6. Heal

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Tento me convencer que não é importante; de que o jogo ocorrerá da mesma maneira com eles aqui, me olhando e vendo cada deslize dos meus patins dentro do rinque. Mas só esse pensamento faz meu estômago revirar e eu me esforço para afastá-lo.

É a primeira vez que meus pais vêm ver meu jogo e isso me incomoda mais do que deveria,  fazendo o equipamento ter o dobro do peso e me fazendo parecer cansado antes mesmo de pegar meu stick nas mãos.

Cole está com um olhar inquisitivo em minha direção, como se perguntasse se está tudo bem, mas não sei o que responder. Talvez. Talvez não.

Antes de que o treinador Andrews me mande entrar no rinque olho em direção às arquibancadas por trás da grade proteção do gelo e pego um vislumbre loiro dos cabelos da minha mãe.

E se eu errar o passe outra vez? E se não marcar nenhum ponto? E se eles rirem de mim? E se...

— Você precisa relaxar. — Escuto uma voz do meu lado, que me faz dar um sobressalto por cima dos patins. Viro o rosto no mesmo instante, ainda esperando o segundo tempo começar para que eu possa entrar. É Kyle. — Você não pode entrar dentro do gelo e se esconder dessa vez.

Semicerro os olhos em sua direção e seguro o banco de reservas para me apoiar, enquanto fico de pé.

— Muito engraçado, Andrews. — Falo, tentando parecer calmo, mesmo que minha voz vacile de uma forma que me deixa com vergonha.

Kyle também está dentro de uma pilha de proteções e mal consigo ver seu rosto e corpo. O símbolo do nosso time está desenhado na blusa azul, os tacos encruzilhados em branco.  Acho que combina com a cor dos seus cabelos prateados.

— São seus pais, sentem sua falta. — Andrews dá de ombros como se fosse algo simples de entender e eu balanço a rosto para afastar os pensamentos sobre ele da cabeça e por um segundo também gostaria que ele entendesse meus pais. Como eles são agora. Tão esquivos quanto eu, com um ótimo talento em desaparecer e em como são bons em fugir de mim quando pareço prestes a cair.

Mas ele não entende. Nem eu, talvez.

— Evans, Kyle, que diabos estão esperando?! É a vez de vocês entrarem! Vamos, vamos! — o treinador Andrews grita e dá tapas nas minhas costas e na de Kyle, tentando nos motivar. Por um segundo, acho que Kyle parece esquivar o ombro instintivamente, mas não sei se foi só minha imaginação. Estou ocupando tentando fingir que não pareço prestes a sufocar.  — Acabem com eles!

Andrews só me deixou jogar o segundo tempo jogo de hoje porque ele quer me usar como arma nas finais da temporada. Não reclamo, mas fico pensando se é esse mesmo o motivo, enquanto deslizo até minha posição de atacante e Cole e Kyle vão para a zona de defesa, esperando o juíz jogar o puck no meio do rinque outra vez.

Pensamentos voam do meu cérebro, quando sinto o peso do stick colidir com a luva. Deixo a imagem dos meus pais ir embora, ou ao menos me esforço pra isso o máximo que posso.

Olho para frente vendo o time adversário se preparar, dentro do uniforme roxo com uma serpente desenhada e novamente, aperto minhas mãos ao redor do taco quando vejo o juíz se aproximando.

Encaro os olhos do outro capitão. São castanhos e parecem em chamas, mas tento não me reprimir com isso quando murmuro um "boa sorte".

Sticks colados outra vez, respiração funda, o frio gelado devido a pista e o treinador larga o puck no chão com o som agudo de um apito e o grito de ambas as escolas na plateia.

Ele toma o puck pela primeira vez, e por um milésimo de segundo fico sem entender o que aconteceu antes de me jogar em sua direção, passando da zona neutra da pista. O vento forte bate no meu rosto e meu patins desliza. Querendo ou não, Troy, o capitão do time adversário, parece bem mais rápido que Jackson, com quem veio treinando durante o último mês inteiro, mas tento não pensar nisso como algo ruim, e sim como uma motivação secreta.

Don't Say My Name - (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora