Angel, de caçadora à conselheira do inferno.

Oração ao inferno

Depois daquele estranho acordo com uma caçadora, Josh volta para a universidade, que mais parecia uma grande República, já que não tinham aulas. E tudo não passava de aparência para abrigar os sobrenaturais que passavam por ali e resolviam ficar por algum tempo.
Josh entrou em seu quarto, tão sério quanto saiu, o medo de ter se aliado a uma caçadora pesava sobre seus ombros. Ele se jogou em sua cama, crusou os braços atrás da cabeça, fechou os olhos e respirou fundo, esperando ter feito uma boa escolha.

- Pensando demais ? O que aconteceu la?-  Perguntou Kathe, que viu Josh entrar tão afundado em seus pensamentos que nem notou que ela estava no quarto também. 

- Talvez. Nada além do que eu imaginei, um velho morto e uma puta responsabilidade em minhas mãos - Ele respondeu ainda de olhos fechados.

Kathe caminhou até a cama dele e sentou - se ao seu lado.
- Imagino que terá días difíceis, mas estarei aqui para ajudá - lo no que precisar . Posso te a ajudar a descobrir o que houve com o velho.- Josh abriu os olhos e a encarou como se quisesse ler sua alma. Talvez ele devesse ter falado com a vampira  antes de se aliar a caçadora. 

- E como poderia me ajudar?- perguntou curioso

- Sinceramente, não sei. Mas podemos ir atrás de quem fez aquilo e o torturar até que ele fale tudo o que precisamos saber. O que acha?

- Para ir atrás do assassino, tenho que descobrir quem é ele, primeiramente. - Respondeu depois de ouvir a vampira, tendo a certeza que foi bom pedir ajuda a alguém mais experiente.

- É verdade!- disse frustrada.

- De qualquer forma, obrigado.- Ele deu um breve sorriso e voltou a fechar os olhos.

- Sinto muito por tudo isso. Sei que não está feliz. Deve ser muita pressão. Mas por que você que tem que resolver isso, ou apenas você?- Perguntou

- Você não tem idéia de quem sou, não é? - Ele sorriu fraco.

- Não, não tenho. Por que não me conta? Não sei nada sobre você.

- É uma longa história, Kathe.- Ele deu um suspiro pesado

- Não tenho pressa nenhuma!- Ela disse ajeitando - se melhor para por a cabeça de Josh em seu colo.

-Está bem... Bom, como sabe sou um demônio, mas não qualquer demônio.  Não deve ter percebido por que não falo muito o meu sobrenome, evito ao máximo falar dele.  Mas sou um Crowley. O único, além do meu tio Crowley, o rei do inferno. Minha avó, Rowena, apaixonou - se por uma qualquer e gerou meu tio. Quase ninguém sabia dele, pois ela o abandonou. Anos depois gerou meu pai, mas o abandonou também. Ao crecer, meu pai se tornou um Bruxo não muito poderoso, já minha mãe era uma simples humana. Tinhamos uma vida normal e aparentemente feliz, mas dias antes de eu completar  15 anos, caçadores invadiram minhas casa, ao que me parece, meu pai tinha feito mal a alguém, e minha mãe e eu pagamos por isso também.  Eles pareciam inexperientes, estavam nervosos e não acreditaram que eu e minha mãe éramos normais. Então,  mataram primeiro meu pai, deram um tiro na cabeça e depois queimaram seu corpo. Em seguida foi minha mãe, com um tiro no peito e também a queimaram. Eu fiquei por último,  a intenção também era um tiro no coração, mas acho que pelo nervosismo acertaram bem abaixo. Me fingi de morto e creio que por obra do destino, não queimaram meu corpo. Quando eles foram embora, eu tentei me levantar para pedir ajuda, mas não consegui. Eu senti que estava perdendo muito sangue e logo morreria, e toda minha pequena vida até ali, se passou como um filme diante dos meus olhos. Eu tinha tantos sonhos... Como todo bom menino americano, eu sonhava em ser presidente do meu país. E por incrível que pareça, minha mãe me incentivava. Ela sempre me dizia que eu tinha que correr atrás dos meus sonhos, por que ninguém faria isso por mim. Sempre gostei de aparecer, não me permitía passar despercebido em lugar nenhum. Sempre sonhei alto, sempre soube que o meu lugar era na realeza, só não imaginava que seria essa. Com todos esses pensamentos não me permiti morrer assim, injustiçado e subjugado. Por isso, orei.  Mas não a Deus... Talvez ele não fosse me ajudar, e com as únicas forças que me restavam eu orei ao inferno. Prometi que se eu me livrasse daquela morte, serviria a eles por toda minha vida. Se minha mãe tivesse me ouvido, teria morrido de desgosto. Logo ela, tão religiosa... Mas ela não estava mais lá,  e  eu fiz o que foi preciso para continuar vivo. Mas com tantos demônios pelo inferno, que apareceu foi o meu tio. Não se apresentou como tal logo de cara, mas disse que tinha planos para mim, e eu disse que aceitaria o que fosse se eu pudesse sobreviver...
Ele sabia quem eu era! Meu pai e ele nunca foram amigos, pelo contrário.  Sempre ouvi meu pai dizendo coisas horríveis dele, e não duvido que ele fazia o mesmo sobre meu pai. Bruxos e demônios não se dão muito bem. Lembro que desmaiei, e quando acordei, era como se não fosse mais eu. Sem dor, sem sentimentos, sem coração,  sem nada. Desmaiei humano e acordei demônio.  Não sei o que ele fez, talvez tenha me dado do seu sangue ou coisa parecida, mas não me importei e nem fiz questão de perguntar o que aconteceu enquanto eu estava desmaiado... Naquele momento foi bom, eu sofreria muito com a morte dos meus pais, e aquilo tudo que eu vi acontecer, não passavam de meras lembranças, que nem tristeza me causavam.
Com o tempo meu tio foi me explicando as coisas, disse que tinha me salvado por que eu era seu sobrinho, que Ele tinha me procurado por muito tempo, coisa que não acredito. Meu tio não tinha descendentes, seu único filho havia morrido em um naufrágio, e consequentemente, eu era seu único herdeiro.  Aos poucos fui aprendendo sobre tudo, como comandar, como agir e até mesmo como andar. Assim como os príncipes da Inglaterra, eu tinha a a agenda lotava de afazeres, mas nada me agradava. Vendo que eu já estava cansado de uma rotina monótona e sem graça, Crowley me permitiu vir e passar um tempo por aqui. Tenho me mantido em anonimato. Quero ser normal pelo menos uma vez, fazer minhas escolhas e traçar meu próprio destino, se é que isso é possível.  E aqui estou eu... o futuro rei do inferno, escondido e que de quebra está investigando a morte de um demônio de alto escalão.
Essa é minha história! - Josh disse após terminar de contar um resumão de toda sua vida.

- Nossa! Sinto muito pela perda dos seus pais e por tudo que tenha passado até aqui. Pensei que eu tinha tido uma vida meio turbulenta, mas acho que você me venceu nesse quesito- Ela deu um sorriso sem jeito e se pôs a fazer cafune em Josh.

- Não sinta, nem eu sinto mais. Faz parte, quanto mais é dado, mais é cobrado...

De certa forma, Josh se sentía aliviado por desabafar aquilo com alguém,  sentia - se mais leve agora. Mas nem ele e nem a vampira perceberam que mais alguém ouvia aquela história.

(Momentos antes)

-Pode ir pro quarto, Ed. Vou passar no quarto do diabo pra deixar algumas coisas claras para ele. Se ele tá pensando que vai me dar ordens tá muito enganado.- Ela disse bufando enquanto eles subiam os últimos degraus das escadas da universidade.

- Está bem, mas vê se não arruma confusão.- Disse ele já entrando no quarto.

- Não garanto nada.- Ela parou em frente a porta dele e encheu o peito de ar mas logo o soltou ouvindo que Josh falava algo. Não dava pra escutar muito bem, mas a porta estava entreaberta. Ela pôs o ouvido na abertura da mesma e começou a ouvir a conversa.

- (...) Está bem... Bom, como sabe sou um demônio, mas não qualquer demônio.  Não deve ter percebido por que não falo muito o meu sobrenome, evito ao máximo falar dele.  Mas sou um Crowley. O único, além do meu tio Crowley, o rei do inferno. (...)

Depois de ouvir toda a conversa, Angel decidiu deixar suas pendências  com Josh para outra hora. Ela não imaginava que ele tinha passado por tantas coisas assim, ninguém poderia imaginar. Mas de uma coisa ela tinha certeza, ele foi forte. E continua sendo... superando cada coisa, cada obstáculo que tem aparecido para ele. Depois que tudo que ficou sabendo, Angel entrou em seu quarto com novos pensamentos sobre Josh, pensamentos esses que poderiam atrapalhar sua missão e assim a levar aos braços da morte.