CAPÍTULO 2 "PILIGRIM E OS SETE ANÕES"

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-Espelho, espelho meu... Existe alguém mais bela do que eu?

-Minha senhora... Depois que vossa majestade mandou matar Branca de Neve, não há ninguém mais bela...

-Ah, essa é uma notícia ótima, Espelho! Acredito que ninguém nunca conseguirá ser mais bela...

O espelho pigarreou e ficou em silêncio. A Rainha logo percebeu que aquilo era uma aversão a sua fala e que ele ainda escondia alguma coisa.

-Tem algo que eu deva saber? -Perguntou a Rainha erguendo as sobrancelhas.

-Bom... A senhora foi muito clara na sua pergunta e eu simplesmente respondi... Mas, já que quer tanto saber, irei pedir que me faça a pergunta novamente, só que incluindo os dois gêneros.

-Ora... Tá bem! Espelho, Espelho meu... Existe alguém mais belo ou bela do que eu?

-Sim, Alteza! O nome deste alguém é Piligrim, o irmão caçula de Branca de Neve... O rapaz completou maior idade hoje, e, bom, o nome dele está acima do seu em termo de beleza...

-Eu não acredito nisso! Piligrim? Meu próprio filho?

-Sim... E imagino que vossa senhoria já sabe o que fazer, não é mesmo?

-Sim! GUARDAS!

Houve um momento de silêncio gigantesco e um dos guardas que guardavam o quarto da Rainha abriu a porta bruscamente com a espada em punhos. Ele olhou para o quarto e seu interior e mirou-a admirando-se no espelho mudo e agora sem vida.

-Chamou, majestade?

-Sim! Preciso que você busque meu filho e o traga aqui imediatamente! Diga-o que eu quero ver-lhe... Chame o caçador aqui também!

-Sim, senhora.

O soldado fez uma longa reverência e saiu em seguida. O espelho ficou quieto e sem vida até o jovem Piligrim entrar sem entender nada no quarto. O garoto se sentou na cama de sua mãe e tornou a contar as novidades que aconteciam na vila dos camponeses. Cinco minutos depois com aquele assunto massante, o caçador entrou porta à dentro e fez um reverência tão longa quanto a do soldado.

-Majestade? Chamou-me?

-Sim, Róger! Preciso que você leve o Piligrim para um passeio! Aquele passeio -Sua voz virou quase um sussurro quando tornou a repetir as duas palavras.

A Rainha se admirava no espelho insistentemente repetidas vezes. Piligrim se alegrou com a ideia de que iria fazer um passeio para fora do Reino.

-Mamãe, já que vou sair para um passeio, irei até meu quarto me trocar, tá bem?

-Claro, meu querido! Não demore! Esse é o seu presente de aniversário...

Piligrim saiu correndo pelos corredores e a Rainha esperou até que seus passos não fossem mais ouvidos para tornar a falar.

-Você sabe do que eu preciso! Não me olhe assim, Róger! Estou mais ressentida do que você imagina! Eu o amo do mesmo jeito que amava a Branca de Neve... Ora, vá logo buscar as armas que irá precisar, já pode ir! Seja rápido com o precedimento... Não quero que ele sinta dor! -Ordenou se mirando no espelho mais uma vez.

-Sim, senhora!

O caçador saiu deixando um pequeno rastro de sujeira da sóla do sapato e ao bater a porta, Piligrim entra escancarando-a alegremente.

-Até mais tarde, Mamãe.

A Rainha não respondeu. Ficou calada com um nó na garganta, e ao sentir o filho se afastar, o puxou para mais perto e deu-lhe um beijo à testa.

O garoto, ainda feliz com a ideia de que iria sair para fora do castelo, se deixou levar pela emoção e nem percebeu que a mãe sequer despedíra-se dele.

Ao atravessar o enorme gramado que tinha ali, Piligrim encontrou o caçador a sua espera com uma adaga na cintura.

Não houve diálogo entre os dois até chegarem na floresta amaldiçoada. O lugar só ganhou esse nome por conta dos mitos e lendas que os antepassados diziam existir ali.

Piligrim se contraiu e não disse nada. Não queria entrar. Aquele local lhe causava calafrios horrendos. Ele não ousou dizer nada. Estava com medo da resposta do caçador, e, um minuto depois, o homem forte e alto à sua frente disse uma palavra como se tivesse lido sua mente.

-Entre! -Ordenou.

-Não, muito obrigado. -Disse tentando não demonstrar seu medo.

-É uma ordem, Piligrim... Ou você entra, ou eu te mato!

-Minha mãe não vai gostar de nada disso!  Me leve de volta para o castelo, por favor?

-Como que ela não vai gostar? Sendo que foi ela quem me mandou fazer isso?

A voz do caçador ia morrendo a cada palavra. Era como que não estivesse disposto a fazer aquilo.

-A muitos anos atrás, eu cometi um grande erro matando sua irmã, Piligrim... E não cometerei esse erro de novo! Entre na floresta, por favor! -Continuou.

-Você? Matou a Branca de Neve? -Gritou.

-Sim! E me arrependo amargamente por isso. Entre antes que eu lhe mate e leve seu coração para sua mãe.

Piligrim se assustou e recuou alguns passos. O caçador sem paciência agarrou-o pelos braços e o deixou até a metade da floresta. Deu-lhe um golpe no pescoço e o deitou no chão desmaiado. No caminho de volta para o castelo, o caçador matou um mendigo e tirou-lhe o coração. Embrulhou num pedaço de pano sujo e continuou caminho.

Assim que chegou nos aposentos de sua Rainha, não disse nada a respeito da morte do pequeno príncipe; apenas ajoelhou-se no chão e murmurou a seguinte frase.

-Como prova, minha senhora... Aqui está o coração de Piligrim.

-Oh, maravilha! -Brandou a Rainha em vivas. A sua felicidade foi tamanha que nem sequer se recordou de comprovar a sua beleza única com o espelho.

Já estava anoitecendo quando Piligrim dispertou lentamente. Estava deitado numa cama que cabia apenas até as suas coxas; o restante das pernas relavam no chão. Ouvia-se vozes em torno dele, e para sua segurança, fingiu dormir.

-Ele deveria ter ficado lá fora!

-Não deveria não, Zangado... -Houve uma pausa e então veio o espirro -Atchin!

-Eu acho que vocês estão se precipitando demais! Ele pode escolher quando acordar... Talvez ele fique... Talvez ele vá!

-Tem razão, Mestre! Mas, você disse que iria me comprar doces nessa manhã e não comprou... Eu quero... Você disse!

-Calado, Dengoso! -Falaram todos.

Piligrim se sentiu atentado pelos nomes e decidiu abrir os olhos e ver os homens que o rodiavam naquela pequena cama. Contou até três em seus pensamentos e então se levantou; bateu a cabeça no teto e caiu sentado.

-Mas quem são vo... Vocês são Anões?

-Não! Somos gigantes em minuaturas! -Disse Zangado revirando os olhos

Feliz, por vez, tornou a rir como todas as vezes que alguém falara asneira.

-Como você consegue rir numa situação dessa? -Perguntou Soneca boçejando. -Vamos tirar um cochilo, galerinha? Momentos como este sempre me dão sono...

Dunga estivera num canto. Calado. Não fizera nenhuma expressão, tampouco pareceu se importar.

Piligrim le levantou meio agachado por conta do tamanho da casinha. Caminhou até a porta e tornou a correr pela escuridão. Os Anões, ainda parados na porta, ficaram sem entender, pois ele sequer fora gentil e agradeceu pela estadia.

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CONTO, A HISTÓRIA JAMAIS CONTADA ~ROMANCE GAY~Onde histórias criam vida. Descubra agora