As folhas alaranjadas das árvores balançavam ao vento fresco da tarde de outono.
Namjoon, deitado na cama, descansava um pouco. O blusão de algodão branco fazia seus olhos negros ganharem um ar gentil de sonolência e inocência, junto à calça de seus pijamas. Trabalhava demais: quando não estava compondo, estava criando melodias, e quando não estava criando melodias, estava lendo e assim seguia. O corpo grande, atribuído de um rosto gentil que contrastava com a altura notável, precisava acompanhar a frequência de suas ideias e projetos o tempo todo. Ele raramente parava de pensar, vivia procurando modos de se exceder em suas tarefas diárias, poucas vezes acreditando que seu legado era digno - o que fazia meu coração palpitar de receio. Ainda assim, Joon era uma figura forte; um homem-menino. Eram linhas mais complexas do que se poderia imaginar.
Os tons quentes nas pétalas das flores e o sol aqueciam as calçadas e os prédios de Seul. No apartamento, eu acariciava com uma mão os fios de Namjoon e com a outra, eu segurava meu livro de um de meus autores favoritos, sentada com o corpo na cama. Sob meu colo, sua cabeça estava apoiada, ouvindo atentamente cada palavra. Ele gostava de me ouvir traduzindo contos e poesias de escritores brasileiros. O fascínio que tinha me emocionava, eu nunca havia visto tanta curiosidade pelo que era diferente. Sempre louco por aprender, era bom de assistir sua vontade de entender as coisas, isso o transformava em alguém que significava bem mais do que uma mera aparência. Ele era belo. Não só por suas características físicas, mas por quem ele era. De dentro para fora, ele era a representação de um anjo.
— "[...] Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor."- Carlos Drummond de Andrade.
— Poderia ler outra vez? - Nam pedia, sorrindo. Suas covinhas apareciam, parte de minha fraqueza.
Dei um largo sorriso.
— Outra vez? Mas já é a 3ª vez que lemos esse poema, Joon - viro minha cabeça em sua direção.
— Eu sou apaixonado por esses poemas! Eles contam histórias, contam personalidades, traduzem o irracional inexplicável em palavras. Quem faz isso possui um dom muito nobre.
— Por acaso isso é um auto-elogio, Namjoon?!
— Talvez - ele riu. — Mas falando sério, esse autor é incrível. A capacidade que ele tem para falar de sensações humanas é excelente. Espero algum dia poder chegar no nível dele. Obrigado por ficar comigo e lê-los para mim!
— Se eu pudesse, eu faria isso todos os dias. Eu que agradeço por você se preocupar em me pedir para ler esses poemas...eu os leio desde bem pequena - eu folheei as páginas do livro por meus dedos. — Sempre admirei o jeito que ele conseguia usar as palavras para expressar sentimentos sem que tudo parecesse forjado, entende?
— Nenhum sentimento deve ser forjado, especialmente o amor! - Nam se virou para mim, apoiado com os cotovelos na cama, suas sobrancelhas arqueadas. — Se o ser humano é capaz de fingir sentir e então descreve mentiras, ele terá vendido sua alma ao diabo.
— E então isso se aplica à tudo e todos no mundo. Uma chance de entender a dor ou a alegria à flor da pele é uma dádiva única...eu acho um desperdício sem fim diminuir algo tão grande!Namjoon me olhava sorrindo. Era assim que eu sabia que ele concordava comigo. Nossa relação era baseada em perguntas, troca: carinho, poesia, pensamento. Nosso raciocínio poderia seguir o mesmo percurso quando necessário e isso era absolutamente estimulante, de todas as formas. O homem que me lembrava que a vida ordinária possuía uma extravagância única: o gosto peculiar das frutas, o som que folhas secas fazem quando chegam ao chão, o choro ao ter que dizer adeus, o infinito que podia estar presente no toque de duas mãos... o mesmo homem que me lembrava que o extraordinário merecia ser vivido e apreciado, de sua própria forma, fosse em alguma viagem ou aquisição - vez ou outra, ele apareceria para temperar a vida comum. Nunca na vida alguém havia se preocupado em me ensinar tanto, em me tratar tão bem - em crescer junto comigo. Sempre acreditei que o amor só seria puro quando aquele que eu amasse me incentivasse a ser a minha melhor versão, todos os dias, por mim. Acho que eu o encontrei.
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7 Shots (BTS)
Fanfiction(s/n) fic; 七槍; Um conto de amor simples para cada membro da BTS. Liberdade para imaginar e sentir como preferir. Os momentos citados aqui são lembretes para que você se lembre de não aceitar menos do que você merece. O amor se lembrará dos nossos m...