Velas acesas

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Nasci numa noite de janeiro pouco depois das 9. O parto não foi normal, minha mãe não tinha tempo para surpresas. Tudo foi agendado seis meses antes e reagendado dois meses depois, minha mãe tinha uma reunião importante pela manhã impossível de adiar.

Uma vez que a pequena Aurora nasceu, foi levada para uma cobertura no Chelsea e entregue aos cuidados de uma babá, uma das 13 que passariam por sua vida. Não que seus pais fossem monstros apáticos que não se importassem, eles amaram aquela minúscula pessoa cheia de potencial, tanto potencial que no dia após o nascimento, fizeram um testamento que garantiria que todo esse potencial seria explorado.

Eu não me lembro desse tempo, o que tenho são algumas gravações que meu pai fez e as palavras daqueles que lembrar e contam que éramos uma bela família feliz. Minha mãe gostava de cantar para eu dormir, meu pai gostava de me levar ao parque pela manhã. Nos meus três primeiros anos, passei por 12 países enquanto meus pais se reunião com empresários e construíam seu império. Meu aniversário de um ano foi celebrado num quarto de hotel em Dubai dividindo as alegrias com o fechamento de um contrato que meus pais buscavam fechar há 2 anos. Me disseram que meus primeiros passos foram dados em nossa casa de campo no final do outono quando as folhas já cobriam o chão, meu pai gravou a cena, alguns minutos depois, ele gravou minha mãe reagindo às imagens de sua pequenina dando os primeiros passos. Havia um orgulho em seus olhos, um sorriso de completa satisfação. Minha primeira palavra teria sido "cate" de abacate, não existem gravações para provar, mas minha tia conta que estávamos na casa dela quando soltei a palavra.

Meu primeiro dente caiu no parque, era um dente de leite fora de época, cai do alto de um dos brinquedos e quebrei. A fada do dente nunca veio, só a informação de que magia não existe e se você quer algo tem que ir atrás, não deixe para os outros o que só você pode fazer bem.

Eu nunca esperei pelo Papai Noel ou pelo Coelho da Páscoa. Não comemoramos o Natal, mas meus pais me davam presentes quando eu pedia, não em meu aniversário, porque nascer não era um mérito meu.

Algumas pessoas acham que eles eram frios e cruéis, que eram distantes. Eu nunca soube dizer ao certo. Eles eram, ao mínimo, peculiares, por mais babás que eu tivesse tido, eles sempre me levaram para todos os lugares onde iam e garantiram que eu tivesse a melhor educação possível. Tenho algumas boas lembranças com eles, lembro de certo carinho em seus olhos enquanto contavam um história de dormir, mas também sei da apatia deles perante o mundo, da forma como estavam dispostos a tudo para chegar onde queriam. Escuto sempre as pessoas os definirem como o casal mais apaixonado que já conheceram e, ao mesmo tempo, o que menos se importava em como suas ações atingiam outras pessoas.

Eu não sei se foram boas pessoas ou más, se eu os culpo por não ter aprendido a celebrar meu aniversário ou se os agradeço. Não os conheci como outras pessoas tiverem a oportunidade, eles foram só meus pais e fui feliz enquanto eles estiveram vivos. Não senti falta de soprar uma vela ou de enviar cartas ao polo norte.

Eles só foram meus pais, só isso, os únicos que tive. Algumas vezes me pergunto como teria sido minha vida se eles não tivessem pegado o avião naquele dia.

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