

Materazzi que ele conseguira notar enquanto elas entravam em um grande

baile, dando passos largos e insolentes, às vezes com vestidos de cortes até o

alto da coxa, revelando aquela suave elegância que a ninguém era permitido

possuir. Se as meretrizes de Kitty Town eram menos refinadas e mais variadas

em termos de tamanho e formas ― as Mukies gorduchas, as pequenas porém

alegres Gascons com enormes olhos castanhos ―, ainda assim nenhuma tinha

a grande musculatura das coxas de Daisy, estranhamente fora de proporção

com o resto do corpo, como as coxas de um jovem com uma força fora do

comum. E em seguida os pelos e a pele dobrada entre as pernas, a fonte de

tanta admiração e deslumbramento. Isso era inimaginável há alguns meses,

exceto que Kleist presumira que as habitantes do mitológico parque do diabo

teriam alguma coisa similar a um par de bolas e um pau, só que mais pontudo

e feroz como era mais condizente a algo tão infernal. A realidade de algo tão

escondido e tão delicado ainda o fazia suspirar de vergonha e alegria. Que

ideia? Que coisa era essa? A seguir, vinha a barriga de Daisy com uma camada

quase imperceptível de gordura. Depois os seios redondos de mamilos duros,

rosados e marrons, o pescoço vigoroso, os lábios carnudos pintados com

As Últimas Quatro Coisas - Paul Hoffman (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora