CAPÍTULO NOVE

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Dominique estava orgulhosa da mesa que arrumara e da refeição que havia preparado. Aquele curso de culinária que fizera, finalmente, tinha sido útil. Até agora, não tivera a oportunidade de cozinhar para Charles, exceto no café da manhã. E, dificilmente, teria precisado fazer um curso tão avançado, culinária internacional, para preparar uma comida tão simples. Afinal de contas, ela cozinhava desde os treze anos.

— Isso parece maravilhoso, Dominique — disse Charles. —Não sei por que, mas não me sinto vestido adequadamente para a ocasião.

— Gosto de você do jeito que está — ela complementou enquanto ambos se sentavam, um em frente ao outro, à mesa de vidro que se encaixava perfeitamente na alcova da sala de jantar, em formato hexagonal. Três das cinco paredes ao redor eram de vidro, através do qual se podia ver a cidade abaixo, com suas luzes brilhantes e as ruas movimentadas. Sábado à noite era o que havia de melhor em Sydney, os vários teatros e restaurantes atraíam muitas pessoas.

— Você tem o corpo certo para jeans - ela continuou. — Alto e magro, com pernas longas e um traseiro bem justinho. Gostoso.

— Dominique! Francamente!

— Você está vermelho — disse rindo e implicando com ele.

— Você está, deliberadamente, tentando me deixar sem graça?

— Acha que eu faria isso? — Riu novamente.

Se Charles tinha um defeito, era a tendência a ser um pouco formal. Graças a Deus, ele não havia sido formal no último dia. Não na cama, nem fora dela.

— Não sei — retrucou.

Ela piscou surpresa com o tom estranho na voz dele.

— O que quer dizer?

Ele pegou o copo de vinho, o qual ela já havia enchido com o maravilhoso Margaret River Chardonnay, fresquinho.

— Tenho pensado o quanto nos conhecemos tão pouco.

Todo o corpo de Dominique estremeceu, o pânico tomou conta até ela compreender que Charles não tinha pensando nada sinistro a seu respeito. Ele estava degustando o vinho e parecia muito relaxado. Seu recuo automático diante da constatação dele ressaltava o fato de que, não importava o quanto feliz e segura estivesse com relação ao amor de Charles, no fundo, sempre estaria preocupada que ele descobrisse a verdade sobre o seu passado. Como poderia explicar a pessoa que tinha sido antes de encontrá-lo? Ou a mentira sobre o passado da sua família?

Ela não podia. Essa era a verdade. E a incessante preocupação.

Ao menos ela estava longe do seu passado. Charles nunca seria capaz de convencê-la a voltar a Melbourne ou à Tasmânia. Nunca! E Charles não era o tipo de andarilho, ou de viajante, mesmo com os seus interesses comerciais. Homem inteligente, contratava pessoal de alto nível, e então delegava funções. Recentemente, admitiu que não saía do estado há anos, apesar da Cerveja Brandon ter um escritório em Melbourne. Agora que ele havia se casado, e estava prestes a se tornar um pai de família, se fixaria ainda mais em Sydney. A chance de ele encontrar alguém do passado dela que a pudesse desmascarar era mínima.

Não, ela estava ficando paranóica novamente. O que tinha a fazer era sustentar suas histórias originais e tudo ficaria bem. Não ganharia nada confessando toda a verdade. Ele, simplesmente, nunca entenderia.

Mesmo que ele viajasse a Melbourne, quem estaria lá que pudesse saber alguma coisa de concreto? Alguns poucos velhos colegas de trabalho e companheiras de apartamento a quem ela foi idiota de contar alguma coisa na ocasião. Jonathon, certamente, não era um perigo. Ele, de jeito nenhum, falaria dela de forma depreciativa. Havia sido o culpado pelo fim do relacionamento, não ela.

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