Nathalie
Todas encaramos Jorge sem entender o que estava acontecendo. Ele olhou para cada uma de nós lentamente, pediu para que sentássemos e limpou a garganta.
- Meninas, vocês já ouviram falar de Quimeria?
- Aí, nem me fale nesse país.
Balbuciou Priscila em tom de zombaria. Flora a fitou com seriedade e Priscila se desculpou.
- Quimeria é um país europeu localizado entre a França e a Espanha. Retirado de muitos mapas por causa de sua cultura privativa, é um país com mais de 83 milhões de habitantes que falam a língua anglo-português. O que seria semelhante ao português de Portugal com sonoridade e fundamentado no inglês americano. Eu sou Quimeri e poderia me passar por brasileiro, não acham?
Continuamos a o encarar, eu sentia que devia dizer algo, mas as palavras não vinham porque eu realmente não tinha o que dizer pra ele. Eu havia aprendido o básico sobre Quimeria, não autorizavam turistas nem divulgavam estatísticas. Era um país com um grande ponto de interrogação. Lembro de ter estudado que o país só se proclamou há pouco mais de uma década.
Jorge limpou sua garganta de novo.
- Bem, a história que eu vou contar é única e não deve ser divulgada a ninguém, certo?
Concordamos acenando com nossas cabeças. Eu não sabia do que se tratava, mas sentia que era importante.
- Havia um príncipe no reino de Quimeria. Ele tinha seus vinte cinco anos e era muito querido pelo reino. Atencioso com tudo e todos, se não tivesse nascido de realeza, ele seria a escolha perfeita para o trono. O Rei Miguel amava seu filho e o ensinava com carinho as tradições e leis de Quimeria. Porém, o príncipe guardava um segredo de seu pai. Ele havia se apaixonado pela filha da costureira real. A moça trabalhava desde de seus doze anos como assistente da mãe e era bela e muito bondosa. Para se aproximar dela, o príncipe encomendava varias e varias roupas, pedindo para que medidas e provas fossem feitas com frequência. O que o príncipe não sabia, era que ela também o amava. Não porque era herdeiro ao trono, mas porque via em seus olhos a honestidade e humanidade que em muitos faltavam. Um dia, o príncipe pediu para que servissem um café enquanto tirava as suas medidas e a convidou para comer com ele. Assim foram os primeiros encontros dos dois, não tardou muito para que ambos percebessem que seus sentimentos eram mútuos e começarem a ficar juntos em segredo. O Rei nunca poderia saber, pois provavelmente decapitaria a moça.
- Nossa!
Deixei escapar o exclamo e tapei minha boca com a mão. Eu sabia que era uma prática comum em alguns países, mas não conseguia imaginar uma decapitação por amar alguém.
Jorge prosseguiu.
- O príncipe havia crescido comigo e éramos grandes amigos. Com idade adulta, comecei a trabalhar como escrivão para a família real e o príncipe me pedia ajuda com seus encontros escondidos. Tudo correu bem por quatro meses, até que um dia, enquanto o príncipe e seu amor estavam no labirinto do palácio, um guarda os flagrou e reportou ao Rei.
- Gente! Isso tá parecendo conto de fada!
Interrompeu Flora.
- De fato. Então, o Rei, furioso, pediu para que trancassem a jovem no calabouço para que fosse decapitada. Durante a noite, ela vomitava incansavelmente. Ao soar as quatro da manhã, trocaram suas roupas para vestes simples, quando perceberam que estava grávida. A gravidez foi informada ao Rei. Ele já havia dispensado toda a família da jovem do castelo e não achou que seria justo assassinar sua filha e seu neto, então naquele mesmo momento, o Rei ordenou que expulsassem a moça do reino sem relatar a ninguém o que havia acontecido.
- E o príncipe?
Questionou Poliana.
- Criou coragem para enfrentar o seu pai, mas já era tarde. A Quimeri já não estava no país. O príncipe me pediu auxílio e eu identifiquei para onde ela havia ido. O príncipe, trancado em seu quarto, escreveu uma carta de expulsão a si e resignação ao trono real. Eu o ajudei a sair do palácio dois dias depois e ele nunca mais retornou a Quimeria. Uma vez que se é expulso pela família real, a lei diz que jamais o corpo deverá pisar em solo Quimeriano.
- E ele a encontrou?
Perguntei com esperança do amor dos dois.
- Encontrei. E não só isso, mas tive outras três filhas maravilhosas das quais me orgulho e amo tanto.
Respondeu meu pai.
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Sangue Azul - Os Mistérios de Quimeria
FantasíaNathalie, Poliana, Flora e Priscila são quatro irmãs que vivem uma vida normal na cidade de São Paulo. Isto é, até um estranho informar que elas fazem parte da família real de um país Europeu e sucessoras ao trono real. Será que elas escolherão mant...