Capítulo I - A Noite Do Demonio [Parte 2]

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Mais tarde, às 19h daquele dia, Yumiko estava escondida nas sombras do pátio da escola, vigiando cautelosamente a sala de informática. Um vento desconfortavelmente quente soprava, carregando consigo enxames de insetos irritantes que se recusavam a deixá-la em paz. A Lua cheia se mostrou em meio a um buraco nas nuvens, iluminando o prédio quadrado que abrigava a sala de informática.

“Me sinto uma idiota. Uma veterana do ensino médio brincando de detetive!” — Yumiko sorriu um sorriso amargo enquanto observava cautelosamente a vazia sala de informática. Ela se perguntava por que estava ali fazendo aquilo.
Yumiko tinha certeza de que Nakajima disse “hoje à noite”. Não era normal um aluno chamar uma professora para a sala de informática no meio da noite. Claro que não era da conta dela o que os dois iam fazer lá. Mas ao ver o caminhar quase embriagado de Ohara quando ela saiu da sala de aula, Yumiko ficou muito brava, consumida pela vontade de descobrir qual era a relação entre os dois. Por isso ela se escondeu ali a tarde toda.

Seria amor à primeira vista?

Não, isso era uma conclusão precipitada demais.

É, com certeza...

Yumiko não podia negar que Nakajima tinha algo único, mas também não conseguia deixar de pensar que o que a atraía nele era algum tipo de conexão mais profunda, algo mais que o típico “amor ou ódio”.

Os ponteiros do relógio marcaram 21h, e bem quando Yumiko estava prestes a cair no sono, a silhueta de uma pessoa passou pela janela do corredor e entrou na sala de informática. O corpo de Yumiko enrijeceu de nervosismo. Uma luz se acendeu dentro da sala de informática, e pelo vidro da janela, as silhuetas de várias pessoas se locomovendo pela sala se tornaram visíveis. Mas antes que o coração de Yumiko sequer tivesse a chance de começar a acelerar, a sombra de um homem muito grande se aproximou da janela, e num instante, todas as cortinas foram fechadas.
Parecia que Nakajima e Ohara não eram as únicas pessoas que iam se encontrar ali. O mistério se tornou ainda maior, e Yumiko, tomada pela curiosidade, decidiu sair dos fundos do pátio e chegar mais perto da sala de informática para ver melhor.

Enquanto Yumiko saía do seu ponto de observação, Ohara se aproximou furtivamente da sala de informática, abriu a porta devagar e entrou. A sala estava muito bem iluminada, e três alunos vieram cumprimentá-la. Os três estavam vestidos com mantos negros; um deles carregava uma bandeja de prata e os outros dois carregavam espadas e castiçais. A mesa no centro da sala, que normalmente abrigava vários computadores, havia sido removida, e no seu lugar estava um sofá de couro. Akemi Nakajima estava sentado no sofá, em profunda meditação. Um grande círculo dividido em doze seções, como um horóscopo, fora desenhado no chão, com o sofá situado no centro. Em quatro lugares dentro do círculo havia símbolos astrológicos representando a Lua, o Sol, Marte e Plutão.

— Olá. Seja bem-vinda. — Percebendo a chegada de Ohara, Nakajima parou sua meditação e se levantou lentamente. Quando se afastou do sofá, as várias correias presas às pernas, braços e assentos – cintas evidentemente feitas para prender uma pessoa – ficaram claramente visíveis. Porém, mesmo vendo isso, Ohara não demonstrou nenhum sinal de medo. Na verdade, ela pareceu até se acalmar um pouco. Sorrindo e fazendo que sim com a cabeça, Nakajima ordenou que os três alunos apagassem as luzes da sala e acendessem as velas. Eles seguiram as ordens obedientemente. Como que movida pela aura misteriosa que a sala agora escura emanava, Ohara se ajoelhou no chão na frente de Nakajima. A mão branca, quase translúcida, de Nakajima tocou a bochecha corada de Ohara.

— Calma, relaxe. Em poucos minutos, o demônio Loki chegará. Loki é conhecido pela sua beleza e astúcia. Perfeito para você, professora. — Nakajima falou com uma voz elegante e doce, capaz de derreter o coração de qualquer pessoa. Enquanto sua mão deslizava da bochecha de Ohara para o seu pescoço, a respiração dela ficava funda e pesada.

Digital Devil Story: Megami TenseiOnde histórias criam vida. Descubra agora