CAPÍTULO QUATRO

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Dominique acordou sobressaltada e com a sensação de que Charles estava em casa. Ela podia ouvi-lo andando na cobertura.

Imediatamente, sentou-se na cama, arrumando os travesseiros atrás dela e pegando um livro que havia caído de suas mãos ao adormecer. Ela tentou ficar acordada à espera dele assistindo a dois filmes na televisão, e, depois, lendo um daqueles romances de suspense que tinham como pretensão fazer com que você ficasse acordado até a última das suas quatrocentas páginas. Mas este não fazia o seu gênero, e ela cochilou antes de chegar à página vinte.

Uma olhada rápida no despertador, que marcava uma e dez da madrugada.

Não muito tarde, pensou. Muitos homens jogavam pôquer toda a noite. Ela já havia escutado a respeito.

Mas nem todos os companheiros de pôquer de Charles eram homens. Um deles era a bela senhora Renée Selinksy, uma viúva rica e dona de uma das mais famosas agências de modelos de Sydney, chamada simplesmente "Renée's".

A primeira vez que Dominique encontrou a senhora Selinsky foi nas corridas, uma semana antes do casamento, e ela se sentiu um pouco perturbada ao pensar a partir do momento em que a lua-de-mel acabasse, Charles passaria várias horas na companhia de Renée toda sexta à noite. A mulher não era somente impressionante de se ver, mas muito inteligente e, aparentemente, livre. Nunca tinha levado nenhum parceiro às corridas, ou ao casamento deles, deixando Dominique ciente do fato de ela ser livre e desimpedida.

A primeira vez que Dominique sentiu ciúmes foi quando viu Charles e Renée conversando na festa do casamento, que foi oferecida ali, na cobertura dele. Os dois estavam no terraço conversando intimamente e, de repente, Dominique teve a impressão de que ambos eram mais do que amigos.

Quando ela lhe perguntou sobre isso mais tarde tentando aparentar interesse e não ciúme, ele lhe contou mais sobre o seu relacionamento com a impressionante Renée. A notícia de que eram amigos há cinco longos anos, e que ela se mantinha viúva durante todo aquele tempo, não satisfez Dominique. Nem o comentário feito por seu marido, em tom de brincadeira, de que Rico a chamava de viúva alegre.

O apelido dava a entender que ela havia adotado um estilo de vida ousado desde a morte de seu rico e idoso marido. Apesar do jeito um tanto altivo de Renée, Dominique calculava que a alegre viúva provavelmente tivera tantos amantes diferentes naqueles cinco anos quantas as ações que ela tinha nas corridas de cavalos. O fato de não ter um parceiro público, ou permanente, não era garantia de celibato nos dias de hoje. Dominique começou a pensar que talvez Charles a tivesse levado para a cama alguma vez. Não parecia somente plausível, mas lógico, uma vez que jogavam cartas juntos toda semana. Continuar jogando cartas na cama depois, em um daqueles convenientes quartos de hotel, não era uma idéia tão absurda.

Este foi o pensamento que mais chateou Dominique, e não o fato de Charles ter ido ao seu jogo de pôquer naquela noite. Ela teria ficado muito mais feliz se seus camaradas de jogo fossem todos homens.

Mas ela não diria isso a seu marido. Dominique estava determinada a não se deixar levar pelo ciúme, o que não somente era novo para a sua natureza, mas também altamente perturbador para seu psiquismo. Mulheres e esposas ciumentas amavam muito, e amar muito alguém era perigoso e, às vezes, mortal. Dominique não queria nada de emoções excessivas.

Ela não conseguia parar de amar Charles. Havia tentado arduamente, mas falhou por completo. De forma inflexível, se recusava a deixar que o ciúme a dominasse por completo.

Contudo, Dominique se via absorvida pelo fato de Charles não vir para a cama. Com o livro de romance em suas mãos, desejava saber o motivo da demora. O que o estava detendo? Certamente, ele viu a luz por debaixo da porta, e sabia que ela o esperava.

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