Uma Noite Interminável

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Marion subiu as escadas rapidamente e entrou em seus aposentos. Cruzou a antessala decorada com grandes almofadas e um tapete em frente à lareira e correu para o quarto onde dormia, fechando a pesada porta de madeira que separava os ambientes com uma batida forte.

O quarto tinha uma grande cama, alguns baús de madeira encostados nas paredes onde ela guardava suas roupas e pertences e uma pequena mesa redonda sob a janela alta e estreita.

Ela sentou-se em cima de um dos baús e cruzou os braços, esperando.

Alguns instantes depois, a porta se abriu e Robert entrou. Ela sabia que ele viria. Mesmo assim, seus olhos faiscaram de raiva ao vê-lo entrar.

— O que faz aqui? Devia estar com aquela camponesa!

— Por que está com raiva?

Ele aproximou-se, segurando o braço dela.

— Raiva? — ela deu uma risada sarcástica, soltando seu braço com um movimento brusco, — Passaria o resto de minha vida com raiva se fosse me importar com todas as suas aventuras com as garotas!

— Sim... Tem razão, seria uma perda de tempo já que vai estar casada! — ele exclamou com ironia. —O que quer? Que me torne um monge?

Ela deu de ombros, levantou-se do baú e afastou-se.

— Tanto faz! Saia daqui e vá procurar Natalie... Ou Delany ou Mosley...

— Pelo menos ainda não me vendi por um pedaço de terras! — ele falou impulsivamente.

— Você é detestável! Eu o odeio! — ela gritou com um olhar furioso, pegando um pequeno vaso de cerâmica de cima de uma mesa e atirando-o com força em cima dele.

Ele ergueu o braço, protegendo-se e o vaso estilhaçou-se no chão.

Marion jogou-se na cama de bruços, cobrindo o rosto com o braço.

— Saia daqui! Nunca mais quero vê-lo! — ela gritou e começou a chorar.

Ele suspirou, o corpo estremecendo de angústia. Não podia ficar com ela, não podia ficar com outra... Nunca se sentira tão miserável e confuso! Adiantou-se, querendo desculpar-se e envolvê-la em seus braços e ajoelhou-se ao lado dela.

— Desculpe-me! Falei sem pensar... — murmurou arrependido.

Ela virou o rosto molhado de lágrimas para ele e, subitamente, Robert sentiu-se enlouquecer pelo rosto dela, pelos olhos, pelos lábios que o convidavam a perder-se neles pelo resto de sua vida. Um incontrolável do desejo o arrastava para águas profundas. A noite na floresta. Os lobos... Eles fazendo amor ao lado da fogueira... A dúvida ainda o queimava insistente. Queria perguntar a ela se aquilo fora real, mas parte dele desejava não saber. Sem saber o que estava fazendo, adiantou-se para beijá-la.

Clarice entrou no aposento, cantando com ar distraído.

Robert pulou para longe da cama. Marion escondeu o rosto entre os braços e limpou as lágrimas discretamente.

— Boa noite, Robert! Marion deve aprontar-se para dormir — ela parou em meio ao quarto, estranhando os cacos de cerâmica espalhados pelo chão.

— Sim, é claro! — ele respondeu cabisbaixo. Em seguida, despediu-se e saiu rapidamente.

⚜️⚜️⚜️

Ele não conseguia dormir

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Ele não conseguia dormir. Durante a maior parte da noite revirara-se na cama, tentando lembrar-se de como eram seus sentimentos por Marion há apenas alguns meses atrás. Eles cresceram juntos, ela era sua irmã... Irmã, não! O rosto dele se contorceu em uma careta de repúdio.

— Amiga! Amiga! — ele respirou fundo e concentrou-se, relembrando, forçando sua mente para retornar a sentir apenas o carinho e o amor tranquilo de antes.


Assim tudo estaria resolvido. Ela se casaria. Ele a acompanharia ao altar e sorriria feliz ao entregá-la a Francis. Sua noiva Hastings, prima de Francis, também sorriria para ele... E ele continuaria a sorrir quando pegasse sua espada e cortasse a cabeça de Francis, deliciando-se com o sangue escorrendo do pescoço dele e manchando o vestido de sua odiosa prima. E ele e Marion correriam juntos para a floresta e fariam amor sob a luz da lua...

—Não! — ele exclamou com frustração e se revirou novamente nos lençóis.

Por fim, sentou-se na cama, a cabeça entre as mãos. Idiota! Isso é uma estupidez!É inútil!

Mas ele a amava.

Não, não a amo. É apenas um capricho, um desejo. Ele levantou-se e foi até a janela. Vênus brilhava forte no céu, rindo de seu desespero. Em algum lugar do Universo, a deusa grega do amor devia estar divertindo-se bastante às suas custas...

Viu seu alaúde encostado em um canto. Gostava de tocar e compor alguns versos, inspirado pelos menestréis e cantores que frequentavam Locksley, porém desde que voltara de Hastings não tivera vontade de tocá-lo. Pegou o instrumento e sentou-se na beirada da cama, começando a dedilhá-lo. As musicas que os menestréis cantavam sobre o amor agora pareciam infantis e ingênuas. E o amor cortês... Uma grande bobagem! Todas aquelas histórias sobre cavaleiros apaixonados por suas damas inalcançáveis que os obrigavam a provar seu amor com diversas façanhas impossíveis enquanto eles as obedeciam cegamente e felizes...

—Felizes! — soltou uma risada irônica, sentindo-se mais miserável do que nunca.

Ele tocou mais algumas notas. O amor era um tormento, uma maldição. Era como ficar doente. Mas talvez, o que estava sentindo não fosse amor e sim, outra coisa. Talvez fosse mesmo alguma espécie de doença...

Maldição! Isso daria uma péssima musica! Ele jogou-se na cama e deixou o alaúde de lado. O que quer que ele dissesse sobre o amor seria inoportuno, seguramente inadequado e distante da verdade. Seria um esforço inútil!

—Durma! Durma! — ordenou a si mesmo e fechou as pálpebras.

Seus olhos abriram-se. Ele virou o rosto. Em um canto escuro do quarto, um par de olhos brilhantes e selvagens o encarava.


Um lobo!

Sem se mexer, procurou com os olhos pela faca que deixava sempre em cima do baú ao lado da cama. Devagarinho, sua mão a alcançou e apertou o punho dela com força. Um suor frio escorria de sua testa e seu coração batia apressado. Respirou fundo e pulou de encontro à sombra com a faca levantada e um berro de fúria e pavor, mas a imagem desvaneceu-se no ar e ele caiu de joelhos no chão de pedra.

Mais um sonho! Estava enlouquecendo com aquilo! Ergueu-se e arrastou-se até a cama, deitando-se novamente com um suspiro de exaustão.

Sobre Amor e Lobos vol.1  VERSÃO WATTPADOnde histórias criam vida. Descubra agora