CAPÍTULO DEZ

188 3 0
                                    

— Se você gosta tanto, é sua.

Dominique saltou de alegria, babando, pela cozinha toda branca, seus olhos surpresos. Enquanto ela havia gostado de tudo na casa, não somente da cozinha Charles parecia não se importar com nada.

— Verdade? Mesmo sabendo que você vai ter que cruzar a ponte para ir trabalhar?

— Vou tolerar esta inconveniência.

Eles tinham olhado várias casas, nos bairros da região leste, durante toda a manhã e nenhuma agradou Dominique. As casas ou eram muito grandes ou muito pequenas. Depois do almoço numa cafeteria da cidade. Charles sugeriu uma troca de imobiliárias. Desta vez uma senhora viera para ajudá-los.

Seu nome era Coral, estava na faixa dos quarenta anos e era inteligente o suficiente para estar mais interessada no que a esposa pensava do que na opinião do marido. A primeira coisa que fez, antes de lançá-los de volta às visitas, foi pedir a Dominique para descrever o seu ideal de casa perfeita.

Dominique desatou a falar os requisitos da lista que sabia de cor. Pelo menos quatro quartos, sendo que o quarto principal deveria ter um closet e um banheiro espaçoso, um escritório para Charles, um saguão e uma sala de jantar, ambos para entretenimento. Queria uma sala grande para reunir a família e uma cozinha, também grande, que desse para um jardim com uma piscina com teto solar e um quarto para as crianças brincarem. Queria ainda duas vagas na garagem e um estacionamento para visitantes. Dominique acrescentou que, em termos de arquitetura e decoração, ela preferia ambientes claros, linhas simples, tetos altos, muitas janelas, sem escadas e sem cores brilhantes. Oh, e com sistema e refrigeração central, se possível.

Quando perguntada se queria vista para o porto, Dominique recusou a idéia. Embora parecesse muito bom, notou ao visitar várias casas com vista para o poro que os jardins e as varandas eram, invariavelmente, lugares onde ventava muito e também faziam frio.

Ela pensou que seria um projeto difícil, mas Coral a levou direto a uma propriedade em Clifton Gardens um bairro na região norte, não muito longe da ponte e, lá estava, parecia que um gênio havia feito a casa aparecer a partir do que Dominique descrevera. Tudo estava lá. Absolutamente tudo, inclusive o sistema de refrigeração central. Até a fachada da casa, de um andar, era favorável, sendo cimentada e pintada na cor creme com remates pretos ao redor das janelas e das calhas. Uma aparência clássica e elegante.

Melhor ainda, estava vazia e o dono queria resolver a situação o mais rápido possível. Ele era um apresentador de TV e tinha, recentemente, arranjado um emprego em Hong Kong. Ele e a família tinham ido embora há alguns dias e o lugar ainda cheirava a casa limpa. E também proporcionava uma sensação de lugar feliz.

Dominique ficou surpresa quando este pensamento veio à mente. Ela não acreditava em fantasmas, ou superstições, ou atmosferas. Sempre foi uma pessoa pragmática e muito prática. Casas não tinham almas — ou emitiam cheiros —, na opinião dela.

Esta casa parecia boa.

E ela falou muito nisso para Charles. Ele sorriu para ela.

— Se você acha isso.

— Sim, aquela casa era muito grande — brincou, imitando a voz de uma menininha. — E aquela outra era muito pequena. Mas esta é simplesmente perfeita.

Dominique e Coral riram.

— Seu marido tem senso de humor — disse Coral.

— Seu marido está cansado de procurar uma casa —disse Charles, secamente. — Podemos ir embora agora se eu prometer que a primeira coisa que vou fazer amanhã é depositar o sinal para a compra desta casa?

VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora