Aurora e Brooks

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"Fofinha" pensou Brooks observando a bebê no colo de Baker. O olhar do minúsculo ser humano encontrou o seu e se fixou por alguns instantes. Um pequeno sorriso surgiu em seu canto de boca. "Fofinha parece um adjetivo adequado".

Se aproximou olhando mais de perto, cheirava a fraldas e shampoo de bebê.

– Posso segurar? – Brooks perguntou ao cunhado que claramente não queria largar a filha. Desde o dia em que a pequena nasceu ele tinha um olhar encantado que não saia de seu rosto.

– Claro – respondeu e com cuidado estendeu sua pequena Aurora colocando-a nos braços de Brooks.

Brooks encarou a pequena. Aqueles olhos enormes cheios de fofura deveriam derreter qualquer coração. Aurora a encarou de volta colocando a língua para fora de forma curiosa. O que se passava na cabeça daquele pequeno ser?

– Você devia levar ela pra conhecer a mamãe e o papai – Brooks comentou sabendo que seria retaliada.

Ashworth olhou para a irmã revirando os olhos não querendo entrar na discussão, mas não pode enviar sentir uma raiva queimando dentro de si. Baixou o olhar sem dizer nada, voltou a arrumar a mala da pequenina.

– Eles não foram bons pais para você – Brooks insistiu sabendo o quanto seus pais queriam conhecer a minúscula garotinha – mas podem ser avós bons se você der uma chance a eles.

– Quando eles me expulsaram de casa e me deserdaram foi o dia em que eles perderam qualquer chance de fazer parte da minha vida.

Ashworth conteve o fogo que queria se espalhar e tomar conta de tudo. Eles tinham a machucado demais, não tinha interesse algum de tê-los em sua vida, muito menos na de sua filha. Afinal, eles deixaram bem claro que sangue não significa nada.

– Nosso pai está doente, você sabe disso. Ele pode não ter muito tempo a frente. Nossa mãe vê fotos de você nos jornais e por mais que não admita, quer que você ligue. Eles têm o direito de conhecer a neta.

– Direito? – a palavra foi a gota d'água, se algo de vidro estivesse por perto, com certeza teria sido destruído naquele momento – Eu tinha 18 e eles me tiraram o teto porque não aprovavam uma decisão minha. Eles não me deixaram com uma moeda se quer. Eles são seus pais e não têm direito de conhecer a minha filha. Ela não é neta deles e nunca vai ser.

Ashworth saiu da sala deixando a porta entreaberta atrás dela. Engoliu a lágrima de raiva que estava prestes a cair. Pegou uma das almofadas sobre o sofá do escritório e gritou libertando seu ódio.

Eles nunca conheceriam sua filha. Não depois do que fizeram. Por muito tempo, havia esperado um pedido de desculpas, não por tê-la deserdado, mas por terem a apagado, por terem esquecido que eram pais, por terem privado ela de uma família.

Ela não devia nada a eles, eles não tinham direito algum e se alguém deveria ter alguma iniciativa eram eles, de vir até ela e implorar perdão, não enviar um mensageiro com exigências.

Brooks buscou ajuda nos olhos de Baker, mas sabia que não conseguiria. Os dois eram exilados, deserdados. Nenhum deles queria laços com a família que havia os renegado.

– Ela nunca vai concorda, nem pensar sobre isso – Baker disse passando a mão na cabeça de sua filha – Se eles viessem implorar o perdão dela de joelhos, ainda há uma chance dela fechar a porta na cara deles.

– Isso é ridículo. Ela se divorciou daquele idiota que fez ela ser exilada. No fim das contas, nossos pais estavam certos.

– Brooks, você é irmã dela, então vou ver delicado. Ela estava certa o tempo todo em todas as decisões que tomou pra vida delas. Seus pais foram cruéis e a puniram de uma forma desproporcional e desnecessária. Eu não vou aceitar que você fale dessa forma da minha esposa dentro da nossa casa.

Brooks engoliu em seco. Não era o momento de começar uma discussão, muito menos uma que não venceria. Baixou a cabeça olhando a bebê mais uma vez.

Ashworth voltou atravessando a porta como um tornado. Colocou um bolo de documentos sobre a mesa e uma caneta sobre eles.

– Eu pedi para você vir aqui só para assinar isso. Não vou discutir sobre seus pais – Ashworth virou as páginas abrindo em uma com a marcação – Eu preciso saber que se algo acontecer, minha filha vai estar segura e vai ser criada da forma que eu faria.

– Eu só acho que você vai acabar se arrependendo  – Brooks devolveu a pequenina aos braços do pai – E quando ela quiser conhecer eles?

– Ela vai saber desde sempre que tipo de pessoas eles foram, isso não vai ser uma preocupação. Além do disso, existe uma cláusula deixando claro que eles não podem se aproximar dela até ela completar 18. Não se preocupe, eu cobri todas as possibilidade para que ela tenha a melhor vida possível – ela apontou para o documento massivo – e se você não quiser se comprometer a ser a guardiã dela, eu vou encontrar outra pessoa.

Deu dois toques na mesa esperando uma decisão da irmã.

Brooks só suspirou sabendo que era inútil discutir com Ashworth. Ela era teimosa e não
dava o braço a torcer. O rancor que guardava era combustível para ganhar essa luta contra seus pais. Ashworth queria fazê-los se arrepender e chagar ao túmulo com uma culpa a qual ela nunca os livraria.

Aurora deu uma pequena gargalhada para o pai. A tensão no ar sentiu um pequeno alívio.

Por um segundo, Brooks imaginou a ideia de um dia ter que cuidar dela e sentiu um calafrio. Não queria ser mãe, muito menos cuidar de uma criança que não era sua. Era uma grande responsabilidade.

Pegou a caneta sabendo que era só um papel. Eles era terríveis e pessoa terríveis vivem muito. Não havia com o que se preocupar.

Não havia.

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