Ferido

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Ele abriu os olhos lentamente, piscando atordoado.

— Está frio... — reclamou com um murmúrio. Seu corpo doía e ele pode perceber que seu pulso e sua perna estavam enfaixados com tiras de sua túnica rasgada.

Marion deitou-se ao seu lado e abraçou-o. Encostou sua testa na dele.

— Você ficou desacordado por um tempo. Eu dormi e a fogueira se apagou, — ela sussurrou, — e está chovendo, não poderemos acender outra por enquanto — continuou num fio de voz, sem conseguir esconder seu desânimo.

A dor em seu corpo acabou de acordá-lo. A lembrança da luta com os lobos relampejou em sua mente, embora ainda parecesse um sonho irreal. Ele percebeu que ela tinha chorado e fez um carinho em seu rosto com a mão direita, a única que ainda conseguia mover. Seu ombro e todo o braço esquerdo latejavam com uma dor infernal.

— Vão nos encontrar daqui a pouco... -— ele falou para animá-la.

O corpo de Marion estava grudado ao seu, aquecendo-o. Como um reflexo ele acomodou-se um pouco mais junto dela. Se não fosse pela dor até que estaria bem feliz naquele instante... De súbito, o desejo voltou a assaltá-lo. Ele contorceu-se incomodado e tentou afastar-se um pouco. Soltou um palavrão. Ao menor movimento uma onda de dor o invadia!

— Fique parado, Robert! — ela pediu, fazendo uma carícia nos cabelos dele.

Ele quis sorrir, mas tudo que fez foi uma careta.

— É um pouco difícil com você assim tão próxima — sussurrou com ironia.

Um trovão ribombou entre as nuvens cinzentas e a chuva engrossou. Eles estavam protegidos por uma saliência de pedra, porém algumas gotas os alcançavam e fios de água começaram a escorrer na terra sob o corpo deles, molhando-os.

— Talvez encontrássemos abrigo melhor sob as árvores... — Marion falou e sentou-se, procurando por outro local. — Você consegue andar até lá? — perguntou, apontando uma parte seca sob um salgueiro, uma dezena de metros acima do rio.

Ele tentou sentar-se, apoiando o cotovelo no chão, mas sentia-se muito fraco e a dor do lado esquerdo do corpo aumentou. Mordeu os lábios para não gritar e deixou-se cair novamente no chão enlameado.

— Vá você, Marion! — conseguiu falar, depois que a dor diminuiu um pouco.

— É óbvio que não vou deixá-lo aqui sozinho! Mas na próxima vez em que nos perdermos, eu é que vou procurar um abrigo...

⚜️⚜️⚜️

As horas arrastaram-se lentamente.

Ela levantava-se de vez em quando, flexionava e massageava seus braços adormecidos. Trazia água do riacho, equilibrando-a dentro de uma grande folha que dobrara em cone e obrigava Robert a beber. Ele dormia e acordava intermitentemente, murmurando palavras confusas. Ambos estavam molhados, sujos de terra e de sangue e ela lembrou-se com saudades de Locksley e da sala confortável, decorada com tapetes e almofadas macias, onde estariam passando o tempo com leituras ou jogos em um dia chuvoso como este.

— Marion! — ele a chamou.

Os olhos dela voltaram-se para ele, examinando-o. Ele parecia estar mais acordado e ela ajeitou a cabeça dele o melhor que pode em seu colo.

— Se não nos encontrarem hoje... — ele começou a falar, observando com preocupação a garoa fina que ainda caia devagar.

— Eles vão vir! Já devem estar próximos! — ela o interrompeu. Não queria pensar na outra possibilidade.

— Se tivermos que passar mais uma noite aqui, prometa-me que vai subir naquela árvore de novo. O cheiro de sangue poderá atrair outros animais.

Ela sentiu um nó na garganta.

— Não! — ela protestou e lágrimas involuntárias escorreram por seu rosto.

— Prometa-me que vai fazer tudo para sobreviver. Se não puder me ajudar...

— Não vou deixá-lo!

— Se precisar vai! Hoje ou qualquer outro dia! Se estivesse no meu lugar, não gostaria que eu fizesse isso? Ou preferia me ver morrer junto a você, sabendo que não precisava ser assim?

Ela deu um soluço.

— Pare com isso! Você está me assustando!

Ele fez um esforço enorme para continuar.

— Se você morrer antes de mim farei o possível para sobreviver a isso da melhor maneira e levar uma vida feliz. Você não gostaria que fosse assim? Que eu ficasse bem quando você se fosse? — argumentou.

— Pare!

— Prometa-me! — ele implorou mais uma vez, a dor e a fraqueza turvando sua voz.

A lógica deste raciocínio era esmagadora. Enfim, ela abaixou o rosto, concordando com um murmúrio.

Ele suspirou, aliviado, enquanto sentia as mãos dela acariciarem seus cabelos suavemente como ela costumava fazer quando se sentavam juntos à beira da lareira. Fechou os olhos procurando ignorar a dor e o frio do corpo enlameado até que o cansaço o dominou mais uma vez e ele dormiu.

Sobre Amor e Lobos vol.1  VERSÃO WATTPADOnde histórias criam vida. Descubra agora