Danilo
Com certeza eu estava sendo ingênuo em pensar que o psicopata genial Skullrion cometeria uma falha monumental como essa, mas como não iria perder nada em apostar nessa, continuei com o plano.
Alessandro estava preocupado com tudo isso. Algo não cheirava bem nessa história e ele tanto quanto eu tínhamos farejado isso. Os 30 minutos passaram enquanto toda a equipe permaneceu escondida da visão da suposta visita que não havia chegado ainda.
Esperamos dez minutos a mais do que o programado, quando ouvimos todos a campainha. A porta arrebentada já nos denunciaria com certeza, a não ser que o Eduardo mentisse muito bem.
Ouvi ele atender e cumprimentar um homem. Conversaram sobre a casa normalmente até que o homem que se identificou como Naamã, disse:
- Não estou aqui para comprar a casa. Recebi ontem um dinheiro em um envelope e um pedido especial de minha ex mulher, para vir aqui falar com você Eduardo. - Quando Naamã disse isso, eu sabia que já era parte do plano de Skullrion - Ela mandou lhe dizer que sua mãe não foi perdoada pelo que fez, por isso minha ex mulher nunca mais vai falar com ela. E que ela precisa curar a sua alma. - Naamã falou com medo da reação de Eduardo, o qual ficou muito confuso, assim como suspeitei que ficaria. O recado era para mim e não para ele.
- Não entendi a mensagem. Mas você poderia escreve-la pra mim? - Solicitou Eduardo. Garoto esperto.
- Tudo bem. Agora me fale mais sobre a casa, não entendi nada do que está acontecendo, porém vai que realmente a casa compense ser comprada? – Sorriu sem jeito o estranho bode expiatório.
Os dois conversaram mais um pouco depois dele ter escrito a mensagem, saímos de nossas tocas assim que Naamã estava para sair da casa – O que não lhe foi muita surpresa, já que sabia que estava fazendo algo estranho ali ao receber uma grana para falar aquela mensagem bizarra - Ordenei que o levassem sob custodia preventiva como cumplice de Skullrion. Sei que ele não era, mas precisávamos detectar uma maneira de alcançar uma falha nessa maldita teia de aranha. Alessandro estava feliz em poder interrogar esse tal de Naamã.
Fui até a cozinha onde Eduardo estava digerindo toda aquela situação inusitada, e no interim ele me deu uma xícara de café e a página rasgada de seu bloco de anotações. Li a mensagem novamente.
- Sua mãe conhece a ex esposa dele?
- Nunca vi esse cara e minha mãe já está morta. – Respondeu, confirmando o que havia pensado.
-Só para garantir. O assassino sabia que você não tinha mãe. Fica claro que ele queria que essa mensagem chegasse até nós, e mais claro o quanto ele é bom. Ele sabia que estaríamos aqui agora, mas como? - Fiquei intrigado, bebericando o café com cuidado para não me queimar. Alessandro pegou o celular e atendeu. Falava com a imprensa. Estavam em cima do caso, para ganhar audiência. E eu tentando manter o raciocínio intacto. Precisava descobrir o que ele queria passar com a mensagem. E como ele sabia a hora exata que estaríamos aqui.
Se ele realmente é cuidadoso, penso que ele sabia onde a mãe de João morava. Calculou que ela fosse chegar dentro de dois dias depois do assassinato, ai estudou Naamã, para saber de sua fraqueza com sua ex mulher. E por último tomou o cuidado de usar o novato sem mãe da corretora de imóveis que foi promovido sobre a morte da vítima. Impossível ter acertado todos esses cálculos. Muitas chances de falha... Mas é a única maneira de tudo isso estar acontecendo. Ele é um gênio ou um afortunado assassino sortudo!
O texto, a mensagem. Ex mulher pode se referir a quem? A vítima ligou para a mãe malvada e disse que a perdoava. Mas ficou contente quando ela disse que iria morrer. Depois disso a vítima teve a ligação interrompida... Faz sentido pensar que a ex mulher é a vítima que não perdoou a mãe. E a cura da alma, não foi alcançada pela mãe? A ex mulher não pode mais falar, significa que a vítima está morta depois de não conseguir perdoar. E que a mãe precisa da cura de sua alma. Cura da alma? O que ele quer dizer com isso? Teria relação com o perdão as coisas terríveis do passado? Balancei a cabeça e olhei o relógio de pulso. 20 minutos se passaram desde que comecei a pensar no caso. Eduardo me viu tomar o café lentamente, sem saber se podia ou não ir embora. Finalmente o liberei, já que está visível que ele não tem envolvimento algum com o crime e não é um suspeito. Preciso de provas, e contra ele não tenho nenhuma. Encontramos o celular do assassino escondido na estante da sala de estar, era pré pago e dos mais baratos, praticamente descartáveis. Alessandro guardou a evidência em um saquinho de evidências e esperou minhas ordens. Nós dois saímos da casa. Agora iriamos voltar para a delegacia verificar mais pistas no celular da mãe.
Cheguei a delegacia com os ouvidos explodindo de tanto ouvir pedidos de entrevistas exclusivas nas melhores redes televisivas. O caso estava tendo repercussão e Skullrion devia amar isso. Então veio a minha mente uma hipótese. A mãe má não merece perdão, a ex mulher já foi embora, porém o final lateja na minha mente. A mãe precisa da cura da alma... Estacionei o carro e vi Alessandro descer, eu por outro lado desliguei o motor e peguei o papel com a mensagem. Reli com cautela e tentei observar algo que não estava vendo. O assassino ordenou que a vítima perdoasse a mãe. Talvez eu precisasse de auxílio. Peguei o celular e liguei para meu pastor o qual não vou aos cultos faz meses. Senti até vergonha ao ouvir a voz dele do outro lado.
- Quanto tempo Danilo... Quer saber os horários dos cultos? - Ele riu ao terminar a pergunta, e me deixou aliviado. O Pastor Wesley era um homem muito bom. Nunca me esqueço de sua luta em vencer o câncer da esposa. Ela estava fraca e frágil, e o câncer foi diagnosticado no meio da gestação de sua filha Ester. Foi terrível. Por que ele sabia que iria chegar o momento que teria que escolher. Por fim ela teve a criança e faleceu no parto. Ele chorou muito, mas manteve a cabeça em pé. A mãe dele parece que morreu de câncer também. Por isso ele é tão sofrido, mas esta ai para mostrar que Deus pode fazer. Seja como for, o homem poderia me ajudar.
- Olá pastor... Quero dizer que não tenho ido aos cultos por que não tenho me esforçado. Cada hora arrumo uma desculpa para mim mesmo. - Falei sinceramente.
- O começo da mudança está em admitir o erro. Mas sei que não foi para se arrepender que me ligou. Diga, o que precisa? Conhecimentos bíblicos? - Questionou com voz de quem estava rindo e ironizando.
-Bem... Estou caçando o assassino Skullrion sabe... - Notei que ele bufou ao ouvir o nome, talvez o serial killer tenha capturado membros da igreja - E as pistas me levaram a uma hipótese. Só me responda o que se refere o perdão dentro da igreja. - Perguntei esperando que isso desse uma luz no caso.
- Perdão? Depende de que estamos falando. O perdão é bom para quem o dá. Por que se não damos perdão, não nos perdoamos e também não vencemos nossos traumas. Quem sofre mais no final é quem não perdoa. Isso é um processo para curar a alma. - Terminou.
- Curar a alma exige perdão de quem nos traumatizou? - Achei um tanto cruel.
- Sim, porém a explicação é muito mais profunda. Por isso quem tem que passar por esse processo, passa por um tipo de curso, onde tratamos de assuntos delicados. Quem finaliza o processo é Deus. - Concluiu o Pastor.
Agradeci a explanação, e me despedi com um sorriso no rosto. Olhei para o lado de fora do carro e vi Alessandro com um cigarro na mão, pela metade. Ele me olhou e voltou a fumar como se não tivesse me visto. Entendo bem o que isso significa. Ele sabe que estou encaixando peças de um enorme quebra cabeças. E sim descobri algo com tudo. O termo "Precisa da cura da alma" Significa que seu próximo alvo é a mãe de João!
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É isso ai. Uma investigação bem complexa. Espero que apreciem! Aguardo comentários.
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Skullrion
Misterio / SuspensoAté onde você iria para salvar sua própria alma? Até quais consequências estaria disposto a sofrer para encontrar a paz? Que linha da moral, da ética e da sanidade estaria disposto a atravessar para enfim descobrir a verdade sobre si mesmo? Skullri...