Seokjin

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As chamas ardentes do fogo, presentes numa pintura pendurada na parede, lembravam uma dança harmoniosa.

Jin, de cabeça baixa, fitava o plano de madeira, apoiado com as duas mãos na escrivaninha. As paredes em cores amenas do cômodo rejuvenesciam as canetas, os papéis e alguns fios espalhados pelo quarto. A poeira que a luz do sol transmitia quando se encontrava com o vidro da janela era parcialmente bloqueada por uma linha horizontal formada por seus ombros, cuja extensão larga atenuava-se com a blusa preta de mangas longas que vestia. O respirar de seu tronco movimentava o corpo ao mínimo, enquanto os lábios vermelhos permaneciam estáticos - somente o maxilar, afiado, rasgava a expressão serena.
Duas respirações, nada mais.
Meus braços, envoltos em sua cintura por trás, apertavam-na forte. Eu queria senti-lo perto de mim. Minhas mãos jaziam sob seu tórax, sentindo na palma as batidas que o peito retumbava. Ao olhar para cima, mesmo suas costas estando cobertas, eu podia projetar todas as marcas de nascença que ele possuía - uma a uma, as memorizei como se fossem constelações que indicavam coordenadas para seus sonhos mais íntimos, lugares que poucos tinham acesso. Meus dedos passeavam por um livro; era um universo inteiro diante dos meus olhos.
Em longos minutos, ele soltou uma de suas mãos da escrivaninha e a colocou sobre a minha, com muita calma. Sua respiração se tornou pesada. Endireitando sua coluna, abalado, quebrou o silêncio.

— Preciso ir - ele disse, soltando-se.

Deixei-o.
Vários pensamentos logo me consumiam a mente; era assustador pensar no tanto de vezes que piscávamos durante a vida. Quando se pisca, já passaram 30 minutos. Quando se pisca, fomos morar em outro país. Quando se pisca, já passaram 5 meses. Quando se pisca, o amor se lembra de nós. Quando se pisca, já passou 1 ano. Quando se pisca, o amor de nossa vida se perde. 1 ano. O tempo voa. E o quão traiçoeiro tudo isso poderia ser? Dera eu pudesse entender de uma vez que discussões tolas não levam a lugar algum...

O relógio não dormia, marcava 12h. Hora do almoço.

Respirei fundo.
Não havia me dado conta de que tinha estagnado por tanto tempo.

Descendo as escadas, eu não sabia dizer se encontraria Jin pela casa. Uma parte de mim pedia para que ele estivesse lá, uma outra dizia que eu deveria conceder-lhe espaço. Em conflito interno, eu pouco sabia por quem me guiar. Minhas mãos tremiam um pouco ao tempo em que eu andava me segurando no corrimão, esperando não chorar. Eu desejei, com todo meu coração, não ser tão sentimental como sempre fui.

Indo em direção à cozinha, me deparei com uma enorme bagunça: cebolas, pó de alga, macarrão, trigo, pepino, nabo, ovos, batatas, cogumelos e diversos outros alimentos.
Abri um largo sorriso. Jin havia passado por ali.

Em um instante, ele apareceu saindo da porta com uma pequena sacola, em mãos, com guarnições. Virei meu corpo em sua direção, um pouco assustada, ele havia saído e voltado muito rápido. Surpresos, por alguns segundos ficamos quietos, mas nossos olhos sempre reconheceriam um ao outro.

"Oi"
"Ah, Jin... o que foi que houve entre eu e você?

Pisquei rápido e abaixei minha cabeça.
Dei alguns passos para trás a fim de liberar a passagem da cozinha para ele. Levantei o olhar, aos poucos. Ele havia feito o mesmo. Rapidamente, se recompôs e pôs-se a cozinhar enquanto eu mal pude afastar-me.
De frente para a bancada de mármore claro, ele se concentrava em cortar alguns alimentos, a maioria ainda espalhados pelos cantos da cozinha, também clara. Seus braços moviam-se rapidamente ao uso habilidoso dos utensílios; um uso carregado de destreza e gosto pelo trabalho. Era fascinante observá-lo manuseando as diversas facas e garfos e colheres que insistia ter enquanto sobrevoava as bocas do fogão comum, temperava algo ali, provava algo aqui e assim por diante. Ele adorava dizer como a cozinha o relembrava dos tempos de criança em que cozinhava com sua família e de como aquilo o relembrava do calor de tempos mais simples. Ele ainda continha o amor de infância.
Por um momento, segurei o impulso de ir até lá e abraçá-lo. A discussão estúpida que tínhamos tido não parava de ecoar em minha cabeça. Lidar com outro alguém era realmente complicado.
Jin não parava de movimentar-se com panelas e tábuas, parecia até que estava um pouco... perdido. Mesmo eu estando ali de pé, assistir àquilo tudo me remetia à uma sensação muito, muito boa.

7 Shots (BTS)Onde histórias criam vida. Descubra agora