Capítulo 9 - Nova Companhia

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Nathalie

Precisávamos nos preparar para Quimeria. Não sabíamos nada sobre realeza e não seria algo que aprenderíamos com rapidez. Minhas irmãs deixaram a escola e eu tive que abandonar a companhia no meu cargo de marketing. Passamos a ter aulas com Tio Jorge e nosso pai. Todos os dias aprendíamos matérias novas sobre a história, a legislação, as tradições, a escrita e fala Quimeriana. Minhas irmãs eram dispensadas as quatro da tarde enquanto eu prosseguia com as aulas até às dez da noite todos os dias. Precisava aprender mais se quisesse governar o país.
- Tio Jorge?
- Sim, Alteza?
Alteza. Me doía os ouvidos e me sentia muito estranha, mas Tio Jorge disse que era importante nos chamar assim para que nos acostumássemos.
- Por quê o meu avô nunca nos procurou?
- De acordo com a lei Quimeriana, ninguém entra e ninguém saí do país. Exceto escrivões reais, pois cuidamos das leis do país e somos a ponte com o mundo afora. Quando seu pai saiu, disfarçado e com minha documentação, o rei não podia segui-lo, e mesmo se pudesse, seu pai havia se exilado e não poderia voltar. Ele não poderia procurar o filho que tanto amava. Por anos o rei lamentou sua decisão. Entenda, ele achou que estava fazendo a coisa certa.
Jorge, deu uma pausa, suspirou em alto e passou sua mão pelo cabelo grisalho.
- Não tivemos nenhum contato com o seu pai. Sabíamos que ele não queria ser encontrado.. mas seu pai é um homem bem inteligente. Ele planejou seus passos com cautela. Na noite em que foi embora, deixou comigo um papel com algumas coordenadas, estas me levaram para um pedaço de terra em um parque aqui em São Paulo, e por meio de pistas, consegui encontrar vocês.
- Nossa.
- Seu pai e seu avô são homens respeitados e bondosos. Acredite.
- Tio Jorge, meu avô vai renunciar mesmo ao trono?
- Seu avô queria que seu pai assumisse o trono, mas quando ele se foi, outros parentes e nobres começaram a se eleger para governar. O Rei prosseguiu governando por vários anos, mas a velhice lhe atingiu e com ela uma doença grave. O Rei Miguel quer que a linhagem de governo continue em seu sangue. Quando sua mãe foi exilada, estava grávida de você. O Rei soube e graças a cláusula Songli criada pelo seu pai, Sua Majestade passou a contar com a sua ascensão ao trono.
- Eu quero fazer isso. Eu sei que quero.. mas, eu tenho medo.
- Não tenha. Eu tenho certeza que será uma rainha excelente, Alteza.
Ele se levantou e olhou para o relógio que marcava nove horas da noite.
- É melhor encerrarmos por hoje, Alteza. Amanhã será um grande dia.
- O que vai acontecer amanhã?
Tio Jorge sorriu pra mim.
- A chegada de um Quimeri importante.
- Pensei que ninguém poderia sair de Quimeria.
- Temos, por lei, esta exceção.
Na manhã seguinte, eu havia acabado de me levantar. Abri minha porta e fui até a sala ver quem já estava de pé. Tio Jorge conversava com um rapaz, ele não deveria ter mais de 26 anos de idade. Cabelos castanhos lisos com leve ondas na ponta, olhos cor de jabuticaba e uma pele branca rosada. Ambos levantaram ao me ver. O jovem deveria ter um metro e oitenta e pouco, o que era alto pra quem não tinha mais de um e sessenta e quatro de altura.
- Bom dia, Alteza.
Os dois falaram em unison e curvaram-se. Senti meus olhos arregalarem com a cena. Minha vontade era de gritar para os dois pararem de se curvar, mas tentei manter a calma e acenei levemente, como me havia sido instruído.
- Alteza, permita-apresentar o Senhor Benjamim Halman, seu companheiro em corte.
- Oi?
Indaguei.
- Ele seria o equivalente ao seu assistente, por assim dizer. Um criado que cuidará de seus afazeres, bem-estar e dados. Ele lhe acompanhará sempre. É filho do Senhor Bruno Halman e neto do Senhor Victorio Halman.
- Ah sim.
Benjamin se aproximou me de mim. Meu coração começou a latejar e senti como se um líquido quente estava o envolvendo.
- É um prazer lhe servir.
Benjamin pegou minha mão e a beijou.
Senti um frio pelo meu corpo e um leve arrepio. Como eu queria tirar a minha mão dali. Aquele menino estava me deixando nervosa.
- O prazer é todo meu.
Respondi.
Opa. Eu não deveria ter dito isso.
- Em te conhecer, eu quero dizer. Não que não seja um prazer que você me sirva. Até porque, eu não te conheço, mas se você está aqui é porque eu imagino que você deve saber servir bem e eu..
Eu implorava para alguém me interromper. Bastava ficar nervosa que minha boca não para de falar e a mente caía no sono.
Coitado do moço. Ele me encarava com olhos desentendidos. Eu o estava confundindo, falando cada vez mais rápido e tentando me justificar, mas ninguém dizia nada. Ninguém me atrapalhava.
- Nathalie, suas panquecas estão prontas, filha. Ah? Vejo que conheceu seu acompanhante.
Minha mãe chegou em ótima hora, mas como eu queria que ela tirasse o sorriso bobo do rosto. Ela me conhecia bem demais.
- Consegui que ele fosse autorizado a sair de Quimeria graças a lei de transição governamental. Sua Alteza precisava de um companheiro em corte para guias e auxílio.
- Claro.
Respondeu minha mãe e me deu uma leve piscadinha.
Quando fui entrar na cozinha, Benjamin se apressou para abrir a porta.
- Obrigada
Respondi com um tom normal talvez forçado demais.
Ele levemente baixou a cabeça em retribuição.
Isto vai ser complicado.

Sangue Azul - Os Mistérios de QuimeriaOnde histórias criam vida. Descubra agora