Taehyung

436 20 3
                                    

As gotas de chuva que escorriam pelo vidro formavam figuras irreconhecíveis, mas de algum jeito, lindas.

Tae, de braços cruzados, observava parado no canto direito da janela do apartamento, as gotas caindo em harmonia, inexplicáveis, fascinantes. A borda branca da janela casava com o roupão branco que usava, suas costas, agora maiores, bloqueando parte da visão externa da noite de Seul. Era quase uma pintura de tão bela que era a imagem. Quase surreal como, depois de 1 ano, eu ainda não tinha me acostumado com a projeção daquele menino alto na frente dos meus olhos. Era como ver dois opostos cara a cara, fogo e água dançando juntos sem se tocarem, a gentileza e a rigidez juntas, hipnotizantes.
Com meus olhos fixos, não conseguia parar de encará-lo. Ao me chamar, me tirou da hipnose num piscar de olhos, literalmente.

— Ei, está tudo bem? — Tae virou metade do corpo para mim, com os olhos grandes e brilhantes. — Dá para te ver pelo reflexo do vidro — ele sorriu.
— Está sim, eu estava só... te olhando — corei. Às vezes, uma pergunta simples nos pega num momento inoportuno.
— Admirando o Tae-Tae mais uma vez, né? Não estou surpreso, eu também o faria se fosse você! — movimentando os braços e os cruzando novamente, deu um sorriso largo.
— Ainda não sei como acabei com você...

Tae dá uma risada curta, mas muito gostosa de ouvir. Falar com ele era falar com uma criança. E que bom que era assim.

— A chuva me tira o fôlego — eu disse, aproximando-me dele e o abraçando, por trás, pela cintura.
— Ela é realmente linda, não sei porque ela me encanta tanto. Consegue me deixar em transe, acho que não do mesmo jeito que você ficou ali atrás, mas consegue! — virou a cabeça em minha direção, caçoando. — É maravilhosa, não? Desde o cheiro até o som. Pequenas coisas que fazem a gente feliz.
— Você é bobo, mas sabe que faz sentido? — caminhei para longe, debochando. — Gosto de olhar a chuva desde pequena, era um jeito de eu não me sentir sozinha. Não sei porquê, só era, acho que é ainda.

Tae me fitava delicadamente. Fitava de modo a parecer um acolhimento sútil. Virou-se, por fim, totalmente em minha direção e, descruzando seus braços, caminhou em passos largos e me abraçou. Abraçou forte.

— Você nunca mais vai estar sozinha, não se depender de mim. Você é importante pra mim, você sabe disso.

Afundada em seu peito, só me dei conta de abraçar de volta alguns segundos depois. Fazia algum tempo em que ele não me falava coisas tão diretas. Ainda assim, Taehyung poderia ser o que fosse, mas ele sempre viria para cuidar de mim, para me lembrar de algumas coisas quando eu mais precisasse ouvir. Esse era ele, pura e unicamente ele. Meu menino. Fiquei sem graça.

— Está tudo bem, são lembranças da minha infância. Já passou, já passou...

Tae passava, de leve, as costas da mão em meu rosto. Seu olhar dizia tantas coisas que eu não sabia como interpretar, eu só sabia que ele estaria ali para me proteger. Eu não precisava de proteção, mas... graças aos céus que ele estava ali comigo. Com as duas mãos em meu rosto, ele parou por uns segundos a me olhar. Até dizer alguma coisa.

— Vem, acho que está na hora de dormirmos um pouco. Você parece um pouco cansada, está gelada. Vamos para a cama.

Juntos, fomos eu e ele. Sereno era o jeito que ele estava levando tudo, aleatório, um pouco esquisito, mas mesmo assim as coisas estavam bem, as coisas estavam aconchegantes. Ele havia ficado fora por tanto tempo... senti falta de tê-lo do meu lado.
Bem maior do que o meu, um de seus braços me acolheu por cima e, com sua mão quente, me acariciava no rosto. Gentil, como sempre fora. A saudade que eu sentia no peito apertava e logo sumia, era bom tê-lo ali de novo. Sua outra mão puxava a minha por baixo das cobertas e as entrelaçava. Um "boa noite" e um beijo na testa foram conferidos a mim. Ele estava cansado, mas finalmente de volta.

7 Shots (BTS)Onde histórias criam vida. Descubra agora