AURORA

Sra. Brooks

Ela estava gritando. Ela costumava fazer isso quando éramos só eu e ela no apartamento. Ela gritava de um lado da sala, eu quebra a algo valioso do outro. Era nossa tradição semanal. As vezes algum vizinho reclamava, outras nós só batíamos a porta bem forte porque ainda não estava claro o quão furiosa nós estávamos uma com a outra.

Mas essa discussão foi muito mais memorável, talvez porque tenha sido a última naquela linda cobertura no sul da França, ou porque, no dia seguinte, ela me despachou para um colégio interno num lugar perdido da Noruega.

– Eu já disse que não tem mais discussão. Você atingiu o limite! – ela trincava os dentes quase babando como um cachorro furioso – Você vai e acabou. Eu não posso tomar conta da empresa e ficar o tempo todo me preocupando com qual vai ser a sua próxima atitude inconsequente.

– EU. NÃO. VOU! – minha mão agarrava o vaso feioso que tínhamos sobre a mesa e levantava sobre o chão – Eu não sou uma das suas decorações que você pode ficar me mudando de casa o tempo todo. A gente já se mudou duas vezes esse ano.

– Não se atreva a largar esse vaso, AURORA!

Ela deu um passo à frente, mas recuou quando ameacei soltar. Ela respirou fundo antes de continuar.

– Você vai para esse colégio e não vai nunca mais precisar se mudar comigo.

– Eu nem falo Norueguês!

– Não seja idiota. Ninguém fala norueguês, as aulas são em inglês e você vai aprender a língua rápido, você disse o mesmo quando mudamos pra Itália.

– Péssimo argumento, Tia – então levantei um dedo de cada vez.

– Não!

O vaso caiu se estilhaçando em vários pedacinhos.

Minha Tia respirou fundo outras vez. Ela tinha uma face calma, mas completamente vermelha de ódio.

– Seu voo é as 3 pm. O carro te buscar 1 pm – ela então passou por mim e caminhou o corredor em direção ao quarto dela.

– Eu não vou! – dei meu último grito antes de escutar a porta bater com força.

1 pm: eu estava arrumada, penteada e empacotada. 

3 pm: eu estava no avião.