Capítulo 2 - Poliana

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Eu tinha certeza que Flora tinha pego meu batom e o fato de não ser verdade me deixava ainda mais enfurecida. Flora estava começando em sua fase adolescente enquanto eu já quase a finalizava. Por mais que tivéssemos apenas quatro anos de diferença, era óbvio que nossas personalidades estavam longe de parecidas.
Peguei meu celular e abri o aplicativo de fotos onde digitei "Joana Balbucci". Cliquei em sua conta e olhei foto por foto até que algum de seus looks maravilhosos inspirassem meu modelo do dia.
Encontrei um onde ela usava um vestido tubinho branco liso que ia até os joelhos, com um casaco de flanela rosa que caia até a cintura e salto agulha. Ela tinha o cabelo preso em um coque e usava brancos de argola que chegavam à altura de seu queixo.
Olhei entre minhas roupas e encontrei um vestido rosa bebê liso, meu casaco de couro branco e meu salto plataforma. Haveria de servir.
Tirei o roupão pós banho, coloquei a roupa e sequei meus cabelos para deixa-los lisos e comportados. Fiz um rabo de cavalo e coloquei meus brincos de argola na orelha. Sorri para meu espelho. Uma vez me disseram que eu pareceria uma uma criatura mágica, com pele branca e macia, cabelos longos e pretos e um bom físico. Disseram que só me faltavam olhos claros.
Lembrei de Nathalie e Priscila. Nathalie tinha olhos cor de mel, nunca havia visto outros iguais. Enquanto Priscila havia herdado os olhos castanho esverdeados do nosso pai. Se eu tivesse qualquer um dos dois, tinha certeza que poderia ter qualquer homem aos meus pés. Poderia ser uma atriz ou modelo, como Joana Balbucci, mesmo meus pais dizendo que eu não aguentaria a fama e os holofotes.
Aos cinco anos, comecei a insistir para ser vinculada a alguma agência, mas meus pais eram cafonas demais para me deixar.
Sai do quarto pronta para a escola, era meu terceiro ano e em dezembro eu estaria pronta para a faculdade. Caminhei e entrei na cozinha onde minha mãe estava fazendo panquecas e Nathalie tomava café com olhos de zumbi.
- Bom dia!
Falou mamãe sorridente.
- Bom dia.
Respondi com calma. Sentia que algo estava por vir.
- Dormiu bem?
- Sim.
Respondi ainda com calma. Mamãe fez uma pausa enquanto colocava as panquecas no meu prato.
- Eu ouvi alguns sonzinhos, enquanto tomava banho. Algo a declarar, Mocinha?
Mocinha. Ela sempre nos chamava de mocinha quando queria respostas honestas e instantâneas. Eu detestava ser chamada de Mocinha.
- Não.
Mantive minha calma enquanto colocava um pedaço de panqueca na boca.
- Se desculpe com a sua irmã, então.
Assenti com a cabeça. Peguei um prato de panquecas, levantei e fui ao quarto de Flora. Bati na porta, mas ela não abriu.
- Flora? Abre. Por favor.
Ainda nada. Flora é bem orgulhosa, então não me surpreendi com sua reação.
- Flora? Eu trouxe panquecas. Coloquei bastante chocolate pra você. Anda, abre a porta.
A porta continuou fechada. Eu detestava essa situação. Não só porque eu parecia boba plantada na frente da porta com um prato de panquecas, mas porque sabia que tinha magoado a minha irmã graças ao meu temperamento.
- Flora? Abre a porta por favor.. Eu sei que errei contigo. Você me perdoa?
Após alguns segundos, uma fresta da porta é aberta e os olhos de Flora me fitam como se estivessem me inspecionando.
- Colocou marshmallow?
- E morango.
Sorri.
Flora abriu a porta com um sorriso de orelha a orelha.
- Então, eu te desculpo. Mas é melhor você me entregar essas panquecas antes que eu mude de ideia.
Sorri e deixei ela tomar as panquecas da minha mão. Voltei a cozinha para comer as minhas.

Sangue Azul - Os Mistérios de QuimeriaOnde histórias criam vida. Descubra agora