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Você já deve ter ouvido o diabo ser chamado de Velho Merk, um

nome tirado de Nicholas Merk, o mais infame dos infames

diplomatas de aluguel, os Talleyrand. No entanto, apesar de todos os

conselhos vergonhosamente cínicos que ele deu, temos que admitir

que devemos um favor a Merk: ele não disse como os homens devem ser, mas

como eles são.

"Um governante determinado a se aventurar no estrangeiro sempre deve

tomar o caminho da conquista pela pilhagem em vez da conquista pelo

controle. É muito bonito para um grande homem ficar olhando mapas na

parede e considerar por quantas horas o sol brilha em seus territórios, mas o

problema de conquistar povos é que, se não lhes rouba as posses e vai embora

imediatamente, o grande homem tem que governar o país por eles, reparar os

canais para que não morram de sede, tapar os buracos nas estradas, encher os

celeiros para que não morram de fome. Ele precisa tomar decisões nos

conflitos entre os povos, que geralmente são muitos e letais, e pagar os

próprios soldados ou os deles quando os acordos que negociou tão

pacientemente forem quebrados, como sempre acontece.

"Pode-se considerar uma terra conquistada como uma grande casa herdada — maravilhosa de ser contemplada de início e digna de agradecimento pela

sorte que se teve, mas na realidade é nada mais do que um transtorno e uma

perda de tempo, paciência, sangue e tesouro. Roube!"

Foi um conflito do tipo infindável previsto por Merk que levou

quinhentos Redentores mal-humorados a marcharem até a base da serra de

Quantock para lidar com o aumento do número de incursões de bandidos

montanheses nas comunidades muçulmanas locais. Estava frio, estava úmido e

havia pouca comida porque muita coisa fora roubada dos muçulmanos. Os

Redentores não entendiam por que deviam passar por essas privações, isso

sem falar em arriscar a vida indo ao resgate de um povo que nem sequer era

herege. Eles adoravam falsos deuses, nem mesmo o Deus certo da maneira

errada como os Antagonistas. Não era costume do novo governador Redentor

de Memphis explicar seus atos para seus soldados, coisa que ele não fez, mas

os motivos eram bastante simples: Memphis precisava comer, e parte

significante da comida da cidade vinha dos muçulmanos.

As ações daqueles bandidos montanheses eram um transtorno bem sério

e uma propaganda de que as regras dos Redentores podiam ser desprezadas de

maneira descarada. A expedição não tinha a intenção de restaurar a ordem,

mas sim de demonstrar para qualquer um que estivesse vendo o que poderia

se esperar se a autoridade dos Redentores fosse desafiada de alguma forma.

As Últimas Quatro Coisas - Paul Hoffman (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora