due to the gothic factor

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Meus joelhos balançavam no ritmo da minha ansiedade enquanto eu acompanhava os pingos de chuva caírem no vidro da janela e serem arrastados pelas forças da Física — que eu não entendia, só pra fixar —, formando aqueles rastros finos de água.

— Você quer ouvir música? — Miles questionou, forçando-me a olhá-la. Ela já havia ligado o rádio e conectado seu celular a ele por meio do cabo auxiliar.

— Pode ser. — murmurei, vendo-a sorrir e assentir, para então escolher uma playlist em seu telefone quando o farol nos obrigara a parar.

Eu reconheci a primeira música assim que ela começou a tocar. Meus lábios abriram um sorriso automático e meu corpo praticamente pulou no banco.

— My heart's a stereo — fechei a mão direita como se segurasse um telefone para realizar minha performance — It beats for you so listen close.

Miles começou a gargalhar. O semáforo ficou verde e ela continuou a dirigir, mas seus olhos me fitavam de soslaio enquanto eu colocava toda minha energia na cantoria da música.

Eu sempre fui um cantor de chuveiro nato. Na verdade, eu cantava a todo minuto; era meu modo de me distrair e passar o tempo. E eu também nunca tive vergonha de cantar em público, já que opiniões alheias nunca me interessaram mesmo. E, por isso, eu não esperava que Miles me acompanhasse. Eu só comecei a cantar porque gostava da música e senti vontade. Mas, assim que a primeira linha do Adam terminou e eu mexi o pescoço para lá e para cá no ritmo de seu “oh oh”, o rap do Gym Class Heroes começou e trouxe consigo a voz harmônica da loira-morena.

— I used to used to used to, now I'm over that — ela cantou a parte que simulava um disco travado imitando isso, fazendo-me rir. E nós acabamos por entrar em um acordo silencioso de que eu cantaria os vocais e ela os raps da canção, continuando dessa forma até o final da mesma, quando eu me inclinei sobre as pernas para dramatizar uma high note e Miles engrossou a voz de forma quase bizarra para murmurar o último e conclusivo “yeah” da letra.

Alguma música do The Wanted começou a tocar em seguida e eu ri, mirando a motorista de lado enquanto recuperava o ritmo de minha respiração depois da performance intensa e constatando que toda a playlist de Miles era composta por música pop antigona.

— Você só tem músicas de seis anos atrás? — provoquei, ainda mantendo vestígios de sorriso em meu semblante. Arrumei minha postura no banco.

— Essa playlist, sim — devolveu — E você não está em muita posição de reclamar — acusou, visto que eu já cantarolava baixinho a letra da canção.

Não era meu estilo preferido, mas era um que, de fato, todo mundo conhecia. Eu estaria mentindo se dissesse que não sei cantar pelo menos metade das músicas pop farofa que tocaram na rádio durante a minha vida, mas também estaria mentindo se dissesse que as tinha no celular e fazia questão de escutá-las.

— Eles nem existem mais — comentei.

— Ei! — fitou-me como se estivéssemos na idade média e eu houvesse cometido algum tipo de heresia — Palavras machucam, huh?

— Mas é verdade. — dei de ombros, voltando a mirar a janela.

— Infelizmente.

Não tardamos a chegar na tal cafeteria. E, pra ser sincero, pareceu mais rápido do que realmente foi porque o tempo se diluiu entre as primeiras músicas do Bruno Mars e os singles pré-puberdade do Justin Bieber.

— Chegamos. — Miles cantarolou após estacionar o carro. E eu engoli a seco, analisando o estabelecimento que parecia extremamente caro e ponderando quantos trocados eu tinha na carteira e se eles eram suficientes pra comprar pelo menos uma garrafa de água nele.

Alone Together {Jungkook}Onde histórias criam vida. Descubra agora