Capítulo 1 - A menina que é cercada de mentiras

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Há mais ou menos uma hora venho ignorando "minha mãe" e "meu pai", que acabei de descobrir ser nada mais, nada menos, que tudo menos meus verdadeiros pais. Tudo bem, eu deveria agradece-los por terem cuidado de mim como uma verdadeira filha? Sim, e de fato, sou grata. Mas tenho 20 anos de idade, não sou criança faz tempo e sempre fui independente.
Ou seja, eu tinha a maturidade de saber a verdade e entender a minha realidade, mas eles preferiram mentir ou, de acordo com eles, não contar para me proteger.
Parecia até que eu sempre soube que era tudo uma farsa pois sempre bati na tecla que a mentira não protege, ela é quem machuca. A verdade, por mais difícil que seja, é a mais clara proteção.
Mas não, ainda com a resposta de que eu queria saber a verdade bem na frente deles, a escolha foi mentir.

20 ligações perdidas de Rosana Mãe

Ela também não entende que preciso de mais tempo para processar o que acorreu mais cedo. Meu, até então desconhecido irmão, bate na porta da minha casa e diz que precisa de mim urgentemente pois preciso doar sangue para a minha, até então desconhecida, mãe que irá passar por uma cirurgia em menos de vinte minutos de agora.
Me encontro no hospital do Rio de Janeiro esperando, mesmo que confusa com toda situação, para fazer a minha parte e ir embora daqui para ter uma conversa séria com a dona Rosana.

Então você se pergunta, porque postar uma foto num momento como esse?
Porque minha "mãe" Rosana, sempre odiou expor a vida nas redes sociais, e um jeito de irrita-la é fazer isso. Expor a dor, que deveria ser ignorada. Expor o sorriso, que até então diziam ser parecido com o dela. Uma ová.

- Falaram que ela vai para a cirurgia agora - disse Juan, meu recente conhecido irmão

- Não poderia ligar menos - dei um sorriso torto para ele e voltei a mexer no meu celular conversando com Jessy, minha melhor amiga

- Deveria - ele sentou ao meu lado

- Porque, se até uma hora atrás, eu nem sabia da existência dela? - bloqueei meu celular - Você quer mesmo falar sobre quem liga menos nessa situação? Logo comigo? - encarei seus olhos que não expressavam nenhum pingo de sentimento.

- Quero porque tudo nessa vida tem explicação - ele disse sem parar de me encarar. É, acho que realmente somos irmãos pela teimosia

- Certas coisas não podem ser explicadas, e uma delas é a razão de uma mãe abandonar sua filha - desisto de encarar a frieza que ele tinha, mas por um segundo, pude notar medo.

- Ela não sabia de você - ele olhou para frente assim como eu, encarando o nada

- Como não? Ninguem dá a luz e não sabe disso - dou uma risada ironica

- Falaram para ela que a filha tinha falecido no parto e só eu havia sobrevivido. Descobrimos em menos de quatro horas pelo banco de dados de sangue que você existe - ele deu uma pausa - nunca imaginei dizer isso, mas obrigada por doar sangue

- Então somos - dei uma pausa engolindo seco - gêmeos? - o encarei

Nossos traços, encarando agora sem julga-lo, eram parecidos. Os mesmos olhos pequenos azulados, boca grande, apenas o nariz que mudava já que o dele era um pouco maior que o meu. Não pude reparar em nossa altura, mas eramos muito parecidos encarando agora como uma garota que acaba de descobrir ter um irmão gêmeo.

- Sim - ele deu um sorriso - somos

- Uau - dei um suspiro

- Senhor González? - perguntou o doutor para Juan

- Sim - ele se levantou

- Sua mãe vai para a cirurgia agora, vim apenas avisa-lo - Juan acentiu com a cabeça e voltou a se sentar ao meu lado

- Estarei aqui - sussurrei tocando em suas mãos e ambos sentimos um choque

- Na verdade, acho que, indiretamente, sempre esteve - ele segurou minha mão tambem relaxando os ombros e sorrindo para mim baixando sua guarda

Ficamos conversando o tempo todo. Nossa mãe - estranho dizer mas verdade até então - passou por um assalto e um dos assaltantes atirou na mesma por estar passando perto, e a bala acabou atingindo um de seus orgãos e ela perdeu muito sangue antes de chegar no hospital, por essa razão, não apenas o sangue de Juan seria suficiente e foi assim que encontraram um outro compatível, que seria eu, porem por ter ficado alguns meses sem doar eles precisavam de mais, e foi quando meu mais novo irmão entrou em contato comigo.

Descobri em nossa conversa que minha recente conhecida família por parte de mãe é colombiana, e ai explica o amor que sempre tive pelo lugar, a cultura e a seleção. Já por parte de pai é brasileira mesmo. Meu pai e mãe já não estão juntos há dez anos por ele ser um alcoólatra que chegava em casa e batia no Juan e na Luna, minha mãe.
Meu irmão e mãe moram no Rio de Janeiro, assim como eu, no bairro do flamengo, e por incrivel que pareça, eu tambem.
O mundo é grande demais, mas sempre escolhe o momento certo de ser pequeno.
Também descobri que Luna é enfermeira e Juan quer ser jogador de futebol, e de acordo com ele, já está sendo procurado por seu ótimo desempenho no time do flamengo, e sim, ele é um dos jogadores, porem, fica no banco nos jogos mas no treino ele aproveita o momento e faz a festa para quem sabe, um olheiro escolhe-lo. Acho que é de família - tambem - o amor pelo futebol.

Após uma hora da nossa conversa e descobertas o doutor voltou dizendo que Luna já havia saido da cirurgia e estava na UTI por causa do pós operatório mas que tudo estava bem. Juan perturbou tando o médico para vê-la que o mesmo deixou e ele foi, me deixando ali sozinha com tudo que havia acabado de descobrir.

Mas ainda assim, com "duas famílias" eu me sentia sozinha.
Tudo que eu vivi, minha infância, minha ideia de família, de amor, tudo foi mudado em um segundo e não tive a capacidade de respirar e dizer para ir com calma. Eu não tive esse direito, muito menos o da escolha.
E por mais que agora eu esteja respirando, por dentro estou morrendo sufocada.
É horrível ter certeza de tudo, e num momento qualquer, toda tua certeza é levada pelas mentiras que te rodearam.
Eu amo os meus pais que me criaram, mas não era direito deles esconder a verdade.
Eu perdi a direção da minha vida, mas na verdade, eu pareço nunca ter estado em controle da mesma.

Eu prometi nunca mais voltar para as mentiras que tanto me assombraram no passado.
É, acho que eu tenho um grande problema com mentir. Mas eu preciso, por um segundo, entrar de cabeça naquela realidade que anos atrás, era tudo para mim. Preciso sair desse mundo e voltar para o mundo que tanto me machucou num passado não tão distante.
Até porque,
o que é mais uma mentira para quem já é uma?

Twitter: Tem certeza que quer logar novamente na conta @HellAngel?

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