É um antigo parque abandonado há 4 quadras de casa. Frio e esquisito, com balanços e gangorras enferrujadas que lembravam vagamente um filme de terror bizarro.
Sam está de plantão. Sophie parece ocupada trabalhando fielmente em me ignorar e eu... Eu estou dentro do Atlas. Há pelo menos algumas horas desde que estacionei, encarando o vidro do carro como a visão mais interessante que terei na vida.
Acho que estou passando pela negação. Negação parece uma boa palavra, porque me nego a aceitar aquela situação completamente ridícula. Não chorei. Não acho que vá. Só consigo me preocupar em achar uma posição confortável o suficiente para dormir dentro do carro. Com as pernas estiradas no banco do passageiro, cabeça encostada no vidro e o tronco todo desajeitado.
Faz frio, mas sei que o aquecedor está no máximo. O rádio toca uma música chamada "You're Somebody Else", e eu nunca ouvi antes. Ninguém passa pelo parque, então, pela primeira vez eu puxo o celular do bolso com a intenção de olhar as outras mensagens e disfarçar a sensação de frio.
Primeiro, faço certo esforço para ignorar a de Sophie, em especial, que parece um letreiro berrante de néon na minha caixa de entrada. Nunca achei que poderia odiar tanto seis letras estúpidas, mas agora sei que posso. Sou capaz de atrair e fazer uma pilha de coisas que tem um incrível potencial de me destruir.
Mas ignoro. Ignoro bem, até.
Além da mensagem de Sophie há sete mensagens de Kyle. Uma de Jackson e três de Bruce.
Bruce me mandou três fotos de um jogo novo que tinha comprado, acompanhada de um pedido para eu ir vê-lo.
Jackson perguntou se eu estava bem e se tinha falado com a Sophie. Não quero dizer que ela terminou comigo e que estou pseudo-lidando com isso dormindo dentro do meu carro. Então, sabiamente, ignoro a mensagem depois de visualizá-la.
E, as de Kyle. Que em ordem, são:
"Ei, faltam 10 minutos. Não esbarrei com sua aura fascinante em nenhuma das aulas. É sem dúvidas fora do habitual."
"Aliás, meu casaco e meus fones estão com vc, pode trazer hj? Obg ;)"
"Aaron, você é o protagonista, precisando da sua contribuição no momento"
"3 minutos"
"Está tudo bem?"
"Desculpe ter esbarrado em você."
"Se precisar de algo, me manda uma msg"
Não mando uma mensagem. Fico encarando a tela pelo que parece uma eternidade. Sua foto ainda é a do cachorro sorridente e rosto animado. Por que ele parece bem enquanto eu estou dormindo no meu carro por não conseguir entrar em casa? Deveria ser injusto. Eu deveria estar em casa. Mas meus pés parecem pesar como cimento.
Continuo olhando o Kyle sorridente na manhã tela, e então, por impulso, aperto no ícone verde do lado do seu número. Ponho o celular no ouvido e puxo a manga do casaco azul para cobrir meus dedos gelados. Noto que ainda é o casaco dele e que o cheiro de amêndoas já saiu quase completamente, mas não é como se fosse a coisa mais importante que tivesse acontecido no dia. Só parece... Vazio.
O celular chama. Quatro vezes. Olho para o relógio do carro e são uma da madrugada. Penso em desligar porque acho que irei acordá-lo a essa altura, mas já é tarde demais quando escuto uma voz grogue do outro lado da linha.
— A- — Bocejo rouco. — Aaron?
Poderia desligar imediatamente. Deveria desligar imediatamente. Poderia voltar pra casa e deitar na minha cama que é dez vezes mais confortável que um banco de couro duro. Poderia deixar isso passar e ignorar o fato de ter um talento realmente admirável em estragar as coisas. Mas não faço nada disso. Não faço nenhuma das coisas que sei provavelmente deveria.
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Don't Say My Name - (HIATUS)
Novela JuvenilAaron Evans tem tudo o que um adolescente no ensino médio adoraria ter: uma namorada fantástica, o título de capitão do time de hóquei e pais ricos. Mas no entanto, a cada segundo que passa, ele começa a odiar mais a si mesmo, se colocando em situaç...