Na hora de dormir, James enfrentou a mesma trepidação da noite anterior. Entrando no quarto de vestir, viu que as roupas e sapatos tinham sido removidos, e substituídos agora por tudo o que Louis tinha insistido em comprar para ele. Roupas e sapatos estavam bem arrumados em seus lugares. James pegou um pijama novo e vestiu.
— O que aconteceu com todas as outras roupas? — perguntou a Louis, quando ele saiu do banheiro.
Era inesperado vê-lo ali tão cedo. Estava ainda molhado do banho, com uma toalha enrolada na cintura. Parecia um gladiador romano! Sem dúvida devia haver algum gladiador entre seus antepassados.
O efeito daquele corpo sobre ele era embriagador e excitante. E o que é que ele podia saber sobre antigos gladiadores romanos? O pensamento o deixou curioso. Mais uma lembrança de seu passado.
Durante um momento, Louis ficou olhando as emoções que se entrecruzavam no rosto de James, sem revelar as dele.
— Achei que não ia mais precisar das roupas velhas. — ele respondeu, afinal. — Como sua vida agora vai ser diferente, James, achei que seria boa ideia remover qualquer coisa que pudesse recordá-lo do passado. As roupas foram dadas aos pobres. Se precisar de mais alguma coisa, podemos comprar na semana que vem, quando formos a San Francisco para a consulta com Dr. Mellon.
Ele sumiu em seu quarto de vestir, e James enfiou-se depressa na cama. Louis veio se deitar logo e adormeceu antes mesmo de o coração dele se acalmar. Durante longo tempo, James ficou ainda acordado sentindo nas narinas o aroma fresco da colônia que Louis usava.
...
Três semanas se passaram antes que se acostumasse a dormir ao lado dele sem ficar nervoso. Louis o mandava para o chuveiro primeiro, depois tomava banho enquanto ele se deitava. E assim que se punha na cama dormia instantaneamente. James logo descobriu que ele nunca roncava e que se virava pouco.
Várias vezes acordou com o braço dele em torno de seu corpo, como se ele o procurasse durante o sono. Todas as manhãs ele o despertava. E nunca comentou o fato de algumas vezes acordar durante a noite com James aninhado em seu ombro.
Na manhã seguinte à primeira viagem a San Francisco, James pediu para montar a cavalo com ele.
— Estou certo que a sua avó vai ficar aliviada de não ter que ficar tão perto de mim. — ele disse. — E eu gostaria muito de montar...
— Tem certeza que sabe? — Louis perguntou curioso.
— Você deve saber se eu sei ou não. Afinal, eu era... Eu sou seu marido!
— Sei muito pouco a seu respeito, James. Nunca me pareceu que valesse a pena descobrir mais.
James corou, mordeu o lábio olhando para ele. Estava decidido a não irritá-lo e manter a relação deles no relativo equilíbrio que haviam conquistado. Mas Louis continuava fazendo observações que o irritavam e desafiavam.
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Amnesia (l.s.)
Ficção GeralA única coisa de que se lembrava era do grito lancinante. Depois, mais nada. Nem quem era, nem de onde vinha; nada. Sua memória era um branco absoluto. Não reconhecia o homem que diziam ser seu marido e que ali mesmo, no hospital, o olhava com ódio...