nonsense

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Eu não entendi. Não fazia sentido para o meu cérebro lento e nada prático. O que ela estava fazendo ali? Se só veio passar as férias, devia saber que não se faz isso dentro de uma escola, em uma sala de aula, com pessoas. Qual é? Férias não são justamente para fugir de tudo isso?

— Vem. — Eddy disse enquanto apertava mais nossas mãos e guiava-nos adentro da classe.

— O que você está fazendo? — ciciei em um questionamento.

Edwin estava nos levando para o território inimigo dominado pela cabeleira castanho-loira e pelo bonitão presunçoso que usava jaqueta de time no primeiro dia de aula. Quem usa jaqueta de time no primeiro dia de aula? Ele sequer sabia se ainda estava no time?

— Jeon… — foi tudo o que ela disse antes de se desvencilhar de mim e sentar duas cadeiras à frente da… Miles, isso. A loira louca e pervertida.

A Wilder me lançou um olhar e eu o li como um pedido de desculpas somado a um por favor. Ela gostava dele, queria estar por perto. E, droga, eu a entendia. Por isso sentei atrás dela, como sempre fazia, visando seus olhares por cima dos ombros e as mãos que sempre se entrelaçavam às minhas em qualquer momento de tensão.

— Você tem certeza disso? — aproximei-me de seu ouvido para indagar baixinho.

— Ah… — percebi que ela havia se arrepiado. Céus, eu causei isso? — Tenho. — virou-se, tirando a mochila dos ombros, para me fitar.

Eu imitei o ato da garota, despindo as alças que anteriormente abraçavam meus ombros.

— Tudo bem. — desviei o olhar; tentava esconder o sorriso e acalmar meu miocárdio, mas a ideia de tê-la arrepiado, mesmo que por susto ou qualquer outra coisa, me deixou esperançoso. — Você sabia que vamos ter aula de História agora?

Ela não pareceu se incomodar com a mudança drástica de assunto, sabia que era algo típico meu. E a animação no meu tom de voz fê-la sorrir. História sempre fora a minha matéria preferida.

— Sei. Você recitou toda a nossa grade em voz alta há alguns minutos. — abriu a mochila, tirando os materiais necessários de lá.

— Eu gosto muito de História — continuei, lembrando que estudaríamos as Grandes Guerras esse ano.

— Eu sei. — ajeitou sua mesa e descansou a mochila sob ela, então voltou a mirar-me — Você diz isso em todas as aulas de História.

— Mas agora é outro ano em outra série e eu vou poder repetir de novo. — joguei a mochila sob os pés. Quando fosse precisar, pegaria as coisas lá dentro; estava mais concentrado na garota de olhos brilhantes à minha frente.

Tão concentrado que esqueci da outra garota com olhos esverdeados à minha fronte.

— Garoto?

Eu travei quando a voz soou. Meus punhos cerraram e meu maxilar trincou.

O que essa garota está fazendo aqui mesmo? A pergunta que me corroía minutos atrás voltou a roer-me pelas beiradas.

— Garoto, é você? — ela insistiu.

Tinham muitos garotos na sala. Os mais a esquerda, que dormiam; os lá na frente, que riam de alguma piada boba e os da direita, que aparentemente ainda deviam estar no primário porque continuavam a agir como imaturas crianças. Uma ampla variedade de adolescentes do sexo masculino. Vários garotos. Vários mesmo. Não poderia ser eu. Seria o Jungkook tão azarado assim?

— Garoto, eu sei que é você.

— Jeon, acho que essa garota está falando contigo. — Eddy notificou, confusa.

Então eu aceitei minha sentença, respirei fundo e me preparei para voltar o rosto para a loira às minhas costas. Quem eu estava tentando enganar, afinal?

— Garoto! — sorriu ao identificar o mesmo semblante frustrado e constrangido que eu lançava a ela sempre que nossos olhares se encontravam.

— O que você está fazendo aqui? — lancei, ignorando qualquer outro cumprimento ou cortesia os quais o convívio gentil em sociedade exigiria.

— Você conhece ele, Miles? — Enoch indagou, confuso.

— Sim! — olhou-o rapidamente, então voltou a focar-se em mim. — Ele trabalha na praia em frente à minha casa. Fui lá todos os dias desde que me mudei. — explicou, mordendo discretamente os lábios.

Se mudou? Ela realmente vive aqui agora?

— Entendi. — o Lawther soprou. — Nunca pensei que sentiria inveja do Jeon. — brincou — Ele te conheceu primeiro.

Não sinta. Ele preferia não ter conhecido.

Aliás, o Jeon também sente inveja de você, caro inimigo, você conquistou o coração da Wilder primeiro.

— Seu nome é Jeon? — Miles perguntou, torcendo os lábios.

Eu nem queria responder. Já estava pronto pra virar pra frente e ignorar a questão quando Eddy replicou no meu lugar:

— Jungkook. Jeon é sobrenome. — pendeu a cabeça para o lado, tentando ser vista pela loira… morena? Nessa luz parece mais castanho do que louro, mas no sol da praia parecia mais claro e… ah, tanto faz. Não é como se eu me importasse mesmo.

— Ah, obrigada. E quem é você? — ela também se inclinou para o lado, mantendo contato visual com minha amiga.

Ou tentando, uma vez que Eddy buscou os olhos de Enoch ao responder:

— Pode me chamar de Ed.

— Prazer, eu sou a Miles.

Eu não sabia o que estava acontecendo. Eu realmente não tinha ideia.

Quando o professor da melhor disciplina do mundo adentrara a sala e todos tiveram de se calar, eu fiquei mais feliz do que o habitual; ficava animado em todas as vezes as quais o via passar pela porta porque sabia que uma aula incrível estava prestes a começar, mas nesse ocorrido em especial, eu me encontrava animado e grato por ter a conversa cortada pela presença mais velha e sábia. Do contrário, provavelmente teria morrido em algum olhar cabisbaixo que Eddy lançaria a Enoch enquanto ele direcionava um capcioso à Miles.

Primeiro dia de aula. Dá pra acreditar? Pois é. Eu também estava descrente…

Na minha má sorte.

Porém eu era otimista. Sempre fui. Okay, nem sempre, mas na maior parte do tempo.

Era um novo ano. O último ano. E eu realmente estava crente de que poderia mudar os sentimentos unilaterais que nutria por Edwin Wilder. Já tinha até conferido o calendário de lançamentos cinematográficos do semestre e pretendia levá-la para ver todos os bons. Eu nem fazia tanta questão de ser retribuído, na verdade. Eu só queria passar o maior tempo possível com ela e ajudá-la a superar o maldito carinha do time de futebol porque… droga, vê-la sofrer era o mesmo que sofrer. Eu queria animá-la. Fazê-la sorrir como sempre fiz.

E, qual é? Nem capitão do time Enoch era. O que tinha demais nele além do enorme ego e das cantadas ruins?

Tudo o que eu queria e precisava era uma Eddy sorridente, me batendo a cada vez que eu brincasse com seus cachinhos e rindo a cada piada boba que eu fizesse. Quem sabe… até percebendo quando meu coração batesse rápido para si.

E tudo o que eu não queria e precisava era de uma loira-morena inconveniente e pervertida para me atrapalhar.

— Eu pesquisei no Google, garoto. — assustei-me quando a voz de Miles cochichou rente à minha nuca — Seu nome é da Coreia. Há! Então é de lá que seus pais vieram? Interessante. E nem precisei contatar seu agente. — concluiu, sarcástica, rindo baixinho. 

Um arrepio involuntário passou por meu corpo ao sentir a risada contra minha pele. E, droga, reagir à ela era quase um insulto pessoal de mim contra mim mesmo.

— Jeon, tudo bem? — Eddy olhou-me por cima dos ombros para indagar. E foi suficiente para que todo meu corpo relaxasse e um sorriso surgisse em meu rosto.

— Tudo. Claro.

Eu acho

Alone Together {Jungkook}Onde histórias criam vida. Descubra agora