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Você é o meu herói.

Kleist e a garota estavam sentados diante de um carvalho oco

e parcialmente morto que abrigava o fogo aceso de tal maneira

que parecia uma lareira.

— Eu não sou o seu herói.

— É sim ― provocou ela. ― Você me salvou.

— Eu não salvei. Por acaso você estava nos arbustos quando fui pegar

minhas coisas. Eu nem sabia que você estava ali.

— Seu coração sabia ― implicou a garota.

— Pense o que quiser. Amanhã você vai para onde for, e eu, para outro

lugar qualquer, o mais longe possível de você.

— Meu povo acredita ― disse a menina, pairando alegremente como um

estorno ― que, quando uma pessoa salva a vida de outra, fica responsável por

ela para sempre. ― Essa declaração era uma das mentiras mais escabrosas que

ela já havia contado e era o oposto de tudo em que os cleptos acreditavam

quanto à questão da obrigação.

— Qual o sentido disso? ― falou um exaltado Kleist. ― Devia ser o

contrário.

— Tudo bem. Agora eu sou responsável por você.

— Primeiro, eu estou me lixando para o que o seu povo acredita e, segundo, não quero que você seja responsável por mim. Quero que vá embora.

A garota riu.

— Você está falando da boca para fora. Diga o seu nome.

— Eu não tenho nome. Sou anônimo.

— Todo mundo tem um nome.

— Eu não.

— Devo dizer o meu?

— Não.

— Eu sabia que você ia dizer isso.

— Então por que perguntou?

― Porque eu aaaaamo ― falou a garota, aumentando o som da palavra ouvir o

som da sua voz. ― E riu de novo. Talvez tenha levado duas horas

para Kleist estar completamente fisgado.

Dois dias depois, Cale e Gil observaram os tribalistas aceitando, obviamente depois de alguma discussão e com muito mais cuidado, a rendição de

seis Redentores sobreviventes. Eles foram amarrados e colocados numa

carroça. Dez minutos depois, tinham desaparecido atrás da montanha de topo

plano.

— Quantas vezes mais? ― falou um mal-humorado Gil.

Cale não respondeu, mas desceu da elevação, montou no cavalo e come-

çou a retornar ao Forte Bastião, não tão confiável assim apesar do nome.

Cinco dias depois da chegada lá, o quarteto estava de volta ao Santuário

encarando um Bosco de mau humor.

— Eu disse para você ficar na estepe até resolver o problema.

As Últimas Quatro Coisas - Paul Hoffman (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora