Capítulo 24

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Tomar a decisão de algo relativamente grande dessa forma estava mais difícil do que sempre imaginara. Tinha seis dias e poderia ainda não aceitar após a reunião, caso fosse fazê-la, porém, estava inconscientemente pressionando a si mesma para tomar essa decisão o mais rápido possível. De um lado dava vontade de suspirar só de se imaginar na frente de uma sala de aula falando de uma das coisas que mais a fazia feliz, era uma porta aberta para um sonho se realizar. Do outro lado, seu coração apertava ao pensar que sete meses longe poderia trazer mudanças que não gostaria que acontecesse. Olhar Vitória ressonando em seus braços com nítidos sinais de cansaço seria capaz de fazê-la facilmente abrir mão de qualquer coisa. Não imaginava um dia sequer em que a cacheada não estivesse bem e não pudesse estar presente para fazer qualquer coisa para fazê-la melhorar, nem que fosse só estar ali em silêncio, a mantendo próxima ao seu corpo numa tentativa de transmitir segurança. Inalar o cheiro do condicionador de Vitória, a fez desejar, como em todas as noites, não precisar nunca mais sair dali.

O mesmo desejo se fez presente quando, ao tentar se mover na cama, Vitória percebeu que seu corpo estava envolto por dois braços que a abraçavam de um modo que parecia que não a soltaria nunca mais. Não se importaria se isso realmente acontecesse. Virou devagar seu corpo, sem tirar os braços de Ana de sua cintura, e aconchegou mais seu corpo no outro. Seus lábios involuntariamente formaram um pequeno sorriso ao sentir o arrepio causado pela respiração da morena em sua nuca. Ainda era inacreditável a paz que aquela mulher trazia para si. Teve a sensação de que o despertador tocou assim que fechou os olhos novamente. Esticou-se para alcançar o celular sobre o criado-mudo e ouviu Ana murmurar algo e apertar mais os braços em torno do seu corpo.

— Desliga. — Murmurou de novo.

— Se você deixasse...

Ana a soltou, lhe permitindo alcançar o celular e desligar o despertador. Voltou para mais perto, ficando de frente para a morena, acariciando seu rosto com as pontas dos dedos. Era tão bom poder se apaixonar pela mesma pessoa todos os dias e cada dia mais. Ana despertava em si coisas tão puras que antes só conhecia de ouvir falar.

Horas depois acordou com a claridade do quarto mesmo com as cortinas. A respiração pesada de Vitória atrás de Ana lhe confirmou que ainda dormia e não dava sinais de que acordaria tão já. Sem sair da posição em que estava, alcançou o celular sobre o criado-mudo do seu lado da cama, abrindo a conversa onde havia um maior número de mensagens.

Sis: "Já conversou com ela?"

Sis: "Tenho certeza que não."

Sis: "Já disse que você é mole?"

Sis: "Patinha, é Milão!"

Sis: "Me ligue depois porque eu preciso berrar no seu ouvido para você entender o tamanho dessa oportunidade."

Bárbara com essas e o restante das mensagens só a ajudou a ficar ainda mais apreensiva. Havia dito que só teria a resposta após uma conversa com Vitória, precisava saber o que ela pensava sobre. Tirou o braço da cacheada de sua cintura devagar para não acordá-la e levantou-se da cama deixando o celular sobre o criado-mudo novamente. Tinha trabalho a ser feito na grife, porém, como havia pedido a Vitória para que ficasse, não sairia enquanto a mesma ainda estivesse dormindo e nem a acordaria para se despedir, a intenção era deixá-la descansar.

Ao entrar no banheiro e encontrar vários pertences seus sobre a bancada se deu conta do quão longe haviam chegado em tão pouco tempo. Apreciava demasiadamente a maneira como tudo era tão simples entre elas e coisas que para alguns poderiam ser consideradas um grande passo dado, eram totalmente comuns. Dividiam a vida com tanta naturalidade que nem se lembrava como e quando isso começou. Ouviu um dos celulares tocar no quarto e saiu do banheiro o mais rápido possível para que Vitória não acordasse com o toque, porém, não foi rápida o suficiente.

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