O som de Arctic Monkeys parecia prestes a explodir minha cabeça pelos fones de ouvido, em plena tarde nublada de domingo. Os tênis de corrida flexionavam meus pés no chão e a calça de moletom parecia querer torrar meu corpo apesar do clima frio.
Recentemente tinha descoberto a corrida como uma outra chave ou forma de escape da realidade, e estava começando a me acostumar a fazer bom uso dela.
Durante os fins de semana conseguia fugir de Samuel, de Sophie ou de qualquer pessoa do time e eu gostava da sensação de estar em um tipo de paz pessoal. Era simplesmente bom poder só correr, como se problemas em potencial não me perseguissem com facas flamejantes em mãos.
Não com um rumo específico ou tendo realmente o plano de chegar a algum ponto. Só o suor devido ao esforço físico, o vento no rosto, o calor do meu estômago pedindo para parar pareciam bastar. Gostava — mais do que ficaria orgulhoso em admitir — dá sensação de poder levar meu corpo ao limite.
E foi nisso que pensei durante todos os 40 minutos de corrida por Forestlake. Era um domingo de uma cidade pequena e gelada do Alasca, onde as pessoas não costumavam ligar para caras correndo com roupa de moletom pelas ruas porque elas aproveitam os fins de semana com a família em frente a lareiras quentes e almoços de macarrão com queijo.
E para mim aquilo estava tudo bem. Tinha decidido que havia parado de me encaixar nas linhas de famílias tradicionais mais ou menos 3 anos atrás, quando alguém, talvez, acidentalmente deixou a lareira queimar a casa inteira.
Mas não é isso que me surpreende no meio do caminho entre gramados aparados e casas com triciclos infantis na frente da sacada junto com metáforas de lares destruídos misturados com incêndios.
De imediato, arranco os fones do ouvido e os enfio no bolso do moletom, paro de correr gradativamente vendo o homem de terno na minha frente, com olhos tão azuis quanto os meus, ficar mais perto de mim.
— Aaron. — O cheiro do perfume exala e mistura com meu suor. Sua voz era impessoal, discreta e ao mesmo tempo áspera, como se ele estivesse falando com um estranho. A única coisa que tínhamos em comum é que eu parecia me sentir da mesma forma.
Tento não levar esse pensamento a sério e não encará-lo como um possível motivo para voltar a sair correndo dali, e simplesmente respiro fundo buscando ar no fundo dos pulmões.
— Oi, pai.
Ele fez uma menção discreta de pôr as mãos em meus ombros mas me afasto instantaneamente, fazendo seu olhar vacilar por alguns segundos. Não sabia o que fazer. Correr mais? Ficar parado encarando-o? Parecia tudo tão sem sentido.
Olhei pro lado, tentando achar uma maneira de sair dali, mas a nossa casa parecia prestes a derreter e evaporar também. Deveria ter passado mais tempo correndo. Ou tempo suficiente para não encontrá-lo aqui.
— Sinto que não passamos muito tempo juntos. — Meu pai deu de ombros e eu assenti com a cabeça. — Você já terminou de... Correr? Podemos tomar um café, quem sabe?
Droga.
— Não gosto de café. — Dei de ombros também, minhas bochechas queimavam e minhas mãos suavam mais do que antes. Ele ainda não tinha se dado por vencido e parecia longe disso.
—Sem problemas! Podemos entrar e tomar algo, refrigerante, chá, não importa... Tudo bem, o seu tio deixou a chave comigo. — enfiou a mão num dos bolsos do terno azul marinho e puxou um pingente com um molho de chaves juntos.
Por um segundo, amaldiçoei Sam internamente. Meu pai começou a andar firmemente dentro de seus mocassins de aparência cara e eu o segui enquanto subia os degraus para chegar na varanda. No caminho, também peguei o celular no bolso do meu casaco, desplugando-o dos fones de ouvido ainda com as iniciais do Kyle que eu havia esquecido de devolver.
![](https://img.wattpad.com/cover/154888051-288-k555007.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Don't Say My Name - (HIATUS)
Teen FictionAaron Evans tem tudo o que um adolescente no ensino médio adoraria ter: uma namorada fantástica, o título de capitão do time de hóquei e pais ricos. Mas no entanto, a cada segundo que passa, ele começa a odiar mais a si mesmo, se colocando em situaç...