Sonhos Reais

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A carruagem sacolejava em um ritmo lento, avançando devagar pela estrada de terra esburacada.

Os olhos de Robert, entediados, demoravam-se na paisagem de colinas suaves cobertas pela relva e pequenas flores típicas da primavera. Após duas noites perdidos na floresta, haviam sido encontrados por seu pai, o conde e um grupo de soldados. 

Ele passara alguns dias em uma hospedaria próxima, recuperando-se, e agora, ele e Marion estavam voltando a Locksley acompanhados por alguns soldados. Seu pai, que só não o matara porque ele já estava bastante machucado, já seguira no dia anterior com sua mãe e o conde. 

 Um dos soldados soltou uma gargalhada alta, rindo de alguma das anedotas engraçadas que costumavam contar entre eles e ele suspirou, desejando poder cavalgar ao lado deles. 

Ele resmungou de dor quando a carruagem passou por um buraco maior com um tranco.

Marion o olhou, preocupada.

— Quer que eu peça para o cocheiro ir mais devagar? — ela perguntou.

— Mais devagar do que isso? Acho que seria impossível!

A dor dos ferimentos piorara com o movimento constante, porém o único jeito era suportá-la se não jamais chegariam ao castelo.

Ela deixou escapar um suspiro resignado e aproximou-se, passando a mão em seu braço para acalmá-lo. O humor dele estava insuportável desde o início da viagem.

O corpo de Robert se retraiu em um reflexo. O toque dela o torturava! Nas últimas noites tivera sempre o mesmo sonho. Um sonho intenso e que parecia real...

 Eles faziam amor junto à fogueira e os lobos os observavam com chamas avermelhadas ardendo nos olhos selvagens. O desejo o consumia, seu corpo queimava e ele olhava nos olhos dela. Eles eram iguais aos dos lobos! Seu coração estremecia de pavor e ele tentava soltá-la, mas era tarde demais... Ela também se transformara em um deles. 

Acordava neste ponto com a excitação e o medo misturando-se em sua alma. E a dúvida... Uma dúvida que continuava a torturá-lo insuportavelmente. Eles tinham realmente feito amor junto à fogueira? Eu também imaginei conversar com um lobo e isso com certeza não aconteceu de verdade. Será mesmo? Parecera tão real...

A mão dela subiu para seus cabelos no gesto de carinho familiar que ela fazia para acalmá-lo. Ele a segurou e a retirou com firmeza.

— Pare com isso! — pediu rispidamente.

Ela afastou-se contrariada.

— Talvez prefira os carinhos daquela criada da hospedaria...

Ele voltou-se para ela.

— Não quis deitar-me com aquela garota se quer mesmo saber! — exclamou com voz frustrada. Uma criada aparecera no meio da noite trazendo uma fatia de bolo e sentara-se na sua cama, oferecendo-se juntamente com o doce, mas ele a dispensara, sem vontade.

— Oh! Que lamentável! Sua fama deve estar bastante diminuída à uma hora destas... — ela falou com ironia.

Sim! Por sua culpa! A imagem dela dançando ao redor da fogueira o assombrou mais uma vez. Mais uma vez... Um milhão de vezes... Por mais que tentasse esquecê-la!

Ele deu-lhe as costas e fechou os olhos, encolhendo-se no canto do banco.

Estavam juntos novamente. O sonho era o mesmo. Mas, pelo menos, agora ele sabia que era um sonho e tentou se libertar dele. Ele lutou afastando as sombras que o envolviam, os dentes que mordiam e retalhavam o seu corpo enquanto fazia amor com ela desesperadamente.

Soltou um grito baixo e abriu os olhos.

Ainda estava na carruagem, sentia dor e seus músculos estavam enrijecidos pela viagem cansativa. Marion, ao seu lado, o fitava com um fulgor estranho nos olhos verdes.

Ele gemeu, a mente ainda emaranhada no sonho. Seus rostos estavam próximos e ele a atacou, beijando-a com violência e apertando-a junto a si. Ela arquejou com o assalto inesperado, mas não resistiu e ele continuou com o beijo, pressionando seu corpo ao dela. Sua boca desceu para o pescoço macio, a mão acariciando o quadril. Uma parte de sua alma o alertou do perigo, mas ele não conseguiu parar...

A carruagem estacou de repente e eles caíram engalfinhados no chão, sem fôlego. Ele bateu o ombro machucado e gritou, a dor intensa explodindo em sua mente. Ergueu-se como um raio, desvencilhando-se dos braços dela, a sensação de perigo o invadindo. Ela levantou-se vagarosamente, deu uma risada que se transformou em um rosnado e depois o atacou, mordendo-o com dentes afiados...

— Robert! Robert! — Marion o sacudia tentando acordá-lo enquanto ele gemia e se contorcia agitado.

Finalmente, ele percebeu que tinha despertado de verdade.

— Você está bem? Estava sonhando... — a ouviu perguntar.

Se estou bem? Como posso estar bem sendo devorado por um lobo de olhos verdes e brilhantes? Ele arquejou tentando respirar e limpou algumas gotas de suor do rosto com o braço.

A mão dela pousou em sua testa. — Será que você está com febre de novo? — Os olhos verdes de Marion o fitavam com uma expressão preocupada.

Ele a encarou com um ar assustado, afastando-se como se ela fosse atacá-lo mais uma vez. Em seguida, atirou-se para a porta da carruagem. Precisava fugir...

Tropeçou no degrau lateral e quase caiu, mas por sorte um braço estendeu-se para ampará-lo.

Lawrence estava parado à sua frente.

— Ouvimos um grito! Está tudo bem?

Ele aprumou-se, passou a mão no rosto e balançou a cabeça com força para afastar os últimos resquícios do sonho. Sim, estava bem... Apenas estava ficando meio louco!

— Tive um pesadelo! Preciso tomar um pouco de ar — explicou ao capitão e começou a andar em direção às árvores na beira da estrada.

— Não demore! E não vá se perder de novo! — o capitão gritou ao vê-lo sumir entre elas.

Nota da autora: será que ele estava sonhando e a última noite na floresta não foi real??? o que vocês acham? Deixem seus comentários e seu voto.

Sobre Amor e Lobos vol.1  VERSÃO WATTPADOnde histórias criam vida. Descubra agora