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Em duas semanas, por conta de um vendedor ambulante de remédios

cujos produtos eram, se você desse sorte, completamente inúteis,

Kleist e sua esposa com gravidez avançada souberam dos grandes

eventos em Golan.

Havia acontecido uma grande batalha entre os Redentores e os lacônicos,

uma carnificina horrível, e o exército dos Redentores fora destruído quase até

o último homem. Desnecessário dizer que isso alegrou Kleist, mas não por

muito tempo. Ele quase se engasgou com a própria língua ao ouvir a história,

muito enfeitada pelos caipiras das montanhas, de como o dia fora salvo por

um mero menino e de que este menino Cale, agora era considerado o Anjo da

Morte, capaz de flutuar a um quilômetro de altura.

― Então, esse amigo seu ― disse Daisy mais tarde, quando os dois

estavam na cama, enquanto ela descansava as costas doloridas e as terríveis

hemorroidas, tentando entender as notícias confusas que tinham ouvido.

― Ele não é meu amigo...

― Esse amigo seu, ele não é o Anjo da Morte, capaz de flutuar a um

quilômetro de altura?

― Ah, ele é o Anjo da Morte, sim. Aonde Cale vai, um funeral vai atrás.

Ele tem funerais no cérebro.

― Mas não consegue flutuar?

― Não.

― Pena. Um amigo que flutua a uma altura de um quilômetro seria muito

útil.

― Bem, ele não consegue. E eu já disse, aonde ele vai, muita gritaria vai

atrás. É por isso que eu estava tentando ficar o mais longe possível dele. Se

não tivesse encontrado você, eu estaria do outro lado da lua se soubesse como

chegar lá.

― Ah ― ela suspirou, cheia de tristeza. ― Meu pobre traseiro.

Ela não falou mais nada até a dor passar e a seguir passou uma jarra com

o creme que o charlatão tinha vendido.

― Passe isso em mim.

― O quê?

― Passe isso em mim.

Kleist olhou para ela.

― Faz você.

― Estou gorda demais. Não consigo alcançar assim tão longe. É mais fácil

para você.

― Não dá para chamar a sua irmã?

― Não seja nojento. Anda com isso.

A essa altura, ele sabia muito bem quando não devia discutir com Daisy.

Não que Kleist não tivesse habilidades médicas. Os Redentores eram famosos

por serem bons em cuidar de ferimentos por conta do fato de que as pessoas

estavam sempre tentando matá-los. Cuidar de hemorroidas não era uma lesão,

conforme estipulado no Manifesto Católico, o manual médico dos

As Últimas Quatro Coisas - Paul Hoffman (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora